Um bioalimento com alto teor nutritivo está na fase de ensaios pré-clínicos em animais (camundongos), no Laboratório de Reatividade Cardiovascular, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Universidade Federal de Alagoas. O produto é proveniente de resíduo alimentar e destinado ao tratamento de pessoas portadoras da Síndrome Metabólica, considerada um problema de saúde pública que afeta, estima-se, 25% a 30% da população mundial.

A causa dessa síndrome pode ser explicada pela mudança do estilo de vida: desde a dieta ocidentalizada, rica em carboidrato e lipídeo, ao sedentarismo. A SM acomete pessoas de todas as idades e resulta de um conjunto de doenças associadas, dentre elas, obesidade, hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto, que estão diretamente relacionadas ao aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares.

Na Ufal, um estudo pioneiro, denominado de “Desenvolvimento de alimento de alto teor nutritivo com resíduos regionais: incentivo à biotecnologia sustentável”, tem a coordenação científica da professora Luiza Rabêlo. A doutoranda Glaucevane da Silva Guedes é a responsável pela coleta do resíduo alimentar e análise dos resultados. Também integram a pesquisa como colaboradores a doutoranda Valéria Nunes de Souza e Carlos Alberto Silva Júnior.

“Não há estudos no Brasil e nem em Alagoas voltados ao tratamento da síndrome. No Rio de Janeiro e na Bahia há o registro de iniciativas com esse objetivo só que realizadas com indivíduos em pequenos grupos”, informou Glaucevane Guedes, que faz pós-graduação pelo Programa Renorbio da Ufal.

Em seu curso de doutorado, Glaucevane utiliza como principal objeto de estudo o bioproduto. Ela desenvolve seu trabalho desde 2010, mas há cinco anos o Laboratório de Reatividade Cardiovascular realiza pesquisas direcionadas à Síndrome Metabólica. Segundo a coordenadora Luiza Rabêlo, doutora em Fisiologia e Farmacologia e pós-doutora em Biotecnologia e Medicina Molecular, as pesquisas realizadas e concluídas, inclusive para o Sistema Único de Saúde (SUS), restringem-se ao estudo da fisiopatologia da síndrome.

“Mas o novo estudo tem um objetivo ambicioso ao elaborar um alimento funcional (o bioproduto), que está em fase de testes pré-clínicos em camundongos, direcionado à síndrome, que é de difícil tratamento. A pesquisa em andamento surgiu devido a essa necessidade e é uma continuidade dos estudos científicos promovidos pelo laboratório”, enfatizou Luiza Rabêlo.

Os testes pré-clínicos com camundongos serão realizados até janeiro de 2013. Em abril, o estudo será submetido ao Comitê de Ética da Ufal, para então entrar na fase dos ensaios clínicos. Os testes com humanos terão duração de um ano e serão feitos com indivíduos sadios e com 60 pacientes do Hospital Universitário, já selecionados, portadores da síndrome.

Parcerias e atividades

A pesquisa tem financiamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e conta com o apoio do Instituto Nacional de Tecnologia Nanobiofar, do CNPq, e coordenado pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Robson Santos. Também estão envolvidos o Programa Nacional de Cooperação Acadêmica - Ação Novas Fronteiras (Procad–NF) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT).

De acordo com a equipe de pesquisadores, o grupo já entrou em contato com o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Ufal, ligado à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propep), para ver a possibilidade de conseguir a proteção intelectual do bioproduto.

“Por conta da pesquisa já há um livro elaborado para ser editado pela Editora Universitária (Edufal), com previsão de lançamento em 2013, durante a Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Também temos elaborada uma Cartilha sobre a Síndrome Metabólica para distribuição gratuita à comunidade. Para essa ação contamos também com o apoio do PPSUS -2009 e da Fapeal (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas)”, acrescentou a coordenadora Luiza Rabêlo.

Referência científica

O Laboratório de Reatividade Cardiovascular do ICBS foi fundado em 2006 e desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão. Atualmente, conta com a participação de três estudantes que fazem parte do Programa de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), um estagiário científico, cinco mestrandos e dois doutorandos.

Recentemente o Laboratório passou a funcionar no novo prédio do ICBS, no Campus A. C. Simões, integrando a comunidade científica e favorecendo a interação maior com os demais laboratórios de pesquisa da instituição. A coordenadora Luiza Rabêlo destacou que a boa integração entre os pesquisadores do laboratório tem resultado em estudos científicos de referência, colaborando com a ciência, o conhecimento e a formação qualificada de recursos humanos.