Já se passaram três anos e o crime que chocou Alagoas parece estar perto de um desfecho. A partir das 08h desta terça-feira (15), a população irá acompanhar mais um capítulo de um dos casos de maior repercussão.

O emblemático caso do estudante Fábio Acioli, em 2009, que após ser misteriosamente sequestrado e ter 85% do corpo queimado, morreu num hospital em Recife, depois, terá os principais acusados do crime material julgados na 9ª Vara Criminal de Maceió, no Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, no bairro do Barro Duro.

Dois acusados, que já estão presos, serão colocados no banco dos réus neste dia 15 de janeiro. Carlos Eduardo Souza e Wanderley do Nascimento Ferreira, serão julgados pela autoria material do crime, que aconteceu no dia 11 de agosto de 2009, quando os dois sequestraram Fábio Acioli em seu próprio veículo e o levaram até um canavial no bairro do Benedito Bentes.

De acordo com o magistrado que irá presidir o júri popular, Geraldo Amorim, o julgamento será minucioso e trabalhoso, mas a sentença não deve demorar a ser proferida. “É um caso que tem muitas informações, debates, testemunhas. Mas, acredito que não deva demorar. A expectativa é que durante a noite tenhamos um ponto final, no máximo até a madrugada (quarta-feira)”, disse o magistrado.

Personagens no julgamento, juiz, advogado de defesa e acusação mostram segurança ao comentarem o caso. Um exemplo é do promotor, José Antônio Malta Marques, que se mostrou comedido ao ser questionado sobre a expectativa para o julgamento. “Desde sexta-feira que estou debruçado, direto sobre as três mil páginas desse processo. Posso dizer que estou concentrado e que a partir de amanhã faremos a justiça, mas não posso falar em estratégia”, afirmou.

Além dos réus, familiares da vítima e testemunhas desconhecidas, existe a expectativa para a presença de empresários de Maceió, que durante as investigações participaram de oitivas, uma vez que o estudante costumava freqüentar eventos e estabelecimentos da alta sociedade.

Na oportunidade, o CadaMinuto ouviu o empresário do ramo imobiliário, Márcio Rapôso, que chegou a prestar depoimento mas comprovou através de documentos que não teve qualquer tipo de contato com o jovem. “Ainda bem que a Santa Casa ainda está em pé. Eu sofri um grave acidente de moto e nesse período passei 10 dias internado. Não poderia fazer qualquer esforço físico, muito menos, subir numa lancha ou fazer sexo. Eu sou homem! Todos os meus parentes, amigos e familiares sabem disso. Na audiência de instrução, soube que meus os telefones de minha residência estão grampeados. E o melhor de tudo: não foi encontrado nada. Na audiência, o juiz Maurício Brêda, informou que eu não seria mais ouvido por não encontrar consistência em qualquer acusação”, ponderou.

Outras duas figuras que tiveram grande destaque durante as investigações serão citados no julgamento. O garçom do estabelecimento “Beto’s Bar”, situado no bairro de Cruz das Almas, local de onde o estudante sumiu, Marcos Aurélio, que participou ativamente do inquérito será novamente ouvido. Outro nome, mas que não irá participar, é do servidor público Rafael Cícero de França, 51, que chegou a ser acusado de atrair Fábio Acioli para o local do crime e posteriormente inocentado, morreu em novembro de 2012, em detrimento de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Acusação acredita em penas de 20 anos

Assistente de acusação, o advogado Fernando Falcão, manteve a calma em falar sobre o caso, uma vez que até amanhã, corre em segredo de justiça, mas comentou a expectativa da família.

“Desde o início a família sempre ajudou e quis que os verdadeiros culpados fossem julgados. Vale lembrar, que o caso não será encerrado. Ele foi desmembrado e antecipado uma vez que os acusados não podem permanecer muito tempo presos sem serem julgados”, disse.

Falcão continuou, afirmando que o desmembramento do caso se refere à continuidade de investigações, tendo em vista a possibilidade de busca em um possível autor intelectual do crime.

Segundo o advogado, Carlos Eduardo Souza e Wanderley do Nascimento Ferreira serão julgados por homicídio qualificado, crime esse que tem uma pena estipulada de 13 a 30 anos, mas, por experiência própria, acredita que a pena aplicada gira em torno de 20 anos de prisão.

O julgamento acontece nesta terça-feira (15), a partir das 08h00, na 9ª Vara Criminal, no Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes no bairro do Barro Duro em Maceió. O juiz Geraldo Amorim irá presidir o júri e terá a companhia na bancada do representante do Ministério Publico, Promotor José Antônio Malta Marques, que será assistido por Fernando Falcão e que será completada pelo Defensor Público e advogado de defesa, Rildson Martins.

O caso

Fábio Acioli era estudante universitário do Centro de Ensino Superior de Maceió (Cesmac) e na noite de 11 de agosto de 2009, seguia de um curso de inglês para casa quando, ao parar numa banca de revistas em Cruz das Almas, foi abordado e colocado na mala de seu veículo pelos seqüestradores.

Eles seguiram com o estudante para um canavial no Complexo do Benedito Bentes, onde jogaram gasolina em seu corpo e atearam fogo. O estudante conseguiu apagar algumas chamas e foi socorrido por populares que acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Apesar de lutar pela vida e ser transferido para o Hospital da Restauração em Pernambuco, Fábio Acioli não resistiu aos 80% do corpo queimado e faleceu devido uma infecção generalizada.

A Polícia Civil de Alagoas designou três delegadas para atuar no caso. Porém, a conclusão do inquérito não deixou claro para a justiça quem seriam os mandantes do crime. A polêmica sempre girou em torno da participação de ‘figuras públicas’, o que ocasionou várias manifestações da sociedade alagoana contra a Justiça em busca de uma punição.