Seguiremos o modelo brasileiro, diz candidato opositor na Venezuela

06/10/2012 16:00 - Brasil/Mundo
Por Redação

Primeiro candidato da oposição com chances reais de derrotar o presidente venezuelano, Hugo Chávez, há 13 anos no poder, o advogado Henrique Capriles Radonski, 40, diz seguirá o “modelo brasileiro” caso seja eleito nas eleições deste domingo.

“Não se trata de limitar uma gestão de governo a um nome, somos seguidores do modelo brasileiro porque conseguiu uma importante transformação no país”, disse em entrevista por e-mail ao G1, ao ser questionado sobre as citações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha.

No início da disputa, o candidato citou “o modelo Lula” como inspiração, mas mudou o discurso após o presidente gravar mensagem de apoio a Chávez. Capriles acusa a campanha rival de tentar confundir e de usar programas sociais para manipular os venezuelanos.

O oposicionista diz que o Brasil, que vê como “um país que entende as relações internacionais como relações entre Estados e não entre governantes”, será um dos primeiros destinos que visitará se eleito.
Após uma campanha frenética, em que percorreu 280 cidades, com visitas a até três destinos num único dia, o candidato chega à reta final confiante nas pesquisas que mostram uma redução na distância entre ele e o rival e na sua estratégia de “porta a porta” -a mesma utilizada por Chávez quando se elegeu a primeira vez, em 1998.
“Nós representamos uma candidatura de carne e osso, que visitou as cidades e conversou com o povo. Enquanto nós viemos dar soluções, o governo leva uma candidatura de cartazes e mensagens de televisão. Os votos se ganham nas ruas, não atrás de uma tela.”
G1 – Algumas pesquisas na Venezuela mostram Chávez muitos pontos à frente, outras indicam o senhor com uma pequena vantagem. Em qual delas o senhor acredita? Por que há tanta diferença?
Henrique Capriles – As pesquisas que o governo apresentou e que o apontam como ganhador são as mesmas que indicavam que nós íamos perder as eleições a governador de Miranda em 2008 e ganhamos em um reduto forte do chavismo. E atente: agora, segundo as mesmas pesquisas, a distância se reduziu.
Para nós, a verdadeira pesquisa está nas ruas, nesse povo que nos recebeu com carinho, com afeto e com vontade de alcançar um futuro melhor.
Nós representamos uma candidatura de carne e osso, que visitou as cidades e conversou com o povo. Enquanto nós viemos dar soluções, o governo leva uma candidatura de cartazes e mensagens de televisão. Os votos se ganha nas ruas, não atrás de uma tela.
G1 – O senhor disse que adotará um “modelo Lula” na Presidência e há referência em seu plano de governo a programas sociais do ex-presidente, como o “Fome Zero”. Mas Lula apoia Chávez e inclusive gravou um vídeo para a campanha dele. Isso não confunde o eleitor venezuelano?

Capriles – Este governo tenta utilizar este tipo de coisa para confundir e criar tensão, mas não conseguiu porque os venezuelanos estão certos no caminho que querem para nosso país. Não se trata de limitar uma gestão de governo a um nome, somos seguidores do modelo brasileiro porque conseguiu uma importante transformação no país. Nós acreditamos nas capacidades do povo e valorizamos o esforço de cada um de nós para progredir.

Vamos implantar um modelo onde o privado e o público trabalhem em conjunto enquanto o Estado gera confiança, respeita as regras do jogo e de segurança jurídica. Assim, criaremos novas oportunidades de emprego para os venezuelanos e os impostos que o setor privado pagar serão destinados ao bem estar social.

G1 – Se ganhar as eleições, como acredita que vão ser as relações da Venezuela com o Brasil e o governo Dilma?

Capriles – O Brasil é um país que entende as relações internacionais como relações entre Estados e não entre governantes. A política externa que desenvolveu durante anos é de Estado. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo de nosso país. Aqui temos uma política externa ideologizada, baseada nos interesses do governo atual e não nos dos venezuelanos.

