As ruas de Palestina, pequena cidade no interior paulista próxima a São José do Rio Preto, não estão tão pacatas como de costume nesta semana. Depois de marcar dois gols no clássico contra o Palmeiras e de empatar o jogo contra o Boca Juniors na final da Libertadores, nesta quarta-feira, o atacante Romarinho, do Corinthians, colocou sua terra no mapa e agitou a semana de seus conterrâneos.
Gritos de “Vai, Corinthians” e “É Romarinho” eram o que mais se ouvia pelas ruas na tarde desta quinta-feira, quando parecia que os 12 mil habitantes haviam, no mínimo, dobrado. E, em meio a tanta gente, é claro que havia mil histórias sobre o mais famoso filho de Palestina.
Histórias como a de Eliel Calixto da Silva, agricultor, corintiano e amigo de infância de Romarinho. Companheiro do novo ídolo da Fiel nas primeiras peladas, restou a ele uma marca da habilidade do garoto.
- Uma vez estávamos jogando e ele me deu um drible tão desconcertante que eu quebrei a perna. Foi como aquele drible que ele deu no Cicinho (no domingo, no segundo gol contra o Palmeiras). Mas não tem problema. É só ele trazer o título da Libertadores para o Corinthians que está tudo perdoado.

Mentor palmeirense e testes no São Paulo
Filho mais novo de uma família com quatro crianças, em que o pai era catador de laranja e algodão e a mãe, dona de casa, Romarinho começou a dar os primeiros chutes em um campinho de terra perto de sua casa. O professor Herico Cardoso de Lima viu o talento no garoto e o levou para sua escolinha, num terreno cedido pela prefeitura de Palestina.

 Ele veio para a escolinha com uns cinco anos. A gente viu que ele tinha talento, muita habilidade e rapidez. Então o trouxemos logo para o campão para ele se acostumar com as dimensões. Daí começamos a treinar mais a parte tática com ele - relembra Lima, que há 26 anos treina mais de 90 garotos em um campo na cidade.
Forjado para ser craque, não demorou muito para o garoto chamar a atenção dos grandes clubes. Com 9 anos, Romarinho foi para o Vitória da Bahia, onde passou por peneiras, e pouco tempo depois já estava fazendo testes no São Paulo. Mas a questão familiar falou mais alto.
- Ele tinha saudades da família e, tanto no Vitória como no São Paulo, sempre ligava chorando para a mãe, dizendo que queria voltar. Hoje, vendo ele no Corinthians, para mim é a realização de um sonho. Uma motivação a mais para toda a garotada que continua treinando por aqui - diz Lima.
Depois desses testes, Romarinho ainda atuou por Rio Preto e Rio Branco, mas foi no Bragantino que chamou a atenção do Timão. E só faltou um pequeno detalhe para deixar o técnico Lima 100% feliz com o sucesso do seu pupilo no Corinthians. Palmeirense fanático, o treinador ligou para Romarinho após o clássico do último domingo, quando ele fez dois gols e virou a partida.
- Ele veio me pedir desculpas pelos gols que fez. Eu disse para ele que estava de parabéns, mas não precisava ter humilhado tanto, fazendo gol de letra (risos). Ele estava muito feliz, porque o sonho dele era conhecer o Ronaldo e, no fim do jogo, o Fenômeno foi abraçá-lo no vestiário - diz o treinador.
Irmãos orgulhosos
Não é apenas o treinador que está feliz. Os irmãos Bruno e Ronaldo, que moram em Palestina, foram assediados o dia todo pelos conterrâneos e também pela imprensa. Para Bruno, o garoto tem estrela e sempre foi decisivo em jogos importantes. O irmão mais velho, de 29 anos, diz que Romarinho está colhendo os frutos que plantou.

- Para mim ainda não caiu a ficha de tudo que ele fez em apenas uma semana. Rezávamos para ele um dia ir para um time grande, mas nunca acreditávamos que seria o Corinthians e que faria gols tão importantes assim em pouco tempo - diz Bruno.

O irmão relembra que o começo de Romarinho não foi fácil, assim como toda sua infância. A família morava em um bairro na periferia de Palestina, e o caçula sempre foi o mais paparicado pelos pais, dentro, é claro, das possibilidades da família.
- Eu sou o mais velho. Então minha mãe e meu pai iam trabalhar na roça e eu cuidava deles. O Romarinho é muito ligado à família. Quando ele treinava em Rio Preto, ficava a semana inteira dormindo fora e só vinha para cá nos fins de semana. Ele tinha muita saudade - relembra.
Ressabiados, os dois irmãos realmente mostraram dificuldade para lidar com o assédio. Não quiseram mostrar a casa em que vivem e disseram que os pais estavam em São Paulo, à espera de Romarinho, mas se recusaram a passar qualquer contato.
Pior: Ronaldo, funcionário de um posto de combustível, mal conseguiu trabalhar. Não lavou um carro sequer durante todo o dia. Ficou o tempo todo falando sobre o irmão, para os moradores da cidade e a imprensa.
- Ninguém na cidade conseguiu dormir depois do jogo com o Boca. Foi muito emocionante para a cidade. Já até pedi para ele trazer uma camisa para mim do jogo lá na Argentina - conta.