Cerca de 100 crianças e adolescentes participaram na manhã desta sexta-feira, em Parnamirim, município da Grande Natal, de um encontro muito especial com quatro medalhistas paralímpicos brasileiros em Londres: Alan Fonteles, Yohansson Nascimento, Tito Sena e Edênia Garcia. O evento comemorativo ao Dia das Crianças, realizado pelo Projeto Clube Escolar Paralímpico, se tornou uma grande festa, na qual os atletas foram os mestres, e as crianças, os aprendizes.

Um destes encontros foi entre José Welton e o campeão paralímpico Alan Fonteles. O jovem potiguar disputou no último mês as Paralimpíadas Escolares, em São Paulo, e conquistou duas medalhas de ouro e uma de bronze na natação. Mesmo em esportes diferentes, Fonteles é o mais novo ídolo do pequeno nadador.

- Meu ídolo é o Alan porque ele demonstrou como superar os limites físicos. Mesmo sem as pernas, ele conquistou a medalha de ouro numa prova muito difícil - conta Welson.

Alan Fonteles sempre quis estar no esporte. Começou a correr com oito anos, utilizando uma prótese de madeira. E o sonho de ser tornar um atleta profissional chegou ao ápice nas Paralimpíadas de Londres. Ao derrotar o sul-africano Oscar Pistorius no 200m rasos T44, Fonteles se tornou não só um ídolo para Welton, mas de todo o povo brasileiro.

- A felicidade foi ter conquistado a medalha de ouro na prova dos 200m. Pistorius para mim é um grande atleta, mas na pista era só mais um entre tantos outros. Sei de toda história dele, sei de tudo que ele representa no esporte paralímpico e até nas Olimpíadas, mas a minha única vontade era ganhar, o meu pensamento era vencer a prova e, graças a Deus, eu consegui - lembra Fonteles.

A potiguar Edênia Garcia, medalhista paralímpica por três vezes, se emocionou ao falar da importância que é manter a 'chama' do esporte acesa.

- Quando eu comecei, seria muito importante ter tido esses exemplos de campeões olímpicos presentes no meu dia a dia. É muito bom participar e poder passar um pouco da nossa história às crianças. É importante passarmos uma mensagem boa, uma mensagem positiva, para que em 2016, quem sabe, o Brasil possa colher um fruto maior do que nas edições anteriores - conta a nadadora, medalha de prata em Londres nos 50m costas da classe S4.

O mais experiente do grupo é o maratonista Tito Sena. Correndo há 20 anos e vencedor de vários campeonatos, ele nunca pensou que chegaria tão longe ao vencer uma maratona olímpica.
- Eu nunca pensei que conquistaria uma medalha numa Paralimpíada. Tinha 25 anos quando comecei no esporte. A intenção era ganhar condicionamento físico para fazer um teste num time de futebol. Só que eu fui convidado para correr uma corrida de 10 quilômetros e acabei em primeiro lugar e me apaixonei pelo esporte - fala Tito.

Quem também ganha a vida correndo é o velocista Yohansson Nascimento. O alagoano fez uma prova considerada 'impecável' por muito especialistas e se tornou campeão paralímpico e recordista mundial dos 200m rasos classe T46. Ele ressaltou a importância do trabalho do projeto mantido em Parnamirim.

- Sei que o trabalho que venho desenvolvendo, desde quando eu iniciei no atletismo, é um trabalho sério. E, para mim, é uma satisfação enorme incentivar essas crianças que estão iniciando agora e poder passar uma palavra de incentivo às mães, para sempre continuarem dizendo que eles nunca desistam. Poder ver bons exemplos como Yohansson, como Alan, como Tito, como Edênia, que tiveram as mesmas dificuldades que eles e venceram na vida.

Eu não tenho dúvida que daqui a um tempo, os atletas que estão nesse evento, vão poder representar muito bem o Rio Grande do Norte e o país nos Jogos Paralímpicos - conta Nascimento.

'Espelho' dentro e fora do esporte

Além de trazerem alegria e satisfação para os atletas e para o país, as medalhas paralímpicas trazem o peso da responsabilidade do que é representar milhares de deficientes físicos. Todos sabem que têm a responsabilidade de ser um 'espelho' para os novos atletas. E a consciência de cada um mostra o quanto desenvolvido pode ser o esporte brasileiro.

Edênia Garcia lembra que, fora do esporte, é necessário passar sempre mensagens para os jovens aprendizes.

- Eu tenho a consciência que tenho que passar algo bom, e é o que eu faço todos os dias. Eu treino bastante para manter meus resultados na piscina, mas, fora isso, precisamos ter um resultado fora do esporte, que é a parte social, que é passar a mensagem de esporte, de lazer e qualidade de vida para essas crianças. Elas necessitam disso, de uma qualidade de vida melhor e saber que elas podem atuar como um cidadão na sociedade - fala a nadadora.

Tito Sena fala sobre a 'força' que o esporte pode proporcionar à vida das crianças.

- Infelizmente, hoje a droga está matando nossos jovens e, se nós colocarmos esses jovens no mundo do esporte, vamos mostrar a eles a força que eles terão. Vamos estar ocupando o tempo deles com algo positivo - conta Tito.

Já o velocista Yohansson Nascimento mostra toda a gratificação recebida por conta da conquista.

- É uma responsabilidade muito grande para mim porque me olham como um espelho, como um exemplo a ser seguido. É uma gratificação porque sei que tudo que estou fazendo está valendo a pena e o que eu puder fazer para ajudar esses novos atletas, eu vou ajudar - declara Yohansson.

Alan Fonteles mostra que a responsabilidade aumenta com cada nova medalha que apareça. No entanto, será um incentivo conquistar mais lugares no pódio.

- Para mim é uma felicidade muito grande poder servir de espelho para essas crianças e que eles possam chegar e dizer 'se o Alan conseguiu eu também posso conseguir'. Vou continuar lutando para mostrar aos novos atletas como é importante ter determinação para vencer - finaliza o atleta.