"A hora mais escura", com cinco indicações ao Oscar, que estreia no dia 15 de fevereiro no Brasil, joga luz sobre os bastidores da operação dos EUA que levou à morte de Osama Bin Laden em 2011. Ao mostrar a operação com detalhes - inclusive em cenas de tortura - até hoje pouco esclarecidos ao público, o filme de 2h37 se apoia mais no interesse histórico do que em sua força dramática.

A pesquisa da diretora Kathryn Bigelow e do roteirista Mark Boal (vencedores do Oscar em 2010 por "Guerra ao terror") na Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) levou senadores republicanos a criarem um comitê para saber se eles tiveram acesso inapropriado a segredos militares. Produtores do filme culparam a pressão destes senadores pela ausência de Bigelow na indicação em direção no Oscar, apesar da presença do filme em sua categoria.

A pesquisa de Bigelow e Boal chega à tela na figura da personagem central Maya (Jessica Chastain, indicada ao Oscar pelo papel), jovem agente levada pela CIA direto da escola às investigações. Por 12 anos, seu único objetivo foi encontrar Osama Bin Laden. 

Assim como o seriado "Homeland", o mais premiado hoje nos EUA, "A hora mais escura" tem como protagonista uma mulher sagaz que briga ao mesmo tempo contra o terrorismo e a desconfiança de homens engravatados na CIA. Mas enquanto Carrie (de "Homeland") é emotiva e desequilibrada, Maya é fria e segura - demonstra entrega total a emoção apenas na última cena do filme -, não pega em armas nem se envolve em reviravoltas inverossímeis.

A jovem agente não se abala nem nas cenas de tortura. "Seu amigo é um animal", diz o prisioneiro torturado Ammar (Reda Kateb) a ela no início do filme. "Você pode ajudar a si mesmo dizendo a verdade", ela responde. A violência contra prisioneiros é um dos métodos que leva, no filme, ao objetivo da investigação. Por isso a obra foi acusada de ser pró-tortura.

"Quem trabalha com artes sabe que representação não significa aval", Kathryn escreveu no jornal "Los Angeles Times" ao se defender das críticas de que estaria defendendo a tortura. O uso de método condenável na busca do objetivo central da trama também está em outro indicado ao Oscar, "Lincoln" - neste caso, a compra votos de deputados democratas para aprovar o fim da escravidão nos EUA. Nos dois casos, o objetivo não é ter um "herói perfeito" como protagonista.

A tortura não é o único método usado no filme para encontrar Bin Laden - o fim da tolerância do governo dos EUA com esta prática é marcado na tela com um discurso de Barack Obama. Depois disso, Maya e seus colegas se afundam em relações mais complexas com os terroristas, erros e acertos técnicos e humanos, e, por fim, barganhas políticas. Para o espectador, a versão dos EUA para o caminho que o levou a Bin Laden fica clara, mas nem sempre atraente.