Três de cada 1 mil adolescentes brasileiros são assassinados antes de completar 19 anos, segundo estudo elaborado pelo governo em associação com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Ele foi divulgado nesta quinta-feira no Rio de Janeiro e, de acordo com projeções elaboradas pelos autores, ao menos 36.735 brasileiros de 12 a 18 anos serão assassinados até 2016, em sua maioria por arma de fogo, caso se mantenha o atual ritmo de violência contra os jovens.
O estudo da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, da Unicef e da ONG Observatório de Favelas mostrou que o Índice de Homicídios de Adolescentes (IHA) subiu 14% em um ano, de 2,61 jovens mortos por cada 1 mil em 2009 para 2,98 em 2010. Trata-se do maior nível desde que o índice começou a ser medido em 2005, quando a taxa era de 2,75 adolescentes assassinados por cada 1 mil.
A taxa foi calculada por pesquisadores do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) a partir dos índices de criminalidade regionais e de estatísticas do Ministério da Saúde nas 283 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. O estudo concluiu que o homicídio é a principal causa de morte dos adolescentes no Brasil, com 45,2% dos casos. Os jovens entre 12 e 18 anos representam quase 13% da população brasileira. Para a população em geral, o homicídio é a causa de 5,1% das mortes no País.
"Nos últimos anos se manteve o contraste entre a tendência a redução do número de homicídios entre a população brasileira em geral e o aumento do número de homicídios de adolescentes", denunciou o sociólogo Ignácio Cano, pesquisador da Uerj e um dos autores do relatório. A pesquisa mostrou igualmente que os homens e os negros são a maior parte das vítimas da violência contra os jovens, em um país em que pouco mais da metade da população se declara descendente de africanos.
Jovens negros sofrem mais
Segundo os dados de 2010, a possibilidade de um jovem de sexo masculino ser assassinado no Brasil é 11,5 vezes superior à de uma mulher da mesma idade. Da mesma forma, a possibilidade de um jovem negro ser assassinado é 2,78 vezes superior à de um jovem branco. Os adolescentes têm 5,6 vezes mais possibilidades de morrer por armas de fogo que por outro tipo de arma.
A pesquisa também constatou uma diferenciação segundo a cidade e a região onde a vítima vive, com um maior número de homicídios em regiões mais pobres. O índice de homicídios de adolescentes foi de 0,94 por cada 1 mil em São Paulo, o Estado mais rico e povoado do Brasil, e de 9,07 por cada 1 mil jovens em Alagoas, um dos Estados mais pobres. Em algumas cidades, como Itabuna, na Bahia, o índice foi de 10,59 adolescentes assassinados por cada 1 mil. Em Maceió, a taxa foi de 10,15 mortes, e em Salvador, de 8,89 mortes. "O Nordeste se consolida como o maior polo de preocupação no País", afirmou Ignácio.