Eu me formei em Direito pela Universidade Federal de Alagoas, entrei no ano letivo de 2000 e o Presidente da República era Fernando Henrique Cardoso. Naquele tempo a Universidade era o espaço ideal, assim como provavelmente é até hoje, para a disseminação de ideias de esquerda, de oposição e de críticas ferrenhas ao liberalismo econômico promovido pelo Governo Federal.
Também era época propícia às greves do funcionalismo público. A moeda estável e a inflação controlada subsidiavam os ordenadores de despesas a manter os mesmos salários, ignorando por completo as armadilhas econômicas que existiam àquele tempo e que ainda hoje há. Pois a inflação por menor que fosse, sempre existiu.
Atualmente, o cenário é mais ou menos o mesmo, aqueles que eram oposição nos tempos FHC são hoje situação, a política liberal se manteve, mas o Estado tornou-se ainda mais social. Com o crescimento econômico de parcela da população, a economia média acabou sendo achatada, pois novos consumidores apareceram e com eles picos inflacionários. “Nada assustador”, diz os órgãos oficiais do governo federal, mas quem sabe o valor da cesta básica é o trabalhador.
Dentre eles os professores, classe comumente esquecida quando se fala em políticas públicas educacionais. Dificilmente recebem investimentos em sua reciclagem e aperfeiçoamento, assim como quanto ao reconhecimento do trabalho desempenhado.
Educar no Brasil é tarefa para heróis. A falência do sistema por décadas de ausência de investimento no ensino público de qualidade, em especial o básico, acabaram levando ao surgimento de uma massa de estudantes que chegam ao ensino médio e superior sem que estejam preparados, muitos sequer conseguem interpretar um texto (se bem que, convenhamos, muitos até com ensino superior completo ainda não conseguem interpretar). E acaba recaindo sobre os professores universitários a responsabilidade por reparar esse dano, isso quando encontramos educadores dispostos ao enorme desafio.
Enfim, caros leitores, o comentário de hoje é um alerta. O ensino superior do país está parado, nossa Universidade está parada, com isso são inúmeros os envolvidos sendo prejudicados, são serviços sociais destinados à população em geral que estão paralisados, os alunos atrasando-se em relação à formação e à inserção no mercado de trabalho, são professores que terão que se dedicar a criar novos planos de aula, muito mais enxutos e talvez menos eficazes.
A qualidade das aulas a serem repostas também pode estar comprometida. E o ensino ficará prejudicado, afetando inclusive a formação desses alunos.
Assim, vejamos, a greve das “Federais” não é um problema só dos envolvidos diretamente – alunos, professores, técnicos e a população que se beneficia dos serviços ofertados pelos alunos em programas de extensão – mas, principalmente, de toda a sociedade, de todos os alagoanos, de todos os brasileiros.
Enquanto os profissionais de educação estiverem lutando por melhores condições salariais não estarão lutando por melhor qualidade do ensino (desde o básico) e isso atinge a nós, à sociedade e beneficia aqueles que se locupletam com a ignorância do povo.