Funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) buscavam nesta quinta-feira uma mancha escura de aproximadamente 3,4 mil hectares que apareceu na Baía Sul, em Florianópolis. A massa de água turva foi avistada na quarta-feira, mas, como houve uma vazante muito intensa e um forte vento norte entre ontem e hoje, é possível que a mancha tenha se dispersado ou se deslocado na direção sul.
De acordo com o superintendente estadual do Ibama, Kleber Souza, a busca do instituto é por precaução - eles querem se certificar se a mancha escura tem relação com um grave vazamento de óleo que ocorreu na região no fim do ano passado. "A princípio não é uma mancha com caracterísitcas de óleo. Pode ser de sedimentos ou uma concentração de algas, ou até outro material, já que o rio Cubatão do Sul deságua ali próximo", afirmou o analista ambiental. "Mas como houve esse vazamento, por precaução a equipe foi coletar amostras."
Uma equipe foi de barco ao local na manhã desta quinta-feira, mas não encontrou nada. Pela tarde, um grupo sobrevoou a região de helicóptero para identificar o destino da massa de água turva. Caso seja encontrada, os técnicos coletariam amostras para detectar se há relação com o grave incidente do ano passado.
Vazamento
De acordo com o Ibama, em meados de novembro de 2012 foi identificado um vazamento de óleo de uma subestação desativada da Centrais Elétricas de Santa Catarina S/A (Celesc) que fica em uma área do campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no bairro de Tapera, em Florianópolis. A informação, no entanto, só alcançou o órgão ambiental em 21 de dezembro, data a partir da qual foi aplicada uma multa de R$ 50 mil por dia até que o derramamento fosse contido. O Ibama calcula que desde o início do vazamento, cerca de 12 mil litros de óleo tenham se espalhado.
A gravidade do acidente, no entanto, é maior do que um vazamento de óleo comum. Análises feitas pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) detectaram a presença de bifenila-policlorada (PCB, na sigla em inglês), um produto cancerígeno, de alta toxicidade, geralmente utilizado para isolamento térmico. No local do vazamento, o chamado marco-zero, a concentração da substância tóxica na água era aproximadamente 2 milhões de vezes o limite tolerável pelo corpo humano.
Segundo o Ibama, a PCB é um poluente orgânico persistente e se acumula na cadeia alimentar, chegando em altas concentrações ao homem. Por seu nível de periculosidade, a substância foi banida pela Convenção de Estocolmo, um tratado internacional ratificado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Por causa da gravidade do poluente, do dano ambiental causado e do poder econômico da responsável pelo vazamento, a Celesc foi multada na última terça-feira em R$ 50 milhões, valor máximo estabelecido pela legislação ambiental.
Providências
De acordo com o superintendente estadual do Ibama, Kleber Souza, as medidas emergenciais, como o isolamento da subestação, já foram tomadas. "A nossa maior preocupação agora é a remediação do incidente." Segundo ele, é preciso identificar até onde chegou o óleo contaminado por PCB, qual a concentração da substância tóxica em cada local, e verificar a extensão dos danos ambientais.
"O óleo se infiltrou no lençol freático", contou Souza. "Vamos receber especialistas de Brasília e outros Estados que já tiveram contato com esse tipo de acidente porque, do ponto de vista técnico, é bastante complicado de resolver." Segundo ele, estão envolvidos órgãos que vão desde de o Ibama e a Fatma até o Corpo de Bombeiros, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Ministério da Pesca.
Amanhã, os cerca de 6 mil litros de água e óleo que foram recolhidos nos últimos dias serão transportados para um aterro industrial com escolta da PRF.