Trabalhos serão apresentados em Seminário Internacional sobre Capitalismo Burocrático

11/09/2012 05:09 - Maceió
Por Redação

Foi a partir da tese de doutorado do professor José Nascimento de França que teve início o Grupo de Pesquisa Cultura, Identidade e Movimentos Sociais, da Pós-graduação em Serviço Social. Há mais de 10 anos o coletivo analisa questões agrária, de gênero, de etnia e do acesso aos direitos sociais de grupos camponeses e movimentos indígenas no Estado Alagoano. Este mês o grupo irá apresentar os resultados mais recentes no IV Seminário Internacional sobre Capitalismo Burocrático na Explicação do Desenvolvimento e do Atraso Social: Brasil e Índia.

O evento será realizado nas universidades federais de Pernambuco e Alagoas e contará com pesquisadores que analisam a semifeudalidade contemporânea em várias regiões do Brasil e do mundo. Um dos participantes é o professor Amit Bhattacharyya, que vem da Universidade de Calcutá, Índia, para participar da conferência “A economia semifeudal indiana e as atuais mudanças na vida da população camponesa”, no próximo dia 28 de setembro, a partir das 8h, na Reitoria da Ufal, em Maceió.

O tema abordado pelo indiano faz parte das últimas investigações do grupo de pesquisa. Após anos de pesquisa em assentamentos rurais e em tribos indígenas, os professores estão analisando o processo de continuidade da dominação econômica e política da indústria sucroalcooleira no Estado de Alagoas. “Nessa pesquisa a gente detectou questões importantes, como a da política de predomínio da produção de cana-de-açúcar nas terras alagoanas. Cinco séculos depois após o início da colonização, cerca de 90% dos alimentos produzidos no estado é da cultura de cana-de-açúcar”, define José Nascimento.

Semifeudalismo e coronelismo

Conforme o professor voluntário da Faculdade de Serviço Social (FSSo), o semifeudalismo provoca na região características extremamente negativas, como o Coronelismo e o desenvolvimento de uma economia à disposição do imperialismo. “Todos sabemos que esse sistema conforma a maneira como a sociedade alagoana pensa e age, e isso se reflete quando o governo acaba tratando os movimentos sociais como questão de polícia. Até no medo que sentimos ao falar algo que comprometa as oligarquias agrárias, revela os traços do sistema semifeudal em que vivemos”, relata Nascimento.

As experiências a serem expostas no seminário são resultados do amadurecimento do grupo, no trabalho com populações oprimidas na região. Ainda em 2003, a partir de pesquisas de iniciação científica, foram feitos estudos no Assentamento Massagano, na cidade de Maragogi. Durante quatro anos foram analisadas as relações sociais das mais de 90 famílias integrantes do assentamento.

Os pesquisadores contrastaram os procedimentos cotidianos do assentamento com os preceitos norteadores pelo programa nacional de reforma agrária. “A gente percebeu que tanto os militantes, quanto o grupo dos assentados não tinham assimilado a proposta democrática e socialista, orientada pelo Movimento dos Sem Terra”, relata Nascimento.

O pesquisador ressaltou que um exemplo disso ocorre com a questão de igualdade de gêneros, bandeira defendida pelo movimento nacional e que inexiste no local. “Eles reproduziam as relações da sociedade capitalista, inclusive o machismo e outras práticas negativas do sistema dominante, como a corrupção e a degradação do meio ambiente”, explica o professor.

Os atos de corrupção geralmente envolviam a direção do assentamento e membros de representação governamental. “Apesar de não ser algo tão corriqueiro quanto a imprensa divulga, nós víamos uma parcela dos assentados vendendo seus lotes por causa de dificuldades estruturais, mas isso só era permitido com a autorização de funcionários do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], como foi amplamente divulgado pela imprensa local”, detalha Nascimento.

O professor também relatou a prática de cobrança de taxas indevidas pelos dirigentes da Associação dos assentados da reforma agrária. “Certa vez, ao receberem recursos para a melhoria de suas casas, os assentados eram abordados por um membro da diretoria, ainda no banco, que cobrava taxas sobre o valor recebido”.

Abandono, extrema pobreza e corrupção em terras indígenas

A situação de indigência, provocada pela falta de terra e trabalho a que foram submetidas as nações indígenas, contribuiu para o envolvimento de crianças e jovens com o narcotráfico e a prostituição. Foram também constatados atos de corrupção na tribo Wassu Cocal, no município de Joaquim Gomes. Como suas terras são cortadas pela BR-104 e utilizadas pelo narcotráfico, alguns indígenas eram cooptados a participar de saques de caminhões. A tribo foi uma das três analisadas pelo grupo: “fizemos pesquisas étnico-culturais das relações sociais, de sua produção, além de suas lutas pelo reconhecimento dos territórios indígenas”, relembra Nascimento.

Os outros dois povos pesquisados foram os Xocó, na Ilha de São Pedro, em Sergipe, e os Xucuru-Kariri, na cidade de Palmeira dos Índios, onde os pesquisadores identificaram a concentração latifundiária como um dos fatores estimulantes para as más condições de vida dos indígenas. “O governo brasileiro continua com a mesma política de extermínio dos povos da época de colonização dos portugueses, ao não reconhecer suas terras e não dar educação e saúde para o seu desenvolvimento”, denuncia o professor.

Todos esses temas serão abordados no Seminário Internacional. Para participar do debate é necessário se inscrever no site do evento, onde é possível ter acesso a programação e contatos dos organizadores.

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