Antes, assistíamos perplexos a um Estado que tinha dificuldade de reduzir os números de homicídios. Agora, mesmo diante do Plano de Segurança (que todos torcemos para dar certo, pois torcer contra é burrice ou mau-caratismo), o que observamos - tão perplexos quanto - é um Estado que mostra dificuldade em lidar com os corpos das vítimas diante da crise que se instala sobre o Instituto Médico Legal Estácio de Lima (IML).
As dificuldades com o IML de Maceió - se é que diante da estrutura este pode ser chamado de Instituto - são históricas e não é culpa deste governo, apesar deste ter sim sua parcela de culpa. É inaceitável que em aproximadamente seis anos, só se pense no assunto diante de um caos que tem seu ápice agora, mas sempre foi a crônica de uma morte (com perdão do trocadilho) anunciada.
O que é o IML de Maceió? Um prédio sem condições de prestar serviços à sociedade que historicamente chegou até aqui por meio de omissão e de remendos. Omissão, inclusive, envolvendo a própria sociedade civil organizada e porque não dizer a imprensa. Afinal, temos o péssimo hábito de só enxergar o problema quando - da forma mais inesperada e cruel - ele bate na nossa porta. Foi assim com este blogueiro, que soube o que é depender deste IML na pele.
Foi assim que formalizei denúncia ao Conselho de Segurança do Estado de Alagoas, sendo esta encaminhada diretamente ao conselheiro Marcelo Brabo, que desempenhou um papel importante para jogar luz sobre a questão. Brabo foi de fundamental importância para que as portas do IML fossem escancaradas e o problema discutido com seriedade, sem buscar culpados; mas buscando solução. Sem aceitar novos remendos, mas sim com respostas definitivas.
A estrutura falida do IML de Maceió contribui - significativamente! - para a impunidade, o arrastar de inquéritos, sem contar no sofrimento de famílias inteiras que, em muitos casos, sequer podem velar seus mortos decentemente. Mas, toco no assunto neste espaço porque é com espanto que tenho lido a sequência de remendos e desentendimentos envolvendo o Instituto Médico Legal.
Se a imprensa, que vem cobrindo o caso, com razão tiver, o que temos é um Governo perdido em função da crise que se encontra no órgão. É preciso pulso. É inacreditável que já usaram caminhão frigorífico para guardar mortos, fizeram e desfizeram “convênio” com Hospital Sanatório, se falou em usar o SVO e por aí vai. Agora, leio no jornal Primeira Edição que as necropsias dos casos de morte violência ocorridos na capital alagoana serão feitas em Arapiraca.
Eu questiono antes de tudo: o IML de Arapiraca tem condições de atender a cidade e a região sem deixar falhas? Provavelmente a resposta é NÃO! E aí, como fica ao receber os corpos de Maceió, sem falar no transtornos da família. Sejamos sensíveis, independente de crenças e das visões que tenhamos sobre os corpos e restos mortais, há a memória de alagoanos vítimas de violência, há sentimentos, há famílias. Como se dará este processo burocraticamente? Quanto esperarão para sepultar seus mortos? Quais os detalhes desta operacionalidade?
O que os médicos legistas possuem a dizer sobre o assunto? Seria interessante o Conselho de Segurança acompanhar o caso, pois muito já contribuiu em relação ao assunto. E sabe o que ainda nos causa perplexidade, a declaração do diretor do IML, Luiz Antônio Mansur ao Primeira Edição: “ainda não temos previsão. Mas espero que não demore”. Isto ele fala quanto a ida dos corpos para Arapiraca.
A culpa viva da inoperância de governos que se sucederam. Vale lembrar - como bem é colocado na matéria do Primeira Edição - “Desde o final do mês passado, os médicos legistas estão em greve. Além de reivindicar reajuste salarial, eles cobram um novo local de trabalho, alegando que o prédio do IML em Maceió não tem mais estrutura para continuar funcionando”.
Espaço aberto para as explicações e ponderações (se houver) da cúpula da segurança pública do Estado!
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