Morais repensou a aposentadoria e quer voltar a jogar futebol. O meia, ex-Vasco e Corinthians, pretende estar na ativa em janeiro da próxima temporada.

Em junho, ainda com contrato com o Bahia, ele decidiu parar. Já são quase quatro meses vivendo em Maceió (AL) com os filhos, onde a família também tem negócios.

– Achei que seria mais fácil estar longe da bola, mas é complicado ficar em casa. Pensei: “Vou dar um tempo, de repente até largo”. Lembrei o que o Ronaldo falou. “Jogador de futebol morre duas vezes”. Morre quando para de jogar e na vida. Quero ressuscitar

O principal motivo que o fez pensar em desistir da carreira foi a doença do pai Manoel, de 62 anos, que sofre de diabetes e mal de Parkinson. Preocupado e culpado por ter saído de casa muito cedo (aos 13 anos foi treinar na base do Vasco), Morais decidiu que iria cuidar dele.

O desejo de largar o futebol, porém, também foi influenciado por dramas médicos. Poucos meses antes de parar, ele começou a sentir fortes dores de cabeça, com suspeita de tumor, logo descartado após visita a um neurologista. Foi constatada uma “cefaleia de tensão”, ou seja, dor de cabeça relacionada a stress e questões psicológicas, que foi curada com tratamento homeopático.

Para a medicina esportiva, Morais é um caso peculiar. Em 1997, ainda jogador de base, ele fazia tratamento para combater uma bronquite e descobriu ser alérgico a diversas substâncias, como antiinflamatórios e antibióticos (veja abaixo).

O fato prejudica suas recuperações, que passam de simples lesões a grandes problemas.

Em junho de 2007, grande destaque do Vasco, ele chegou a figurar na pré-lista de Dunga dos convocados para a Copa América. Porém, um corte na perna direita e uma pubalgia o tiraram de combate por mais de cinco meses.

O último caso foi a cirurgia para curar um abscesso (infecção subcutânea) na perna, em setembro de 2011. A temporada no Timão, que depois se sagraria campeão brasileiro, acabou ali. Sem espaço, ele foi emprestado para o Bahia, onde aguentaria o futebol por seis meses.

Hoje, Morais vê o pai com a saúde estável e o incentivando a jogar. Sua rotina é passear com os filhos na praia, levá-los à escola à tarde e manter a forma em uma academia particular. O contato com o futebol é pela televisão, onde acompanha jogos de Séries A e B. Aos sábados, jogado futebol em campo de soçaite ao lado de familiares contra os “playboyzinhos de Maceió”. Ele garante que está dando baile e ainda tem bola para brilhar como atleta profissional.

– Eu quero voltar a jogar. Claro que é importante estar num grupo forte. Não precisar dar de herói. Sofri no Vasco, o clube passou momentos complicados, sem dinheiro, e eu sempre renovando o contrato, achando que era herói, e está cheio de herói por aí no cemitério. Quero jogar, pegar um clube bom – disse.

Bronca após ‘besouro ter fumado maconha’

Em janeiro de 2010, Morais, que estava na reserva no Corinthians, foi sondado por outros clubes. Durante a pré-temporada em Itu (SP), Mário Gobbi Filho, então diretor de futebol do clube alvinegro, soltou frase emblemática: “Olhe dentro do meu olho. Se tiver um besouro fumando maconha, o Morais sai”.

– Eu lembro que ele apelou comigo com essa frase (risos). Tinha notícias de eu sair, ele me chamou e falou: “Você não vai para lugar nenhum!”. Eu respondi que estava tranquilo – conta o jogador.

Em maio, o meia se cansou de não ser aproveitado e decidiu ir embora. A saída foi conduzida por seu empresário, Fabiano Farah, e o então presidente Andrés Sanchez. As manchetes foram “E o besouro fumou maconha...”. E Gobbi ficou enlouquecido com o acontecimento.

