Manifestantes paraguaios pró e anti-Lugo prometem atos na quarta

26/06/2012 19:39 - Brasil/Mundo
Por Redação

Manifestantes se mobilizam em Assunção para fazer desta quarta-feira (27) um dia de protestos políticos a favor e contra o novo governo, quatro dias após a destituição de Fernando Lugo e a subida de Federico Franco ao poder.

Tanto grupos que apoiam a volta de Lugo como aqueles que defendem a permanência do empossado Franco, além de jovens que se definem apartidários, se organizam para se manifestar na capital paraguaia.

Apelo a Dilma
Franco disse em entrevista coletiva nesta terça que a presidente brasileira Dilma Rousseff deveria consultar os brasiguaios, brasileiros que moram no Paraguai, para ter a garantia de que o país vive um processo democrático.

"Eu diria à presidente Dilma que seria muito importante que ela consulte nossos compatriotas. Aqui há 500 mil brasiguaios. Quando as terras de brasiguaios eram invadidas, o pessoal da embaixada lhes respondia que esse era um país autônomo, que não podiam fazer nada", disse Franco após se reunir com brasiguaios na sede do governo em Assunção.

Uma associação de brasiguaios anunciou que seria recebida por Dilma nesta terça no Planalto, segundo o jornal paraguaio "ABC", mas ainda não havia confirmação oficial.

O presidente também falou sobre a possibilidade de o ex-presidente Lugo ir à reunião do Mercosul na próxima sexta (29), na cidade argentina de Mendonza. Para Franco, Lugo não tem mais legitimidade e deve repensar sua decisão.

"Entendo que Fernando Lugo ainda está ferido. Creio que, como homem da igreja, um homem de reflexão, vai chegar a um momento de iluminação, e vai avaliar custos e benefícios no momento de tomar suas decisões", disse o presidente.

Medidas da OEA
A Organização dos Estados Americanos (OEA) se reúne nesta terça para estudar eventuais medidas diante dos acontecimentos no Paraguai.

A OEA debaterá "a situação na República do Paraguai e, caso necessário, tomará as decisões que o Conselho Permanente acordar. A reunião, em Washington, ocorre às 15h30 de Brasília.

A decisão tomada pelo órgão ganhou peso após a porta-voz do Departamento de Estados dos EUA afirmar que o país adotará a resolução tomada pelo conselho permanente da OEA sobre o Paraguai.

O Estados Unidos se declararam na segunda “bastante preocupados” com a rapidez do julgamento político que destituiu o presidente Fernando Lugo, disse a porta-voz, segundo a qual a secretária de Estado, Hillary Clinton, conversou com seu par brasileiro, Antonio Patriota, durante o fim de semana sobre a situação paraguaia

A OEA realizou uma primeira reunião de emergência na sexta-feira sobre os acontecimentos no país, que serviu para que os países da organização hemisférica apresentassem suas dúvidas sobre o processo político.

O secretário-geral da organização, José Miguel Insulza, assegurou nesta segunda o organismo não tem atribuições para intervir no Paraguai.

"Ninguém tem atribuição para intervir", disse em entrevista à chilena "Rádio Infinita".

"Quando a OEA age, é principalmente para tentar resolver os conflitos pondo às partes de acordo, inclusive no caso de Honduras, que foi um golpe de Estado", explicou Insulza.

Unasul e Mercosul
Esta será a primeira das três reuniões de organizações internacionais para discutir a situação no país.

Também na segunda, a Unasul (União das Nações Sul-americanas) decidiu remarcar para a sexta-feira (29), na cidade argentina de Mendonza, sua reunião para discutir o caso Paraguai.
Segundo a chancelaria do Peru, país que sediaria o encontro na quarta, a intenção é que a reunião coincida com a Cúpula do Mercosul, já marcada para Mendonza nesta data, para aproveitar a presença dos chefes de Estado na cidade.

Presidentes dos dois grupos diplomáticos devem discutir uma posição sul-americana conjunta sobre o impeachment do presidente Fernando Lugo e a consequente posse de Federico Franco no governo paraguaio.

O rápido julgamento político de Lugo levou o Paraguai a um crescente isolamento diplomático na região, com a sua suspensão de encontros tanto do Mercosul como da Unasul.

