Uma reunião na sede do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), em São José dos Campos, neste sábado (4), pode definir o impasse envolvendo o Sindicato dos Metalúrgicos da cidade com a General Motors. O encontro discute a possível demissão de 1,5 mil trabalhadores com o fechamento do setor MVA (Montagem de Veículos Automotores) na planta joseense.
A reunião de conciliação teve início as 9h30, com participação de representantes da empresa, do Sindicato dos Metalúrgicos, o secretário nacional de Relações do Trabalho, Manoel Messias Nascimento Melo, o secretário estadual de Relações do Trabalho, Carlos Andreu Ortiz, além do prefeito da cidade, Eduardo Cury (PSDB).
Até as 14h20, a reunião não havia terminado.
Um grupo de 30 pessoas entre trabalhadores da GM em São José e representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, que vieram a São José dos Campos, foram ao local, mas não participaram do encontro.
"Viemos em solidariedade aos trabalhadores e ao sindicato local, apesar de ser oposição. Pedimos que se evitem as demissões, porque sabemos que isso gera reflexos em toda a cidade. São milhares de empregos em jogo. A linha produtiva da GM é muito flexível. O Spin, por exemplo, poderia ser produzido em São José também", disse o secretário geral do sindicato de São Caetano do Sul, Marcelo Toledo, que é ferramenteiro há 23 anos na GM.
Já o metalúrgico Luís Fabiano Costa, de 36 anos, que é montador no MVA, ainda acredita em um acordo contra as demissões. "Temos muita esperanças nessa reunião para que haja uma proposta que garanta nosso emprego. Hoje, o trabalhador tá muito aflito, com medo. Vivemos essa situação desde outubro e queremos uma solução concreta", contou.
Impasse
A discussão para a manutenção das vagas gerou um impasse entre o Sindicato dos Metalúrgicos e a montadora. O último encontro realizado no dia 25 de julho terminou sem acordo. Ficou acertado que a empresa não tomaria nenhuma iniciativa na fábrica até o dia 4 de agosto e que o sindicato traria propostas para a próxima rodada de negociações.
Até o momento, a empresa descartou os pedidos do Sindicato, que são: trazer 100% da produção do Classic para São José dos Campos, nacionalizar a produção do Sonic (que atualmente é fabricado na Coréia do Sul e importado para o Brasil), e voltar a produzir caminhões na unidade joseense.
Na última quinta-feira (2), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) se reuniu com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos e se declarou contrário à ameaça de demissões. De acordo com os sindicalistas, o governador paulista afirmou que fará esforços para assegurar a manutenção dos postos de trabalho na planta joseense. Alckmin teria se comprometido a procurar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tratar do assunto.
Mobilizações
Também na quinta-feira (2), os trabalhadores da planta joseense decidiram fazer uma manifestação e bloquearam os dois sentidos da Via Dutra, no trecho próximo à sede da empresa.
O protesto aconteceu após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarar que "a GM contrata mais do que demite e está cumprindo o compromisso com o governo federal de manter o nível de empregos".
A fala foi feita depois de um encontro com os representantes da empresa no início da semana. Porém, nesta sexta-feira (3), Mantega disse por meio de sua assessoria que não vai 'tolerar' demissões em setores com IPI baixo.
Portas fechadas
No último dia 24 de julho, a unidade da GM em São José dos Campos amanheceu fechada e isolada. A montadora alegou que dispensou todos os funcionários temendo possíveis mobilizações dentro da unidade.
Uma semana antes, dia 16, os metalúrgicos da GM aprovaram uma greve de 24 horas para tentar impedir os planos da montadora de encerrar as atividades do setor MVA no município - a segunda mobilização em menos de uma semana. No dia 12, os trabalhadores realizaram uma paralisação de advertência de duas horas e votaram estado de greve.
A situação
O complexo industrial da GM de São José dos Campos abriga 8 fábricas com cerca de 9 mil funcionários, que produzem, separadamente, automóveis, a picape S10 e o utilitário Blazer, além de kits desmontados para exportação, motores e transmissão.
A montadora afirma que apenas o setor de automóveis (MVA) enfrenta o problema com negociações sindicais para a implementação de novos projetos. Ali trabalham cerca de 1.500 pessoas.
No MVA de São José, eram fabricados os modelos Zafira, Meriva, Corsa Hatch, Corsa Sedan e Classic. Hoje, só a última linha funciona: a produção dos 3 primeiros automóveis cessou recentemente. A da Zafira e a da Meriva, neste mês. A do Corsa, na semana passada. Eles deram (ou darão) lugar a outros automóveis no portfólio da Chevrolet, que lançou 9 carros novos desde 2009 e renovou outros 3. Há outros lançamentos previstos para este ano.
Desses, só as novas gerações da picape S10 e da Blazer (esta ainda sem data de estreia), ficarão em São José, mas pertencem a outro setor que não o MVA. Entre os automóveis, nenhum novo modelo tem previsão de ser produzido no setor.