Na última década, Alagoas está remando contra a maré. Com uma taxa de crescimento visivelmente menor que os estados vizinhos, o estado sofre com a queda do Produto Interno Bruto (PIB). É o que aponta o estudo do economista Fábio Guedes sobre a economia alagoana no Nordeste.
Em entrevista ao Cada Minuto, na última quinta-feira (24), o economista afirma que Alagoas precisa dar início a investimentos mais expressivos na agricultura e na indústria para conseguir reverter a situação da frágil economia.
Autor do estudo “A inserção da economia alagoana na recente dinâmica de crescimento regional”, o economista aponta em sua análise que a falta de investimentos nesses setores comprometeu gravemente os rumos da economia do estado. Segundo os dados, Alagoas sofreu uma “involução econômica” na última década saindo do posto de quarta maior economia da região para a preocupante terceira que menos cresceu.
Enquanto o PIB do Nordeste apresentou um crescimento de 5,4% entre 2005 e 2009, Alagoas teve apenas 3,8%, cerca de 2,1 bilhões, ficando abaixo inclusive da média nacional. A redução no PIB alagoano tem explicação.
Guedes aponta que desde o ano 2000, o estado vem perdendo paulatinamente postos de trabalho ligados à agricultura e indústria. Na agricultura, a perda chegou a metade dos postos em atividade.
“A seca agravou mais ainda a situação da agricultura em nosso estado, mas temos que atentar que não há investimentos no setor. Hoje Alagoas atua como importador de alimentos porque não investe em políticas públicas voltadas ao incentivo dos pequenos produtores. A demanda local que ainda é produzida por aqui não é suficiente”, afirma o economista.
No setor industrial, os grandes investimentos se concentram nas indústrias de plástico e nas que lidam com o trato com a cana de açúcar. Os demais nichos, conforme avalia o economista, apresentam um crescimento pouco expressivo.
“Entre 1999 e 2010 Alagoas registrou baixos índices de criação de estabelecimentos industriais. Em comparação com outros estados, o nosso não apresenta uma estrutura industrial diversificada, então fica mais difícil pensar em crescimento econômico que reflita no PIB”, considerou.
Apesar de o governo ser categórico ao afirmar que a economia alagoana está em crescimento com investimentos na indústria e no setor da construção civil, a exemplo das obras de shoppings, redes varejistas e do estaleiro Eisa, Fábio explica que a vinda de grandes empreendimentos para Alagoas acontece também em todo o Nordeste.
“Hoje o Nordeste é a região que mais cresce no país, então não é de se admirar que grandes empresas queiram se instalar por aqui. A diferença é que em Alagoas os investimentos não acontecem em outros setores. Enquanto Bahia, Ceará e Paraíba investem na agricultura e na indústria, Alagoas acaba ficando restrita ao comércio e girando sua economia nesses empreendimentos”, avalia.
Economia à moda antiga
Mesmo dando alguns passos rumo a uma economia mais diversificada, Alagoas ainda segue os moldes econômicos de sua fundação. Guedes frisa que em vários momentos da história econômica do estado houve tentativas de se implantar mudanças.
“Assim aconteceu com o cultivo do algodão no século 18, que décadas mais tarde acabou sendo sufocada pela produção açucareira. Depois a agropecuária, o turismo e mais recentemente com o comércio e o setor de serviços tentaram reerguer e dar um novo rumo a economia, mas por falta de investimentos, o crescimento acaba sendo contido”, disse.
Alagoas e a Paraíba, por exemplo, começaram a movimentar a indústria têxtil na mesma época, por volta de 1850, segundo Guedes. O parque industrial de Maceió chegou a ser um dos maiores do Nordeste, mas entrou em declínio. Na Paraíba houve investimentos no setor, que de acordo com a Companhia de Desenvolvimento da Paraíba, atualmente são 167 empresas e mais de 12 mil operários.
“O estado não dá subsídios fiscais para que pequenos e médios empresários se estabeleçam aqui, daí muitas indústrias acabam entrando em crise, como no exemplo das têxteis”, afirmou.
Comércio, serviços e construção civil puxam economia alagoana
Em crescimento, o comércio, o setor de serviços e a construção civil são responsáveis pela maior parte do PIB alagoano. De acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), comércio e serviços contribuem com 70% do montante. A Indústria arrecada 22% e a agricultura apenas 8%.
O economista diz que os números são esperados, já que é uma tendência nacional que estes setores estejam em expansão.
“Os investimentos do governo federal, a ascensão da classe média e outros fatores foram fundamentais para que o comércio tivesse essa arrancada. Porém é uma realidade comum no Nordeste. Da mesma forma, a construção civil está em expansão em todo o país”, disse.
Em sua análise da economia alagoana, Fábio Guedes defende que a única saída para reaquecer os setores em crise seria através da elaboração de um plano de políticas públicas de incentivo.
“A nossa agricultura e indústria precisam voltar a figurar dentro da economia ativa do estado. Enquanto o governo não elaborar um plano que abrigue pequenas, médias e grandes empresas, nossa economia continuará entre as piores do Nordeste”, concluiu.