Em 20 anos, a família de Paulo César Farias, ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello, assistiu a glória e a decadência. Do auge da era Collor até hoje, ninguém imaginava, em Alagoas, que os Farias enfrentariam a morte, indiciamentos na Policia Federal por compra de votos e trabalho escravo, prisões e a falta de um representante na política local.

Mas, os irmãos e sobrinhos de PC Farias ainda mantêm a riqueza e a ostentação que fizeram a fama do parente mais poderoso. Todos, menos os filhos de PC. Paulinho e Ingrid têm uma vida discreta. Moram na mansão do pai, no bairro de Cruz das Almas, em Maceió, alugada para as festas da elite alagoana. A casa de veraneio de Maceió, no bairro de Guaxuma, onde o pai foi assassinado, também é frequentada pelos dois.

Eles não falam com a imprensa. E quando o assunto é o passado, os Farias recusam entrevistas. O tio dos dois, o ex-deputado federal Augusto Farias, chegou a ser apontado como o mentor da morte do irmão, mas as acusações foram arquivadas no Supremo Tribunal Federal (STF). Augusto é dono de uma concessionária de veículos, que era tocada em parceria com o irmão, Cláudio, morto em agosto de 2008, de câncer.

Em maio deste ano, a concessionária foi alvo de uma ação de busca e apreensão em investigações do Ministério Público Estadual. Para o MP, há uma relação entre a empresa e a venda de um terreno na cidade de Rio Largo, destinado à construção de casas às vítimas da enchente de 2010. O prefeito de Rio Largo, Antonio Lins Souza Filho, e todos os vereadores foram presos porque o terreno era público e teria sido vendido de forma irregular. O processo está na Justiça, sem data para julgamento.

Augusto Farias é presença rara na política local. Foi visto da última vez em junho, ao lado de Collor e do senador Renan Calheiros (PMDB), no lançamento da candidatura do ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) à Prefeitura de Maceió. Elegeu-se e reelegeu-se deputado federal de 1991 a 2006, no rastro da fama do irmão, PC. Em 2006, disputou e perdeu, mas voltou à Câmara após a morte do titular da vaga, Gerônimo Siqueira.

Em 2010, desistiu da reeleição e fez campanha o deputado federal João Lyra (PTB) - pai de Thereza Collor, mulher de Pedro, irmão de Collor. Em 2003, Augusto foi preso pela Polícia Federal, sob acusação de trabalho escravo. Ele sempre negou o crime.

O outro irmão de PC, Rogério, tenta se eleger prefeito da pequena Barra de Santo Antônio (40 quilômetros de Maceió). Em 2008, também foi preso por agentes da Polícia Federal, em casa. Investigações do Ministério Público Federal apontavam que Rogério encabeçava um esquema de compra de votos na cidade de Porto de Pedras, litoral sul alagoano. Ele foi indiciado pela PF em oito crimes federais, entre eles, formação de quadrilha, corrupção passiva e eleitoral. O processo tramita na Justiça.

Rogério teve o mandato cassado dois meses após assumir a prefeitura por ocupar o terceiro mandato consecutivo à frente do Executivo. Ele teve dois mandatos como prefeito da Barra de Santo Antônio. Renunciou e transferiu o título eleitoral para Porto de Pedras. Perdeu o cargo, mas não o poder. Ajudou a eleger o correligionário Boi Lambão à Prefeitura, em nova eleição na cidade. E tenta, ele mesmo, se eleger na Barra de Santo Antônio. Declarou ao TSE o patrimônio de R$ 1,3 milhão. A filha de Rogério, Camila Farias, sobrinha de PC, disputa a prefeitura perdida pelo pai, em Porto de Pedras.

O governo Collor

Fernando Collor de Mello chegou à presidência após vencer, no segundo turno, o candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 1989. Ele assumiu em março de 1990, tornando-se o primeiro presidente eleito de forma direta após a ditadura militar e o mais jovem a ocupar o cargo no Brasil.

O governo Collor durou pouco mais de dois anos e foi marcado por medidas econômicas polêmicas, como os planos Collor I e II, que tentavam estabilizar a inflação, e a abertura para produtos e empresas estrangeiras. A concessão para exploração do sistema de transportes, o fim da proibição da participação estrangeira no setor da comunicação, o fim do monopólio da Petrobras na exploração de petróleo e as primeiras privatizações também foram medidas adotadas durante o governo de Fernando Collor.

Em maio de 1992, em entrevista publicada pela revista Veja, Pedro Collor, acusou o empresário alagoano Paulo Cesar Farias de ser o testa-de-ferro do presidente. As denúncias do irmão do presidente levaram o Congresso Nacional a instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar a relação de PC Farias com o governo. Um dos primeiros depoimentos colhidos na comissão foi o de Pedro Collor, que acusou PC de montar uma rede de tráfico de influência no governo com a conivência do presidente.

Em julho, o motorista Eriberto França foi à CPMI e confirmou os depósitos de PC Farias para a secretária do presidente, Ana Acioli. No mês seguinte, os parlamentares conseguiram comprovar que a reforma da Casa da Dinda, residência de Collor em Brasília, foi paga por uma empresa de PC. O relatório final da CPMI foi apresentado no dia 26 de agosto de 1992. Depois de 85 dias de trabalho, o senador Amir Lando conclui a investigação incriminando o presidente Collor.

Em meio a uma onda de manifestações por todo o País, os presidentes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Barbosa Lima Sobrinho, e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcelo Lavenère, apresentam à Câmara dos Deputados, no início de setembro, o pedido de impeachment. O pedido foi votado no dia 29 do mesmo mês e aprovado por 441 votos a favor, 38 contra e uma abstenção. Com isso, o presidente foi afastado do cargo até o Senado concluir o processo e o vice, Itamar Franco, assumiu.

Em dezembro, quando o Senado começava o julgamento, Collor apresentou sua carta de renúncia para tentar evitar o impeachment. O documento não foi aceito e, por 76 votos a favor e dois contra, Fernando Collor foi condenado e perdeu seus direitos políticos por oito anos. A ação penal contra o presidente por corrupção passiva foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em dezembro de 1994. Após quatro dias de julgamento, a maioria dos ministros do Supremo absolveu Collor por falta de provas.