O prefeito de Maceió Cícero Almeida (PSD) parece ter o prazer das declarações polêmicas. No estilo “vidente do passado” analisou a vitória do deputado federal e prefeito eleito Rui Palmeira (PSDB) com frases que mostram pontas de ressentimento e ainda soam como uma confissão: o arrependimento de não ter feito Mosart Amaral (PMDB) candidato da situação.
Se Amaral não foi candidato, só há um único culpado: o próprio Almeida. Ele teve a máquina na mão, o prestígio da população e a boa avaliação de sua administração ao seu favor. Poderia ter revertido isto em capital político para o sucessor. Mas, foi personalista. Personalista até mesmo quando se envolveu no processo a ponto de parecer ele ser o candidato.
Resultado: Mosart Amaral sempre ficou na sombra e não teve terreno para ir além da candidatura de vice. Até mesmo para apoiar o chapão com o seu “vice-prefeito”, Almeida enfrentou dificuldades por conta das próprias escolhas. Largou o PP, foi para o PEN - enfrentou os problemas que lhe retiraram do guia eleitoral - e voltou em seguida, ao fazer uma sopa de letrinhas, e parar no PSD. Culpa de quem?
Se Almeida sai derrotado no processo eleitoral, mesmo sem ter concorrido, parcela desta culpa é dele. Não soube construir um grupo político que possibilitasse a construção de um projeto que visasse sua saída da Prefeitura Municipal, que visasse 2014 e - no futuro próximo - a construção de sucessor. Tinha tudo para isto. Mas, as próprias escolhas de Almeida colocaram o prefeito nas mãos dos caciques. Mais uma vez foi regido pelos “amigos de infância”. Mosart Amaral de vice, de coadjuvante!, em uma chapa que se revelou acéfala após a cabeça desta ter sido decepada pela Justiça Eleitoral.
Particulamente, acho uma pena para o processo. Seria melhor e menos traumático para o pleito e as discussões do “pós”.
Óbvio que este contexto favoreceu os caminhos para a vitória de Rui Palmeira no primeiro turno. Palmeira contou sim com a ajuda dos adversários. Isto estava posto. Mas, por qual razão Almeida só fala isto agora bancando o “vidente do passado”? Nas últimas gravações na televisão tinha se mostrado tão confiante. Parece o cara que perde o jogo e coloca a culpa no gramado, no refletor, na bola e por aí vai...
Eis a frase de Almeida, conforme matéria do Alagoas24Horas: “essa foi muito fácil, Rui. Queria muito poder disputar essa eleição, mas você tem que fazer um mandato que torne a próxima eleição de 2016 mais fácil”. Almeida faz referência a si mesmo. Faz referência a sua reeleição, quando foi reconduzido ao cargo com bastante tranquilidade. Com isto, evoca para si o título de “o vencedor”. “Espelho, espelho meu...”, deve estar a falar o prefeito neste momento?
O prefeito ainda faz análise de que o chapão - que não terminou chapão, pois se dissolveu no processo! - pecou por não pensar em uma segunda candidatura que seria Mosart Amaral ou até mesmo Galba Novaes para fazer uma campanha paralela como fez a base governista que permitiu as candidaturas do Democratas e do PPS. Ora, isso reforça uma pergunta que sempre fiz por aqui: são oito candidaturas, mas eram oito projetos? A resposta se encontra nas entrelinhas.
Numa coisa o prefeito de Maceió tem absoluta razão: se houvesse um segundo turno teríamos a oportunidade de um debate mais aprofundado. Óbvio. Mas, agora é desejar boa sorte para o prefeito eleito Rui Palmeira e esperar um bom projeto para os próximos quatro anos. Que o prefeito tenha uma oposição com conteúdo e forte na Câmara Municipal de Maceió. Que fique claro que edis não são eleitos para virarem “catengas”, formando um bloco governista que é orquestrado, que simplesmente balança a cabeça, que deturpa o conceito de bancada para servir a “vossa majestade”. Todo governo precisa de oposição crítica, analítica e forte. Deve-se desejar isto a Rui Palmeira também.
No mais, como a eleição findou no primeiro turno - bons para alguns; ruim para outros (natural do processo político) - que se desarmem os palanques, que as declarações sejam mais qualitativas do que simplesmente o “mi mi mi mi” do “after day”. E aí, eu elogio uma declaração do prefeito. A mais sóbria - ao menos na matéria do Alagoas24Horas: “que (Rui Palmeira) venha com sua juventude e inquietude, mas que venha com independência, pois desta forma será um grande prefeito. Não tenho dúvidas disso”.
Importante o uso do vocábulo “independência”, pois bem sabemos que na fase de transição, Rui Palmeira terá o desafio de aglutinar aliados e iniciar possíveis coalizões. Essa independência é necessária sem sombra de dúvidas, não é prefeito Cícero Almeida? No mais, temos que torcer para que o projeto escolhido pela maioria consiga dar certo. Afinal, Rui Palmeira será prefeito até de quem nele não votou. E neste sentido, torcer não significa ser cego, mas ter um olhar fiscalizador e em busca de resultados.
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