Quem acompanhou atentamente o processo eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB/AL), que findou no último dia 23 com a eleição de Thiago Bomfim para o cargo que hoje é ocupado por Omar Coêlho, deve ter ouvidos, olhos e coração bem abertos para as reflexões postas pelo grupo Nossa Ordem. Alguns dirão: “A Nossa Ordem? Que foi a quinta chapa na colocação geral dos votos?”. Eu respondo: “Sim! Esta mesma!”.

A posição que a Nossa Ordem ocupou - e falo da chapa e não da Cláudia Amaral, porque as ideias ali representadas eram bem maiores que qualquer um de seus integrantes, inclusive “a cabeça” - não se traduz com qualquer colocação, ainda que ela fosse a primeira. Se traduz como um projeto que deixa uma lição para qualquer pleito, seja de entidade de classe ou não. A lição de que ainda é possível pensar em política como a estratégia do bom combate, com firmamento em ideias e respeito aos adversários.

Era para ter feito este texto antes, mas só agora está sendo possível sentar e formular. O que quero dizer com ele? Bem, que a Nossa Ordem deve (e precisa!) deixar uma semente, um questionamento que pode extrapolar a advocacia. Um dos lemas foi muito bem posto: “eleição sem obsessão”. É justamente a obsessão por um cargo que deixa evidente que ali não se trata de um projeto político, um ideário, uma causa, uma representatividade de coletividade. A obsessão deixa evidente que o projeto é de poder. Parodiando a estética parnasiana: “Poder pelo Poder”.

E junto com a obsessão algo muito grave: o rasgar, ultrapassar, ferir, banir, excluir todos os limites. O mundo onde tudo é possível. Onde a rasteira é legalizada. Onde o difamar é regra. Onde abraços e tapas nas costas vem seguidos de emails sorrateiros, mentiras repetidas até virarem verdades e por aí vai. Muitos destes limites são eliminados com a ajuda dos recursos financeiros. E aí, estamos falando do mundo onde tudo se compra: corações e consciências.

A Nossa Ordem acreditou em um caminho que se diferenciasse, com total respeito pelos caminhos postos e pela democracia que rege o pleito. Pude perceber isto em muitas pessoas que estavam dentro do movimento. Era pulsante, era vivo. Era uma lição. Era um aprendizado interno. Independente do resultado, acredito que ganha muito quem dele participou.

Ganha muito quem - mesmo não tendo votado - ouviu pontos que valem de reflexão presente e futura: por qual razão se gasta tanto para ser presidente de uma entidade que não oferta salário?,qual a importância dos conselheiros federais e por qual razão o cargo é tão cobiçado?, se o advogado que tem o “convencimento” como ferramenta de trabalho não o exercita em sua eleição, algo não estaria errado?, e por aí vai...são muitas as indagações que podem ser feitas.

O que é interessante agora é que a Nossa Ordem - ainda que mude de nome - siga discutindo e debatendo. Pois, o grupo - que espero que se solidifique - não será uma oposição (o conceito sequer existe em uma entidade de classe), mas sim um movimento que pode tornar bem real e bela a sentença de Santo Agostinho quando diz: prefiro os que criticam, pois corrigem, aos que adulam, pois corrompem. Longa vida à Nossa Ordem. 

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