Em 13 de novembro de 2011, a Serra da Barriga localizada no município de União dos Palmares, em Alagoas, palco da mais longa resistência negra em nome da liberdade recebeu as cinzas do grande líder negro e estadista: Abdias Nascimento. Cerimônia única que trouxe de retorno ao solo sagrado um homem que plantou energias no eterno das ações contra a violência do racismo.
Uma cerimônia marcada pelo momento singular dos tambores africanos que promoveram uma saudação a Nascimento e tiveram o poder de fazer o sol se “arretirar”, dando lugar a uma cortina de sombra e uma chuva miudinha que trouxe de volta o ecoar da luta de Abdias. Após o término da homenagem eis que surge de novo o senhor amarelo pleno e carregado com as cores de Oxum.
Momento mágico de pura comunhão espiritual presenciada por tantos e muitos presentes.
A deposição das cinzas foi magnifica e a ação empreendedora para que tudo acontecesse foi iniciativa do, então Projeto Raízes de Áfricas, coordenado por nós. Mas, nada disso seria possível se não tivéssemos a fundamental participação da Fundação Cultural Palmares.
A deposição das cinzas de Abdias Nascimento foi a escrita de mais um significativo capítulo da história do Brasil.
E um ano e mais alguns dias , exatamente no dia 30 de novembro de 2012, novamente com o apoio fundamental da Fundação Palmares , o Instituto Raízes de Áfricas rascunha mais um momento histórico: a ação inédita, em Alagoas dos Palmares, a realização do Baile de Debutantes Negras Perolas Negras/ Ìrawò.
Pérolas são aquelas pedrinhas que brilham e Ìrawò na língua africana, ioruba quer dizer estrelas.
As Ìrawòs dessa festa especial foram 15 meninas negras de diversas comunidades da grande Maceió: Conjunto Carminha, Conjunto Selma Bandeira ( bairro do Tabuleiro do Martins), Jacintinho, Vergel, Poço, etc.
A idéia do primeiro baile, ocorrido faz 55 anos, visando melhorar a autoestima das jovens negras que não podiam debutar em Campinas/SP, surgiu da ótica étnico-política de Laudelina Campos de Mello, que veio ao mundo, em 12 outubro de 1904, na cidade de Poços de Caldas, Minas Gerais. Fruto da união de uma escrava doméstica e um lenhador, ela nasceu livre devido a Leia Áurea. Se no papel a situação parecia confortável para os negros, a realidade era cruel.
E a realização do Baile de Debutantes Negras Perolas Negras/ Ìrawò nas terras da primeira República Negra e livre da América Latina trouxe o sol para a auto-estima dessas jovens mulheres iluminando lhe o espirito de novas perspectivas:- Sim, nós podemos- afirmam algumas. Sou bela e negra dizem outras.
Depois do Baile, caro Elói Ferreira, minhas Pérolas Negras interpretam os sinais da rua e hoje entendem que é preciso arregaçar as mangas e ir à luta.
Para toda equipe do Instituto Raízes de Áfricas e os colaboradores que participaram da construção do Baile o momento foi superlativo e grandioso.
E tudo isso graças a você Elói Ferreira que investiu, com sensibilidade de saber que sozinha não conseguiríamos, na possibilidade de irmos adiante.
Fomos!
Todas as Pérolas Negras alagoanas agradecem a parceria.
Obrigada, mil vezes obrigada!