O Seminário de Políticas Afirmativas para Comunidades Tradicionais de Terreiros, realizado no último sábado (4) no auditório da Faculdade Integrada Tiradentes (Fits), em Maceió, marcou o encerramento do projeto “Xangô Rezado Alto”. O evento, realizado pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) em parceria com a Secretaria da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos (SEMCDH), reuniu em torno de 200 participantes provenientes de vários municípios de Alagoas.

O reitor da Uneal, Jairo José Campos da Costa, lembrou que o projeto Xangô Rezado Alto foi idealizado com financiamento do Fundo Nacional de Cultura. “Conseguimos aprovar esse projeto e recebemos recursos de R$ 250 mil, sendo que o Governo do Estado integralizou uma contrapartida, totalizando R$ 300 mil”, explicou.

Jairo recordou que o projeto começou na data do centenário das Quebra do Xangô, dia 2 de fevereiro, com a maratona de todo o povo do axé do interior e da capital com o cortejo da Praça da Assembleia até a Praça dos Martírios onde foi montada uma estrutura de palco e todos os grupos de afoxé vinculados às casas de axés se apresentaram. “E ouve o pedido formal de perdão do governador Teotônio Vilela pela Quebra do Xangô”, assinalou.

Para ele, o objetivo foi de levantar a autoestima das pessoas ligadas a cultos de origem africana, valorizar a cultura afro-alagoana e identificar os terreiros que existem em todo Estado. “Essa cultura ainda está silenciada nas periferias das cidades. O projeto objetiva exatamente dar visibilidade ao povo afro-alagoano, às religiões de matriz africana, promover o debate em torno da igualdade dos direitos, das políticas públicas, trazer o debate para o seio da sociedade alagoana. Para que sejam respeitados os cidadãos por sua opção de credo”.

Ao saudar os presentes, a secretária da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, Kátia Born, apontou dois avanços para a população alagoana. “O primeiro é uma lei que o governador Teotonio Vilela sancionou na semana passada, que institui o Dia da Resistência das Comunidades Religiosas de Matriz Africana, 8 de dezembro. É um momento histórico”, frisou. E o segundo, disse ela, é a inauguração, ainda este mês, do Centro de Referência dos Direitos Humanos. “Ele vai atender às pessoas em situação de vulnerabilidade, agredidas, violentadas ou insultadas. O centro funcionará no antigo Hotel Beiriz, na Rua do Sol”.

A secretária de Políticas para Comunidades Tradicionais da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), Silvany Euclênio Silva, em sua palestra sobre políticas públicas para as comunidades tradicionais, destacou que este grupo populacional brasileiro foi o que recebeu a maior carga de violência ao longo da história nacional. "É o grupo com quem o Brasil tem a maior dívida, e essa dívida tem de ser paga com ações afirmativas de reparação, de valorização da ancestralidade africana no Brasil, de promoção da cidadania das pessoas que praticam essas tradições”, ponderou.

Silvany disse que a realização do seminário é extremamente positiva, principalmente quando são lembrados os 100 anos de um dos marcos mais violentos contra as tradições africanas, que foi a Quebra do Xangô, “e aí vemos hoje esse povo se organizando, reivindicando direitos e praticando suas tradições”.

“A Seppir está coordenando um grupo interministerial para elaborar um plano de desenvolvimento sustentável para as comunidades tradicionais de matriz africana que deve resultar, no final do ano, em um conjunto de políticas organizadas e afirmativas”, ressaltou.

Programação

Os trabalhos do seminário foram iniciados com a mesa-redonda “Avanços e desafios na construção da cidadania com as comunidades tradicionais de terreiros”, sob a responsabilidade do representante da Rede Afrobrasileira Sociocultural, Aderbal Ashogun. Durante o evento, também ocorreu o lançamento do livro de poemas “Tudo que está solto”, do escritor Luiz Carlos Semog, e a apresentação do afoxé Oju Omi Omorewá.