Brasil Sem Miséria leva assistência técnica a quilombos do Maranhão

20/09/2012 16:00 - Brasil/Mundo
Por Redação

“O que entrar na rede é peixe!”, diz, sorrindo, Seu Carrão, ao comemorar a chegada da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e Fomento do Plano Brasil Sem Miséria ao quilombo Manival, onde vive. Localizada no município de Alcântara, no Maranhão, a uma hora de balsa da capital São Luís, a comunidade reúne 120 famílias em uma área de 7,5 hectares.

Otávio Néris Mendes, o Seu Carrão, 50 anos, é o representante dos moradores. Nascido e criado no quilombo, ele conta que durante muitos anos a pesca foi a principal fonte de renda da comunidade, mas hoje não é o suficiente para garantir o sustento do dia. “Quando a pesca é boa, faço uns 25, 30 reais no dia.”

Além do pescado, a farinha produzida da maniva (mandioca), raiz que dá nome ao quilombo, foi durante décadas uma das principais fontes de geração de renda e alimento para essas famílias. “Hoje, a gente ainda produz a farinha, mas muito pouco e só para o nosso consumo”, diz Carrão.

Com a Ater e o Fomento, Carrão e os moradores de Manival esperam aumentar a produção e a renda. “Com a ajuda do governo, certamente a gente vai melhorar”. Para ele, além do fomento pago pelo governo federal às famílias, no valor de R$ 2,4 mil, em no mínimo três parcelas, a assistência técnica rural é fundamental para a comunidade. “Não adianta somente passar o dinheiro. A gente tem que aprender a trabalhar melhor a terra. Por isso, é importante essa medida que vai trazer técnicos para ensinar as famílias a produzir mais e melhor.”

O vizinho e irmão de Carrão, Jaime Mendes, 58 anos, concorda. “Muitas vezes, a gente produz errado. Trabalhei durante muitos anos colocando fogo na terra. Agora, estou aprendendo a trabalhar com adubação, mas ainda não tenho muita experiência.”

Assim como o irmão, a principal fonte de renda de Jaime vem do mar: o pescado. “Eu pesco robalo, iritinga e camarão. Consigo, em média, 25 reais por dia, para alimentar meu filho e minha mulher.”

Bolsa Família – Viviane Fátima, 29, tem duas filhas, Suenia, 10 anos, e Suelen, 9. Elas estudam na escola localizada na comunidade. A principal fonte de renda da família é o Bolsa Família. Viviane recebe hoje R$ 134 do programa. “Com o dinheiro, compro as coisas que não consigo tirar da minha terra e também roupa e material escolar para minhas filhas”.

Na propriedade onde vive, Viviane cria porcos, banana e cultiva uma horta. A casa era de taipa, como a maioria que havia nas comunidades quilombolas tempos atrás. Há dois anos, ela foi contemplada pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

Agora, com a chegada da Ater e do Fomento em Manival, ela quer aprender cada vez mais a cultivar e gerar renda na terra que lhe pertence. “Ah! Primeiro veio o Bolsa Família, que me ajuda muito até hoje. Depois consegui minha casa própria”, lembra Viviane. “Agora, consigo dormir mais tranquila, tenho mais segurança e conforto na casa nova. E, para melhorar ainda mais, vamos ter assistência pra gente poder trabalhar melhor a terra e aumentar a renda.”

O coordenador da chamada pública de Ater Quilombola e consultor do Instituto Terra, Pedro Pascoal, diz que, com a entrada desses recursos nas comunidades quilombolas, será possível incluir essas pessoas nos programas e ações que elas têm direito. “Uma das nossas metas é fazer a ponte desse público com as políticas públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA, por exemplo.”

Com uma equipe composta por sete profissionais – entre eles, agrônomos, pedagogos, técnicos agrícolas e administradores –, Pascoal assinala que o objetivo é fazer com que a população quilombola produza cada vez mais e garanta renda à família. “Queremos que essas famílias continuem produzindo, só que melhor, com acompanhamento técnico e incentivo financeiro do governo federal.”

É o que espera José Ubiratan Cunha, 60 anos, e a mulher Maria de Nazaré, 44. Eles são casados há 25 anos e nascidos e criados na comunidade quilombola Paquatiua, ao lado de Manival. “Quem sabe até entrar no PAA e vender para o governo. Seria muito bom. Temos muitas necessidades aqui, o povoado tem muita carência”, diz José.

No início do mês, ele conseguiu 20 quilos de feijão branco, na última colheita. De acordo com José, a maior parte vai ser estocada para o consumo da família. “A gente não deve vender, não. Vamos guardar para qualquer necessidade.”

Em Paquatiua vivem aproximadamente 45 famílias. Assim como na vizinha comunidade de Manival, elas dependem da pesca e do pouco que produzem na roça para sobreviver.

Maria de Nazaré, a mulher de José, recebe R$ 70 do Bolsa Família, o que, segundo ela, é fundamental para comprar as coisas que faltam. “O nosso prato principal é o que a gente produz aqui, como o feijão, mandioca e o peixe que o José pesca. As coisas que faltam eu compro graças ao Bolsa Família”.

O dinheiro do programa de transferência de renda do governo federal também serve para pagar a água que o casal consome. “Temos um poço comunitário e cada família dá R$ 13 por mês para manutenção e preservação”, conta Maria.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes) do Maranhão, 80% da população do município de Alcântara é quilombola, totalizando cerca de 162 comunidades.

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