Atualizada às 12 50 hrs
Após declarar à imprensa que não acreditava na culpa dos réus acusados de matar Fábio Acioli, o pai do estudante, o médico Paulo Medeiros, disse em depoimento que agiu sob o forte emoção. Medeiros foi ouvido na manhã desta sexta-feira (25), no Fórum do Barro Duro, em Maceió, pelo juiz Geraldo Amorim, da 9ª Vara da Capital.
Paulo Medeiros chegou ao fórum acompanhado da filha e outro parente, mas não quis conversar com a imprensa, antes do depoimento, que será ouvido pelo juiz da 9ª Vara Criminal da Capital, Geraldo Amorim, responsável pelo júri dos acusados ocorrido na semana passada.
A oitiva do médico foi marcada após Paulo Medeiros afirmar, no fim do julgamento, que acreditava na inocência dos réus Carlos Eduardo Souza e Wanderley Nascimento Ferreira, condenados a 26 anos de prisão, em regime fechado. A declaração incomodou o magistrado e também o promotor do caso, Antônio Malta Marques, colocando em xeque o julgamento.
Antes do depoimento, o juiz Geraldo Amorim disse que a oitiva era importante diante da expressão esboçada pelo médico no dia da decisão. Com isso, o magistrado pretende esclarecer o fato e saber do pai se há alguma prova que possa inocentar os réus ou qualquer fato que coloque em dúvida a participação deles no assassinato.
“A oportunidade para que ele fale é hoje. A reação dele pode ser entendida como uma emoção do momento pela reação esboçada pelos réus. Mas também se de fato tem algo a esclarecer e que não tenha sido dito ele deverá falar durante o depoimento, principalmente se for algo relevante para o processo”, colocou Amorim.
Amorim disse que vai pedir ao procurador-geral do Ministério Público, Sérgio Jucá, celeridade na entrega da perícia do computador do estudante, ponto que ele considera essencial para a investigação do caso.
O magistrado também comentou o desaparecimento do garçom Marco Aurélio, a testemunha-chave do caso, que denunciou os acusados e chegou a apontar um empresário alagoano como mandante do crime. Durante as investigações, o garçom chegou a integrar o Programa de Proteção às Testemunhas, mas pediu o desligamento do programa e desapareceu.
“Isso não foi levado em consideração no julgamento. Consideramos uma falha não terem apurado o sumiço do garçom e dado continuidade ao processo. Mas isso não mudará em nada o julgamento. O que o garçom disse até então é verídico. Mas o fato dele ter sumido, pode ter dado um novo rumo do processo”, finalizou.
O julgamento
Na última terça-feira (15), Carlos Eduardo de Souza e Wanderley do Nascimento Ferreira sentaram no banco dos réus e foram condenados a 26 anos e quatro meses de prisão, ambos em regime fechado, segregados e sem direito de apelar em liberdade. Por 4x3, o Conselho de Sentença entendeu que os acusados, de fato, teriam agredido e ateado fogo no universitário Fábio Acioli.
Carlos Eduardo Souza, que já está em prisão preventiva há três anos e quatro meses e Wanderley Nascimento Ferreira, preso há três anos, tiveram subtraídos do tempo de condenação a quantidade de anos anteriormente cumpridos.
A promotoria sustentou a culpabilidade dos réus levando em consideração três provas testemunhais. Cícero Rafael, que estaria na companhia de Fábio Acioly no dia do crime e o garçom Marco Aurélio, que teria servido aos dois na mesma ocasião, no Beto's Bar, confirmaram ter reconhecido Carlos Eduardo e Wanderley como a dupla que esteve no estabelecimento comercial na noite do crime e que, depois, teria praticado o ato ilítico.
Também foi levado em consideração o depoimento do motoqueiro que socorreu a vítima. "Ele descreveu os acusados e relatou características bem semelhantes aquelas dos dois réus", acrescentou o promotor de Justiça. Já a Defensoria Pública do Estado tentou desqualificar os depoimentos das testemunhas e alegou que elas não teriam falado a verdade em Juízo.
Entenda o caso
Fábio Acioli era estudante universitário do Centro de Ensino Superior de Maceió (Cesmac) e na noite de 11 de agosto de 2009, seguia de um curso de inglês para casa quando, ao parar numa banca de revistas em Cruz das Almas, foi abordado e colocado na mala de seu veículo pelos seqüestradores.
Eles seguiram com o estudante para um canavial no Complexo do Benedito Bentes, onde jogaram gasolina em seu corpo e atearam fogo. O estudante conseguiu apagar algumas chamas e foi socorrido por populares que acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Apesar de lutar pela vida e ser transferido para o Hospital da Restauração em Pernambuco, Fábio Acioli não resistiu aos 80% do corpo queimado e faleceu devido uma infecção generalizada.
A Polícia Civil de Alagoas designou três delegadas para atuar no caso. Porém, a conclusão do inquérito não deixou claro para a justiça quem seriam os mandantes do crime. A polêmica sempre girou em torno da participação de ‘figuras públicas’, o que ocasionou várias manifestações da sociedade alagoana contra a Justiça em busca de uma punição.