– Comecei a ficar no banco, não jogava, queria jogar mais. Falei com o meu empresário, acertei com o Andrés minha saída... Aí saiu a história que o besouro tinha fumado maconha (risos). Gobbi ficou doido. Me chamou à sala dele e me deu uma bela dura (risos). Eu tinha de pedir desculpas, porque ele sempre me deu muita moral. Aconteceu o que tinha de acontecer. Agora é pensar no que está para vir, que é só coisa boa – diverte-se Morais.

MEDICAÇÕES PROIBIDAS PARA MORAIS

Diclofenaco - Antiinflamatório, comercializado principalmente como Voltaren e Cataflan. Usado para aliviar dores pós-traumáticas e pós-operatórias, inflamação e edema muscular.

Profenid - Antiinflamatório, antitérmico e analgésico, indicado no tratamento de inflamações e dores decorrentes de processos reumáticos, traumatismos e de dores em geral.

Dipirona - Mais conhecido como Novalgina, funciona como analgésico e antitérmico e antipirético. Indicado para combater dores e febre.

Torcilax e Dorflex - Fazem parte da classe dos relaxantes musculares. Indicados para alívio da dor associada a contraturas musculares decorrentes de processos traumáticos ou inflamatórios e em dores de cabeça tensionais.

Penicilina - Comercializado como Benzetacil e Climaciclim. Antibiótico para combater infecções em lesões, eliminando bactérias. Principal via de administração é por injeção intramuscular.

MEDICAÇÃO PERMITIDA

Celebra - Antiinflamatório e analgésico em cápsulas. Efeito é mais devagar do que os remédios administrados por injeção intramuscular. É o único remédio que Morais toma após realizar cirurgias, sentir dores ou sofrer uma entorse, por exemplo.

COM A PALAVRA: JULIO STANCATI

Médico do Corinthians, tratou de Morais entre 2008 e 2011

'O caso dele é atípico no futebol'

"O que atrapalhava o Morais é que ele tinha muito broncoespamos (dificuldade respiratória). Qualquer gripe que fosse ficava muito forte, e ele desencadeava muitos casos infecciosos.

Ele também ficava com alergia direto, o peito chiava muito. Lembro que perdeu muito treinamento e jogo por essa razão. Ele sentiu muita dificuldade no Corinthians. O fato de não poder tomar diversas medicações é um fato muito atípico no futebol. Mas o que mais atrapalhava eram os problemas respiratórios frequentes, falta de ar... Teve vezes que ele não podia treinar, e parava de treinar por até cinco dias. Fizemos diversos exames nos pulmões, respiratórios, mas nunca apontou nenhuma doença específica"

A ZICA DE MORAIS

Lesões e casos 'bizarros' atrapalharam a carreira do meia

1. Pubalgia – Em junho de 2007, Morais sofreu uma pubalgia crônica. Ele havia sido pré-convocado por Dunga para a Copa América de 2007, mas foi logo descartado. Sua volta demorou mais de cinco meses.

2. Dor de garganta – Em outubro de 2008, uma virose tirou o jogador de duas partidas do Corinthians pela Série B do Brasileirão.

3. Pescoço – Em março de 2009, um torcicolo vetou Morais dos gramados por mais de uma semana. O problema chegou a ser motivo de brincadeiras do técnico Mano Menzes, que se dizia inconformado com o azar do meia.

4. Joelho – Em junho de 2009, uma entorse no joelho esquerdo tirou o meia dos gramados por mais um mês. Jogador perdeu oito jogos do Timão (pela Copa do Brasil e Brasileirão).

5. Joelho II - Em setembro de 2009, uma artroscopia no joelho direito deixou-o longe dos gramados por cerca de quatros meses.

6. Infecção na coxa - Em setembro de 2011, ele teve de passar por cirurgia para a retirada de um abscesso (infecção subcutânea) na coxa direita. Com isso, perdeu a reta final do Brasileirão.