A chanceler alemã, Angela Merkel, propôs nesta quinta-feira ao vice-presidente, Michel Temer, estabelecer um mecanismo permanente de consultas bilaterais de alta categoria, como o que tem com China, Índia, Rússia, França, Itália e Espanha.
A proposta, explicou Temer à Agência Efe em entrevista, aconteceu durante a reunião de cerca de uma hora que realizaram hoje na chancelaria berlinense, dentro da viagem alemã do vice-presidente.
"Eu tenho que levar agora esta proposta à presidente (Dilma Rousseff). E, se for aceita, então poderia começar a andar no ano que vem", declarou Temer, que se mostrou "muito satisfeito" após sua reunião com Merkel.
A Alemanha reserva para países com os quais quer manter colaborações estreitas em diversos âmbitos o mecanismo denominado "Konsultationen" e que prevê encontros periódicos, normalmente anuais, além das cúpulas pontuais nas quais envolvem-se quase todos os ministérios de ambos países.
Após a incorporação no ano passado da Índia a este mecanismo alemão de consultas, o Brasil era a única potência emergente do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) que não tinha sido convidada.
Temer explicou que as maiores economias da Europa e América Latina mantêm muitas posturas e "interesses" comuns, além de manter certas "similaridades" e o objetivo comum de estreitar suas relações bilaterais, especialmente no âmbito econômico e comercial.
"Há um desejo mútuo de aumentar as relações bilaterais entre Brasil e Alemanha", ressaltou Temer.
O vice-presidente lembrou que já há mais de 1,2 mil empresas alemãs implantadas no Brasil, e que o comércio e os investimentos recíprocos estão aumentando.
Neste sentido, Temer indicou que "se incentivou a participação" das empresas alemãs na construção das instalações necessárias para a realização da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Este convite a participar, que não representa nenhuma vantagem na hora de obter contratos públicos como destacou Temer, também receberam as empresas do Reino Unido e receberão as espanholas na próxima segunda-feira, da boca da própria Dilma, em visita oficial a Madri.
Em um âmbito mais geral, o vice-presidente assinalou que a Alemanha conta com um potente setor industrial de "alta tecnologia" que pode se transformar em um parceiro estratégico para o desenvolvimento de infraestruturas como "aeroportos, portos e trens de alta velocidade".
"Queremos trabalhar com a Alemanha e continuar trabalhando com Portugal e Espanha", afirmou ao ser perguntado se a maior economia do Velho Continente não estava assumindo o papel de porta à Europa para o Brasil por causa da crise dos parceiros tradicionais.
Temer presidirá amanhã um encontro entre empresários do Brasil e da Alemanha do qual espera que possam sair "relações interessantes".
Sobre a mesa em sua reunião com Merkel ficou o tratado de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, um projeto que está há anos estagnado apesar dos desejos alemães e que, segundo Temer, está em "permanente debate".
No âmbito internacional, o vice-presidente e a chanceler alemã abordaram brevemente o "papel global" do Brasil e o interesse de ambos para que se amplie no Conselho de Segurança da ONU tanto o número de assentos permanentes como o de não-permanentes.
Alemanha e Brasil, junto com Japão e Índia, formam o chamado Grupo dos Quatro, que exige uma reforma do principal órgão da ONU para que represente a realidade do século 21.
Além de reunir-se com a chanceler, Temer se reuniu hoje com o presidente alemão, o independente Joachim Gauck, e com o presidente do Bundestag (Câmara baixa alemã), Norbert Lammert.