A maioria dos garotos de 18 anos quer aproveitar a idade para curtir festas, namorar e se divertir com os amigos. A vida de um jogador de futebol, no entanto, nem sempre tem todas essas regalias, especialmente se ele vive essa fase na cultura islâmica do Oriente Médio. Foi por isso que o alagoano Netinho, recentemente desligado do Palmeiras B, precisou se adaptar às regras do Qatar para ter uma adolescência diferente de seus companheiros.
Natural de São José de Laje, em Alagoas, Arnaldo de Brito Neto é praticamente um desconhecido no Brasil, mas tem grande nome no Qatar, onde foi campeão pelos dois times que passou, o Lekhiwiya e o Al-Wakrah. O problema, no entanto, era na hora de tentar curtir a vida fora dos campos.
No mesmo dia em que se desligou do Palmeiras B por falta de oportunidade, Netinho concedeu uma entrevista na qual revelou já até correr de um árabe na praia para evitar problemas com a polícia local.
"Lá, nenhuma mulher pode ter relacionamento com estrangeiro, então eu tinha que dar os meus jeitos. Eu sempre tinha alguns casos com umas aeromoças, todas que não eram árabes e estavam lá a trabalho", diz Netinho sem esconder o sorriso no rosto. "Mas teve uma vez que eu tive um caso com uma libanesa, muito bonita, por sinal, e a gente foi namorar um pouco na praia. Tive o cuidado de ir em um lugar calmo, sem muita luz, porque qualquer beijinho em público é proibido. De repente, vem um farol bem alto na minha cara, um monte de buzina e um árabe gritando que ia chamar a polícia. Eu saí correndo, entrei no carro e fui pra casa", lembra ele.
"Quando cheguei em casa, pensei que tudo tinha acabado, que eu já tinha feito besteira, que ele tinha anotado a placa do meu carro, mas deu tudo certo. Não aconteceu nada".
Dentro de campo, a vida de Netinho também não foi convencional. Revelado pelo Vasco em 2004, com 15 anos, ele viveu uma vida de andarilho até se firmar no Qatar. Antes de chegar ao Oriente Médio, ele passou pelo Santos, fez estágios na Roma, na Lazio, no Wolfusburg e também no Borussia Dortmund.
No Qatar, ele relata ter vivido uma experiência de rei. Foram três anos ganhando presentes dos donos de time, que não mediam esforços para fazer os atletas felizes.
"As pessoas têm a impressão de que no Qatar tudo é fácil, mas alguns jogadores que estiveram lá e que hoje são titulares no Brasil não tiveram sucesso, como o Cortez (lateral esquerdo do São Paulo) e o Rafael (zagueiro do Cruzeiro), por exemplo. É difícil, mas quando você dá certo...", diz ele com brilho nos olhos.
"Eu fazia um golaço no treino e ganhava um relógio. Depois, fazia um gol no jogo, ganhava outro. Aí a gente ganhava um jogo de um rival e os estrangeiros tinham um bicho diferenciado, muito mais gordo. Quando você vai bem lá, é muito bom, não é à toa que tem um monte de gente aqui do Brasil querendo encerrar a carreira lá. Eu também vou querer fazer isso, não sou bobo!", brinca ele.
Apesar de todo o reinado, Netinho optou por voltar ao Brasil por uma sonho que parece missão impossível. Vestir a camisa da seleção brasileira. Sem visibilidade nenhuma no país, ele apostou em uma boa atuação no Palmeiras B para recomeçar a carreira. Apresentado pelo pai a César Sampaio, o jogador agradou via vídeo e foi contratado. Apesar disso, não teve as chances que esperava nos gramados e acabou rescindindo o contrato que duraria até o fim deste ano.
À procura de uma nova equipe, Netinho diz que não tem mágoa do Palmeiras e nem se arrepende de ter voltado ao Brasil. Pelo contrário, ele entende que o momento não era favorável para que jogadores fosse revelados e promete voltar ao Palestra Itália para mostrar que poderia ter sido melhor aproveitado.
"Eu vim para cá para me readaptar ao futebol brasileiro. A gente queria uma chance, mas não deu, tudo bem. Eles tentaram, não tenho nada. Agora, vou para um novo time, tenho certeza que vou jogar bem e depois volto ao Palmeiras. Você vai ver, pode anotar", finalizou ele.