O que é apenas uma brincadeira de criança tornou-se também uma nova modalidade de fotografia e também de aprendizado. O trabalho “Fotografia aérea com pipa: uma prática lúdica e interdisciplinar na construção do conhecimento” desenvolvido pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal) auxilia no ensino de crianças e adolescentes e ainda gera imagens bastante diferentes.
A pipa, também chamada de quadrado ou papagaio, como é conhecida em alguns lugares, se tornou ferramenta pedagógica interdisciplinar para estudantes da Escola Estadual Doutor Napoleão Sales, de Alfenas (MG).
Por meio de um trabalho desenvolvido pelo professor do Instituto de Ciência da Natureza da Unifal, Evandro dos Santos Branquinho, em parceria com o técnico em eletrônica da Instituição, Rogério Souza Bernardes e com o professor Ericson Hideki Hayakawa, estudantes do 2º ano do Ensino Médio tem a possibilidade de analisar a paisagem urbana de forma atrativa.
A ideia surgiu em 2010, quando o professor Branquinho teve acesso à uma reportagem sobre fotos aéreas feitas com pipa. Desde então o projeto já tem um acervo de duas mil fotografias, que foram apresentadas eventos nas cidades de São João Del Rei (MG), Poço Fundo (MG), Alfenas (MG), Poços de Caldas (MG) e Varginha (MG).
O projeto, que acontece há dois anos une disciplinas como física, matemática, história e geografia por meio das fotografias feitas com as pipas. O professor de física trabalha a questão do voo e aerodinâmica, o professor de matemática trabalha proporções, escalas e ângulos da pipa. Na disciplina de história, os alunos aprendem sobre as origens do brinquedo e também a história da fotografia e na geografia, são abordados conceitos de localização, orientação, cartografia e paisagem urbana.
As fotografias são feitas, normalmente, no bairro Vista Grande, onde, segundo o professor, é possível ver o espaço do cotidiano dos estudantes em outra perspectiva, para que eles interpretem o lugar no contexto da cidade.
Com a disciplina, os estudantes localizam o espaço de vivência, ou seja, um espaço periférico para tentar explicar a produção da cidade, dos espaços urbanos e da segregação socioespacial.
O trabalho de campo é feito entre os meses de julho e agosto, quando o vento é mais intenso e constante.
A confecção da pipa fotográfica
Com quatro metros quadrados, a pipa normalmente é confeccionada proporcionalmente em nylon e varas de bambu, o que garante mais estabilidade durante o voo, por envergarem de acordo com o vento.
A linha utilizada é especial, com capacidade para aguentar mais de 60 quilos. Nesta linha é acoplado um suporte eletromecânico onde ficam pequenos motores de aeromodelismo e a câmera fotográfica.
Embaixo, fica o rádio controle, responsável por controle o movimento e as tomadas da câmera, que deve ser leve.
A fotografia feita à distância, o suporte mecânico realiza os movimentos verticais e horizontais da câmera e aciona o disparador por meio dos pequenos motores elétricos de aeromodelismo. As imagens são transmitidas por um vídeo link ao operador do rádio controle.
O voo da pipa resulta de várias forças como gravidade, tensão na linha e arrasto pelo vento. Uma relação importante envolve o tamanho e o peso da pipa com a intensidade do vento.
Essa relação é alternada com o peso do equipamento fotográfico. A câmera pesa 120 gramas e tem resolução de 14 megapixels. Com estas características, são aproveitadas cerca de 90% das fotos.
Com o equipamento utilizado atualmente, a pipa atinge 300 metros de altura e suporta 700 gramas. A confecção do equipamento custa em torno de R$ 1,3 mil.
No entanto, apesar de inovadora, a técnica da fotografia aérea com pipa é utilizada desde o século XIX, antes do advento do avião.
Fábrica de pipas em Varginha
A brincadeira, comum entre as crianças, especialmente esta época do ano, movimenta papelarias e locais de venda do brinquedo, que de todas as cores e tamanhos, chamam a atenção.
O comerciante Sílvio Massa Coli já reforçou o estoque. “Já fiz uma compra grande porque a procura tende a crescer”, diz.
Já Roberto Pedroso é ‘pipeiro’ há mais de 10 anos e montou, dentro da própria casa, uma pequena fábrica de pipas. Por dia, ele produz cerca de 80 unidades, com preços que variam de R$ 0,50 a R$ 3. No entanto, a procura é maior que a produção.
As variedades também são muitas, ele conta que existe a pipa tradicional, também chamada de quadrado, existe a raia ou peixinho e também a mono, que pode ser chamada de raia de peixe.
Diariamente, na fábrica de Roberto são vendidas cerca de 300 pipas para lojas, atacado e também para as crianças que se amontoam na porta do local.
Patrick Lima da Silva, estudante, aproveitou e comprou várias de uma só vez. “Ah, eu comprei várias pipas porque quero me divertir”, conta.
O aposentado Jorge Claudino Filho também aproveita a época e vai até a fábrica de Roberto para comprar pipas para os netos. “Comprei algumas para eles se divertirem, brincarem um pouco na rua”, relata.
A dica é empinar pipas em dias com ventos mais fortes, o que facilita. Ter agilidade com as mãos também ajuda. No entanto, a orientação é para que a brincadeira seja feita sempre em área aberta, em segurança, longe de postes, fios, casas ou da rede elétrica.