O namorado da estudante Caroline Silva Lee, de 15 anos, morta a tiros durante roubo em Higienópolis, em São Paulo, na madrugada de domingo (21), disse nesta segunda-feira (22) à imprensa que a adolescente "só não quis entregar a bolsa dela" para os assaltantes.

Caroline e Jardel Alves do Nascimento, 24 anos, namoravam há mais de um ano, praticavam Kung Fu na mesma academia, e gostavam de rock. Por volta das 2h de domingo, eles caminhavam a pé pela Rua Sabará, voltando da festa de aniversário de uma amiga em direção à casa dele, quando dois criminosos os abordaram. Câmeras de segurança, que estão com a Polícia Civil, gravaram o momento em que os bandidos seguem o casal. Um terceiro comparsa estava num carro roubado, um Fiat Idea, acompanhando o assalto.

Apesar de Jardel ter dito nesta segunda aos jornalistas que sua namorada se recusou entregar a mochila à dupla, ele alegou que isso não significa que ela reagiu ao assalto. Após pegar as mochilas do casal, telefones celulares e câmeras fotográficas, um dos criminosos teria atirado sem motivo, segundo o namorado disse no domingo em seu depoimento no 27º Distrito Policial, no Campo Belo, onde o caso foi registrado.

De acordo com a investigação, enquanto Jardel buscava socorro para a namorada, o trio fugiu no veículo. Horas após o crime, três homens num carro roubado foram perseguidos pela Polícia Militar e presos no domingo, na Avenida 23 de Maio, após trocarem tiros com os policiais e baterem o automóvel. Segundo a polícia, Marcus Vinícius Correa Gomes, 19, Alex Rodrigues Venâncio e Claudinei Avelino Modesto, ambos de 18, confessaram a participação no assalto e no assassinato da garota. O trio foi indiciado por latrocínio (roubo seguido de morte) e roubo duplamente qualificado (por causa do Fiat Idea usado pelo grupo, que foi roubado durante assalto no final de semana anterior, no Campo Belo).

Deboche

Quando eram menores de 18 anos de idade, os três presos já haviam sido internados na Fundação Casa (extinta Febem) para cumprir medidas sócio-educativas por terem cometido tráfico de drogas, rouba e furto. Segundo o boletim de ocorrência do assassinato de Caroline, registrado no 27º Distrito Policial, em seu interrogatório, Marcus Gomes, responsável pelos dois disparos que mataram a estudante, não demonstrou arrependimento e riu da situação, afirmando que "é isso que acontece para quem reage".

Segundo Adalberto Henrique Barbosa, delegado da 2º Delegacia Seccional Sul, durante o interrogatório dos criminosos, Gomes deu a declaração aima quando foi indagado se estava arrependido. "É lamentável que um sujeito desses não tenha sequer arrependimento", disse o delegado.

Bolsa

“Ela só não quis entregar a bolsa dela. O cara saiu com a arma e atirou nela. Falei para ela entregar a mochila, ela não quis e ficou segurando”, disse Nascimento aos jornalistas, durante o velório de Caroline no Cemitério Valle dos Reis, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

O corpo da estudante era velado no cemitério desde o domingo e deve ser enterrado ainda nesta segunda. A jovem era estudante bolsista do 2º ano do ensino médio do Colégio São Luís, tradicional escola particular na região da Avenida Paulista. Jardel e Caroline namoravam há 1 ano e 2 meses. Segundo o professor de Kung Fu deles, Francisco Nobre, de 42 anos, o casal planejava montar uma academia para, no futuro, dar aulas de artes marciais.

"No final de semana retrasado, Jardel e Caroline tinham participado de uma competição de Kung Fu no estado de São Paulo. A menina, que sempre foi dedicada, acabou vencendo na sua categoria, a iniciante juvenil", disse o professor Nobre.

O professor de Kung Fu discorda da informação dos criminosos de que sua aluna reagiu ao assalto e por isso atiraram. "Sempre orientei meus alunos a não reagir. O Jardel me disse que ele percebeu que o trio os seguia e falou duas vezes para Caroline não reagir. Quando os bandidos se aproximaram, ela não não reagiu, apenas se assustou, ficou congelada ao ver os criminosos e segurou a bolsa dela. Foi aí que um deles atirou", afirmou Nobre.

Durante o velório, colegas de Caroline seguravam rosas e flores brancas.

Justiça

A recepcionista Maria Lee, de 40 anos, contou que Caroline sempre tirou boas notas e, por isso, conseguiu uma bolsa de estudos. “Ela sempre tirou notas boas. Ela tinha vários planos: de fazer Fatec, corria atrás de curso de inglês. Ela fazia curso de violão, artes marciais. De tudo isso, ela corria atrás, com o próprio esforço”, disse Maria Lee.

“O delegado falou que o homem [que atirou] tem sangue frio. Eu quero que eles fiquem 40 anos na cadeia”, afirmou a mãe, que estava sob efeito de traquilizantes.

A adolescente que perdeu o pai, um corenano vítima de um câncer, há 6 anos, morava com a mãe e um irmão, de 17 anos, em uma apartamento na região da Bela Vista. “O menino ficou em casa, em estado de choque e vai me dando força aos poucos”, disse a recepcionista.

Revoltada, a mãe pede justiça. “Esse mundo tem que mudar. São muitas pessoas morrendo. Como uma mãe que perde a única filha por causa de um celular, de uma máquina, que um bandido vem, chega na esquina e troca por R$ 10 ou por maconha. Para quê [matar]?”, indagou.