Antes de ser diagnosticada como portadora de diabetes tipo 1, a paulista Daniela Arantes já convivia com a doença, a prática de atividade física e a superação há muito tempo. Quando adolescentes, ela e a irmã gêmea Gabriela jogavam futebol e chegaram a participar da seleção brasileira sub-17. Aos 19 anos, seis meses depois de entrarem para faculdade de Educação Física, o pai delas faleceu por conta de um câncer. Para minimizar a sensação da perda, as duas resolveram se dedicar à corrida de rua. Passados mais três meses, mais um choque: Gabi descobriu que era diabética.

Para entender o que estava acontecendo, as duas começaram a estudar sobre a doença sem deixar o esporte de lado. Perceberam que o exercício ajudava a controlar a glicemia de Gabi e fizeram o trabalho de conclusão do curso sobre o tema. Depois de formadas, as duas montaram na cidade de São Paulo uma assessoria esportiva que atende também a portadores de diabetes. O que Dani não esperava é que, aos 29 anos, assim como a irmã, viria a ser diagnosticada com a doença.

- Isso aconteceu há quase um ano (em outubro de 2011), quando nós voltávamos da maratona de Buenos Aires. Não me senti bem durante a viagem. Como sabia que era predisposta a ter a doença, desconfiei que poderia ser diabetes. Mas a descoberta aconteceu sem traumas. Como eu já acompanhava a rotina da minha irmã, eu já sabia como lidar com o problema, pois a diabetes não limita ninguém. É só se adequar, fazer os ajustes necessários. Continuo levando a mesma vida de antes - afirma.

Assim como a irmã, ela utiliza uma bomba de insulina para correr e nunca deixou de participar de uma prova por conta da doença. Desde a primeira em 2002, já foram várias, entre as de 10km, de aventura, meias maratonas e maratonas. Mas, a mais importante está por vir: a Maratona Twin Cities, realizada na cidade norte-americana de Minneapolis (no estado de Minnesota), exclusiva para portadores de dispositivos médicos.

- Eu já tinha lido sobre a prova, mas foi a minha irmã que soube da inscrição no início deste ano através de uma conversa com uma amiga numa rede social. Mandamos uma carta para empresa que patrocina o evento para concorrer a uma das 25 vagas oferecidas e fomos selecionadas. O legal é que essa viagem é praticamente um presente de aniversário, pois vamos embarcar para os Estados Unidos no dia 3 de outubro, na véspera de completarmos 30 anos - acrescenta.

Por conta de uma inflamação no pé direito, a professora de Educação Física não poderá acompanhar a irmã na maratona (42km) e irá correr a prova de 10 milhas (16km) no evento.
- Estou com uma inflamação no sesamoide (pequenos nódulos ossificados inseridos nos tendões) e por isso estou inscrita na corrida de 10 milhas. Apesar desse problema, estou treinando três vezes por semana, na esteira e na pista do campus da USP (Universidade de São Paulo). Eu e a Gabi estamos nos preparando juntas, mas com volume de treinos diferentes.

Sobre a paixão que a move a praticar esporte, apesar da doença e das lesões, Dani é enfática.

- Eu e a minha irmã sempre praticamos alguma atividade física. Aprendemos a gostar de esportes por causa do meu pai. A gente sempre via jogos juntos e se divertia juntos. Para mim, a vida não tem sentido sem exercício físico. E o legal dessa corrida que vamos participar é que ela mosta que você pode levar uma vida normal apesar de ser dependente de um dispositivo médico. A gente não pode ter a vida limitada por conta de um problema. Sou muito competitiva e não iria me permitir a isso. Eu preciso de um objetivo para seguir em frente e o esporte me proporciona isso - conclui a corredora.

O evento

A Maratona Twin Cities e a corrida de 10 milhas é um evento anual que conta com o patrocínio de uma empresa que produz dispositivos médicos, como marcapassos e bombas de insulina, para tratamento de condições crônicas como doenças cardíacas, diabetes, problemas de coluna, dores crônicas e distúrbios neurológicos. Na prova deste ano, a ser realizada no dia 7 de outubro, 25 corredores de nove países (Austrália, Áustria, Canadá, Israel, Noruega, África do Sul, Espanha, Estados Unidos e Brasil) que usam algum tipo de aparelho vão participar do evento com todas as despesas pagas, além de doar mil dólares em nome de cada corredor a uma associação de pacientes que educa e apoia as pessoas que vivem com a mesma condição do atleta. Em 2011, Júlio César Batista Lucas, de 45 anos, morador de Franca (SP), foi o primeiro brasileiro a participar da corrida, completando as 10 milhas.