Época de eleição e as denúncias de crimes eleitorais crescem em Alagoas. Uma delas envolvendo um programa do governo federal cujo único objetivo é beneficiar famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o País: o Bolsa Família. São milhões de recursos destinados mensalmente para a classe baixa do país e com isso, a chance de 'oportunistas' em tirar proveito para garantir votos, sendo considerada uma fácil 'moeda de troca'. 

A denúncia chegou ao Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral em Alagoas (MCCE), que protocolou, na semana passada, representação no Ministério Público Eleitoral e Estadual, contra políticos e gestores do município de Atalaia, que suspostamente estariam usando o programa federal como compra de votos e desvio de dinheiro público. A documentação encaminhada aos órgãos competentes conta com a denúncia de beneficiários do programa que afirmam não estarem recebendo os valores devidos do programa federal.

Na representação feita pelo MCCE, constava nomes dos gestores do municípios envolvidos na suposta rregularidade: o atual prefeito do município, Chico Vigário; o vereador José Adelson de Araújo Almeida, conhecido como “Zequinha Collor”; o candidato à prefeitura Manoel Oliveira, “Professor Mano”; Michele Oliveira, candidata a vereadora, todos do PTB, além de Rommenig Rodrigues e Suzana Albuquerque, gestor e coordenadora do programa, respectivamente.

Outro ponto que deve ser investigado pelo Ministério Público Eleitoral e Estadual, é a ligação partidária e familiar dos envolvidos. O vereador Zequinha Collor seria pai do gestor do programa, Rommenig Rodrigues, o “Rudinho”, que é casado com a candidata Michele Oliveira, enquanto a coordenadora Suzana Albuquerque é filha do candidato a prefeito “Professor Mano”.

Vítimas denunciam o esquema de 'troca de votos'

O CadaMinuto recebeu cópias das declarações feitas pelos beneficiários, que preferiram não se identificar, temendo represálias e o cancelamento definitivo do benefício. Nestes documentos, as testemunhas relatam situações que acusam os gestores municipais. Nos relatos, os motivos para o bloqueio seriam os mais diversos, como renda superior ao permitido pelo programa, bloqueio de senha e regularização documental. O que causa estranheza, é o fato de que no momento da regularização da situação, os beneficiários foram supostamente encaminhados para a sede do PTB de Atalaia.

De acordo com as “vítimas”, após a constatação do bloqueio do benefício, ao se dirigirem a sede municipal do Bolsa Família, os beneficiários eram encaminhados para a sede do PTB municipal, onde eram recebidos pelo vereador “Zequinha Collor” para que fossem resolvidas as pendências. “Declaro que tomei conhecimento que diversas pessoas foram encaminhadas ao candidato “Zequinha Collor”, pai do Sr. Rommenig, através de um assessor desse candidato, mediante a promessa de que somente ele resolveria todos os problemas do Bolsa Família de Atalaia”, afirmou uma das vítimas em sua declaração.

Promessas feitas, os beneficiários voltavam à sede do programa, onde eram solicitados os títulos de eleitor, com a confirmação de que após a eleição, e com uma “garantia de voto” nos candidatos do partido envolvidos no “esquema”, o benefício seria devolvido.

Além da denúncia de um possível esquema de compra de votos, pesa também a suspeita de desvio dos recursos do governo federal, através do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), uma vez que os beneficiários por várias vezes retiravam extratos, confirmando valores, mas que no momento do saque, não existia saldo. 

Gestores negam se aproveitar do benefício

A reportagem do CadaMinuto tentou contato o prefeito da cidade Chico Vigário, mas o telefone estava desligado. Porém, o gestor do Bolsa Família, Rommenig Rodrigues, a coordenadora do programa, Suzana Albuquerque e o candidato a vereador do município, Zequinha Collor, citado nas acusações, falaram sobre o caso.

“Tenho todos os documentos que podem comprovar que isso tudo é problema político. Meu pai (Zequinha Collor) na eleição passada apoiava a posição, a mesma de hoje e nada aconteceu. Já imaginamos quem possa ter feito essas denúncias e caso sejamos chamados para esclarecer alguma coisa, iremos processar muita gente”, disse Rommenig.

De acordo com a coordenadora do programa, o problema no bloqueio de vários cadastros acontece por conta de uma migração de sistema e a falta de informações que deveriam ser passadas pelos beneficiários. “Mudamos o sistema e precisamos da atualização de informações. Alguns requisitos para ser beneficiado no programa é a pesagem de crianças nos postos de saúde, vacinação e freqüência escolar. Mas, algumas famílias não seguem essas regras e acabam com o benefício bloqueado”, garantiu.

Com relação à “exigência” do título de eleitor, bem como o encaminhamento de beneficiários para a sede do PTB, seriam falsas. “Nós pedimos os títulos como pedimos qualquer outro documento, como carteira de trabalho, identidade, registro de nascimento, tudo isso para reavaliar os cadastros. Eu mesmo dou graças a Deus por ter um trabalho e nunca faria nada para atrapalhar a vida de ninguém”, disse Suzana Albuquerque, que é irmã de um candidato a vereador, que não foi citado no problema.

Outro que reforçou a falsidade da informação, foi o candidato a vereador e membro do PTB municipal, Zequinha Collor, que segundo declarações feitas por beneficiários, estaria recebendo usuários do programa na sede do PTB, que nada tem a ver com o Bolsa Família. “Eu já ouvi alguns boatos sobre isso e sinceramente, não estou preocupado. Eu tenho os meus negócios, viajo muito e só estou parado aqui por conta da campanha. Isso não existe. Algumas pessoas se aproveitam dessa época de eleição para fazer denúncias desse tipo. Eu já pedi ao meu filho (Rommenig), que é gestor do Bolsa, para deixar isso para lá, porque a gente não precisa. Quem quiser vir até Atalaia para checar essa situação, pode me procurar e será, bem recebido”, afirmou.

O cenário político de Atalaia mostra o prefeito Chico Vigário deixando a prefeitura após oito anos e apóia o candidato Manoel Oliveira, o “Professor Mano”, também citado nas declarações. Ainda concorrem à prefeitura Zé do Pedrinho (PDT) e Messias Neto (PSB).