A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira marcou para a terça-feira o depoimento do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), que falará sobre denúncias de suposto envolvimento com o esquema de Carlinhos Cachoeira. Será a segunda vez que a CPI tenta ouvir as explicações do parlamentar, que admite ser amigo de Cachoeira, mas nega envolvimento com atividades ilegais. A reunião, que marca a retomada dos trabalhos da comissão, será às 15h no Senado. As informações são da Agência Câmara.
De acordo com investigações da Polícia Federal, o parlamentar teria recebido dinheiro da organização de Cachoeira. Além disso, teria alertado o contraventor sobre uma operação policial e usado o cartão dele para fazer compras. Segundo a PF, Leréia e Cachoeira conversaram por telefone pelo menos 72 vezes entre março e juho do ano passado. O nome do deputado é citado em outros 26 telefonemas entre o contraventor e supostos membros da organização criminosa.
Prorrogação
Para a quarta-feira está prevista uma reunião administrativa para decidir os próximos passos da CPI. A principal decisão a ser tomada é sobre o fim ou não da comissão. O prazo para a conclusão dos trabalhos termina em 4 de novembro. A reunião será realiza às 10h15 na sala 2 da ala Nilo Coelho, do Senado.
Mais de 500 requerimentos ainda aguardam votação na CPI. Entre eles, estão os de convocação de novos depoentes e os de quebra de sigilo de empresas laranjas. O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), defendeu a prorrogação. Ele lembrou que algumas investigações ainda não foram feitas, como as relacionadas às empresas fantasmas que receberam mais de R$ 240 milhões da construtora Delta.
"Prorrogando, nós vamos dar uma satisfação à sociedade brasileira. A CPI envolve bilhões de reais da construtora Delta, dos negócios do senhor Carlinhos Cachoeira, que, segundo a Polícia Federal, é sócio oculto da Delta. Nós temos de investigar e mostrar para o Brasil que esse tipo de coisa tem de ser punido exemplarmente", disse Bueno.
Alguns parlamentares da base governista, no entanto, consideram que a investigação já cumpriu o seu papel, que é desvendar as relações de Cachoeira com agentes públicos e privados. O vice-presidente da comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), defendeu o fim da CPI no prazo original. ¿"Se o relator conseguir entregar o relatório em tempo, não vejo razões para haver a prorrogação", disse Teixeira.
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), quer discutir a prorrogação com os líderes partidários. Para a comissão ter mais tempo para investigar, é preciso o apoio de um em cada três parlamentares do Congresso Nacional. São necessárias as assinaturas de 171 deputados e de 81 senadores, assim como foi feito para criar a CPI.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.