Nós queremos diversificar nossa economia, para tanto, nos interessa manter relações de cordialidade com todos os países, obviamente, garantindo sempre que os acordos se transformem em benefícios para nosso povo e não em descontos no preço do petróleo.

Queremos abrir nossa economia a outros mercados e o Brasil é um deles. Será um dos primeiros países que visitaremos uma vez eleitos, levaremos nossas propostas de exportação.

G1 – O senhor é de uma família de origem judaica polonesa. Como serão as relações com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, inimigo declarado de Israel e aliado de Chávez?

Capriles - Sabemos que as relações com o Irã são contrárias aos interesses dos venezuelanos, mas isso não quer dizer que as romperemos, vamos revisá-las. Queremos relações cordiais com todos os países e estabelecer relações que permitam a geração de empregos de qualidade, que aumentem o número de empresas e que consigamos uma capacidade exportadora em consonância com nossas vantagens competitivas.

G1 – O programa de governo apresentado pela Mesa de Unidade Democrática [coligação de partidos de oposição que o apoia] menciona eliminar as reservas do fundo das missões, programas sociais de Chávez. Mas o senhor diz que dará continuidade a esses projetos. Como?

Capriles – As missões devem ser mantidas, mas devem melhorar. Devem servir como um passo prévio para alcançar o avanço de nosso povo e não um fim em si e, o mais importante, que não se exija de um venezuelano ser de um determinado partido para poder ser beneficiado por elas. Justamente para isso nós estamos propondo uma lei para dar status legal à missões, que são uma conquista do povo e ninguém tem direito de tirar, mas podemos sim melhorá-las e formalizá-las para que realmente sejam um impulso para avançar. Vamos governar para todos igualmente, sem se importar com o que pensam. Não podemos utilizar as ajudas e apoios sociais para manipular nosso povo em favor de interesses particulares.

G1 – Considera que a decisão de excluir da campanha o deputado Juan Carlos Caldera, que foi surpreendido recebendo dinheiro de um empresário vinculado a Chávez dias antes das eleições, afetou sua campanha ? O senhor falou com ele após o episódio?

Capriles – Minha avó me dizia que o mais importante é nosso nome, por isso sempre fui e serei um livro aberto e não vou permitir que ninguém, em meu nome, obtenha privilégios para benefício pessoal. O deputado Caldera se colocou à margem dos princípios que identificam essa campanha e por isso ficou de fora. Ninguém tem direito de utilizar meu nome para obter qualquer benefício. Não vamos permitir que esse governo nos meta em seu pântano. Nós não estamos aqui para defender os interesses de nenhum grupo, mas sim para construir uma Venezuela em que os venezuelanos sigam adiante e ninguém vai nos tirar desse caminho.

G1 – Chávez disse durante a campanha que há uma ameaça de guerra civil se o senhor ganhar e também mencionou que a inteligência do governo impediu uma plano para matá-lo. Isso atrapalhou?

Capriles – O governo apela à ameaça e tenta meter medo em nosso povo porque sabe que está perdido, mas nós venezuelanos já conhecemos o jogo dele e não cairemos. Querem semear medo no povo que acredita no crescimento, mas a esperança sempre vence o medo. Os venezuelanos decidiram mudar. As eleições se ganham com votos e no dia 7 de outubro seremos testemunhas dessa mudança que vem para a Venezuela.

G1 – Junto com Cuba, Chávez é também um dos fiadores das negociações de paz com as Farc na Colômbia. Como ficará esse acordo se o senhor ganhar?

Capriles – Nós contribuiremos com o processo de paz na Colômbia, a paz em nosso país vizinho também interessa aos venezuelanos. Não queremos que nossa zona fronteiriça seja território propício para que se escondam grupos irregulares. Também dissemos ao presidente [Juan Manuel] Santos que entregaremos uma lista com os nomes de todos os venezuelanos que permanecem sequestrados em território colombiano para agilizar o resgate.

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