O presidente afastado Lugo, no entanto, afirmou estar em contato com a presidente argentina Cristina Kirchner, que ocupa a presidência temporária do Mercosul, para ir à reunião do bloco "prestar explicações" sobre a situação.

O julgamento político sumário que destituiu Lugo na sexta-feira, alçando à presidência o então vice-presidente Federico Franco, recebeu uma forte condenação dos países do continente, muitos dos quais anunciaram que não reconhecerão o novo governo.

Crise no Paraguai
Federico Franco assumiu o governo do Paraguai na sexta-feira (22), após o impeachment de Fernando Lugo. O processo contra Lugo foi iniciado por conta do conflito agrário que terminou com 17 mortos no interior do país.

A oposição acusou Lugo de ter agido mal no caso e de estar governando de maneira "imprópria, negligente e irresponsável".

Ele também foi acusado por outros incidentes ocorridos durante o seu governo, como ter apoiado um motim de jovens socialistas em um complexo das Forças Armadas e não ter atuado de forma decisiva no combate ao pequeno grupo armado Exército do Povo Paraguaio, responsável por assassinatos e sequestros durante a última década, a maior partes deles antes mesmo de Lugo tomar posse.

O processo de impeachment aconteceu rapidamente, depois que o Partido Liberal Radical Autêntico, do então vice-presidente Franco, retirou seu apoio à coalizão do presidente socialista.

A votação, na Câmara, aconteceu no dia 21 de junho, resultando na aprovação por 76 votos a 1 – até mesmo parlamentares que integravam partidos da coalizão do governo votaram contra Lugo. No mesmo dia, à tarde, o Senado definiu as regras do processo.

Na sexta, o Senado do Paraguai afastou Fernando Lugo da presidência. O placar pela condenação e pelo impeachment do socialista foi de 39 senadores contra 4, com 2 abstenções. Federico Franco assumiu a presidência pouco mais de uma hora e meia depois do impeachment de Lugo.

Em discurso após o impeachment, Lugo afirmou que aceitava a decisão do Senado.

Mas, neste domingo, Lugo voltou atrás, aumentou o tom disse que não reconhece o governo de Federico Franco e que não deve, portanto, aceitar o pedido do novo presidente para ajudá-lo na tarefa de explicar a mudança de governo a países vizinhos.

Isolamento
O analista político José Carlos Rodríguez, um consultor em Assunção, disse à Reuters que, apesar do isolamento internacional, o apoio das forças políticas locais a Franco é amplo, mas advertiu que o cenário interno pode mudar.

Franco "tem um apoio político gigantesco, mas é conjuntural e não sabemos quanto tempo vai durar", disse.

O novo governo de um dos países mais pobres da América do Sul está isolado regionalmente, depois que Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Venezuela, Peru e Uruguai retiraram ou chamaram para consultas seus embaixadores em Assunção.

A pressão da região é bastante perigosa para a pobre economia do Paraguai, que depende dos portos de seus vizinhos Argentina, Brasil e Uruguai para o transporte e o abastecimento, além das exportações.

O governo brasileiro disse que não tomará medidas que "afetem o povo irmão paraguaio".

O Uruguai também afirmou que não adotará sanções econômicas.

A Venezuela anunciou a interrupção do envio de petróleo ao Paraguai, mas o presidente da estatal paraguaia Petropar garantiu o abastecimento no país, um importador.

O novo chanceler paraguaio, José Félix Fernández Estigarribia, que tentou sem sucesso fazer contato com seus pares da região, disse que nem sequer o diplomata responsável pela embaixada da Argentina em Assunção o atendeu pelo telefone.

"Telefonei ao encarregado de negócios da Argentina e eles têm ordens de ainda não atender ao telefone", disse.

A Alemanha afirmou que a Europa estava seguindo com preocupação os acontecimentos no Paraguai.

Os Estados Unidos, por sua vez, informaram que a sua secretária de Estado, Hillary Clinton, conversou com o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, no fim de semana sobre a situação.

"Estamos muito preocupados pela velocidade do processo utilizado para esse impeachment", disse em entrevista coletiva a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland.

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