O líder da maioria do Senado dos Estados Unidos, Harry Reid, disse neste domingo (30) que os democratas e republicanos ainda mantinham diferenças nas negociações para evitar o iminente "abismo fiscal". Ele afirmou, no entanto, que não haverá cortes nos benefícios sociais.
O senador afirmou ainda que não apresentou uma contraproposta para a última sugestão republicana. "Tive diversas conversas com o presidente e, nesta fase, não somos capazes de fazer uma contraproposta", disse Reid no Senado.
Ele sustentou que os democratas podem fazer tal oferta ainda neste domingo. "Eu acho que o líder republicano está demonstrando boa fé. Só que divergimos em algumas questões bem grandes", Reid acrescentou.
"Faltando 36 horas [até o prazo final para o abismo fiscal], eu me mantenho esperançoso, mas realista", afirmou.
'Intransigência'
Mais cedo, em entrevista à rede de TV "NBC", o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que os republicanos não aceitam que o imposto aos ricos tem que subir um pouco como parte de um pacote global de redução do déficit.
Desde sua reeleição no mês passado para um segundo mandato, Obama negocia com os republicanos um acordo que impediria a aplicação automática de uma alta generalizada de impostos e fortes cortes de gasto público.
"Eles dizem que sua prioridade é tentar tratar seriamente o déficit, mas a maneira como se comportam parece demonstrar que sua única prioridade é fazer com que as vantagens fiscais dos norte-americanos mais ricos sejam protegidas", afirmou durante a entrevista, que foi gravada no sábado."Ontem (sexta-feira), estava modestamente otimista, mas ainda não há acordo", lamentou. "E não é por falta de vontade dos democratas", completou.
Próximos passos
Enquanto a entrevista de Obama era transmitida, os principais líderes republicanos e democratas no Senado discutiam seus planos para barrar ao menos a alta de impostos para a classe média na terça-feira, mas deixaram as maiores questões orçamentário sem resposta.
O Senado se reuni neste domingo às 16h (horário de Brasília). Nenhuma votação é esperada antes das 21h30.
O líder da maioria democrata do Senado, Harry Reid, e seu colega da minoria republicana, Mitch McConnell, deram como prazo as 18h desde domingo para chegar a um acordo. Nesse horário, segundo o jornal, seriam realizadas reuniões para informar aos partidos sobre as decisões e determinar se o plano teria apoio suficiente para ser submetido à votação.
Caso seja aprovado pelos partidos, o Senado realizará uma votação na segunda-feira ao meio-dia, dando à Câmara dos Deputados o resto do dia para considerar a medida, segundo o jornal.
Qualquer medida decidida pelo Senado também deve ser aprovado pela Câmara dos Deputados, onde não é certo que o projeto de Obama terá o apoio de conservadores pelo lado republicano.
Entenda o abismo fiscal
O chamado "abismo fiscal" consiste em um aumento automático de impostos e um corte do gasto público, que serão realizados caso não seja modificada a legislação atual. Esse "abismo" é resultado da aprovação pelo Congresso, em 2011, da ampliação do déficit fiscal do país em US$ 2,1 trilhões. À época, o endividamento chegara ao limite de US$ 14,3 trilhões, e o país corria o risco de dar "calote" caso o limite da dívida não fosse elevado. Mas, em troca, a medida exigia chegar a um acordo até o fim de 2012 para cortar US$ 1,2 trilhão em dez anos. Sem isso, o tal “sequestro automático” de gastos que vão impactar programas sociais e de defesa seria ativado.
Caso não haja acordo até segunda-feira, na terça-feira as isenções fiscais para a maioria dos contribuintes, adotadas durante a presidência de George W. Bush expirarão e, além disso, entrarão em vigor drásticos cortes no gasto público.
Os impostos de quase todos os contribuintes norte-americanos aumentarão 2.200 dólares, segundo a Casa Branca. Os cortes, consequência de um pacto entre democratas e republicanos em 2011, seriam sentidos, sobretudo, no orçamento de Defesa e poderiam derivar em numerosas demissões.
Os democratas defendem a aprovação de uma lei que estende as alíquotas baixas de imposto de renda para todos os cidadãos norte-americanos, exceto aqueles com uma renda familiar líquida acima de 250 mil dólares por ano.
Caso o Congresso não se pronuncie até 31 de dezembro, as alíquotas dos impostos para todos os americanos sofreriam uma forte alta, retornando a níveis pré-2001 e, dois dias depois, US$ 109 bilhões em cortes automáticos de gastos começariam a ter efeito. Juntos, os impostos mais altos e os gastos menores retirariam US$ 600 bilhões da economia dos EUA, podendo causar uma nova recessão em 2013.
Na quarta-feira, foi Boehner quem pediu que o Senado, controlado por democratas, aja primeiro para evitar o "abismo", se oferecendo a pelo menos considerar qualquer proposta produzida pelo Senado.
Reid respondeu ao republicano na quinta-feira, dizendo que o Senado já havia agido, e que a solução dos Democratas precisa do consentimento de Boehner e do líder republicano do Senado, Mitch McConnell.