Em cavernas nas encostas das montanhas no sudoeste da Alemanha, arqueólogos descobriram nos últimos anos as origens da música e da arte produzidas pelos primeiros seres humanos modernos a migrar da África para a Europa. Novas evidências de datação mostram que os instrumentos musicais mais antigos do mundo – flautas feitas de ossos de aves e marfim de mamute – são ainda mais antigos do que se pensava.

Cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, liderados por Thomas Higham, divulgaram na semana passada que testes de radiocarbono aperfeiçoados determinaram que os ossos de animais descobertos junto às flautas têm entre 42 e 43 mil anos. Essa datação se aproxima do período em que os primeiros humanos anatomicamente modernos se espalharam pela Europa Central, ao que tudo indica, ao longo do vale do rio Danúbio.
 

Testes recentes forneceram datações de 35 mil anos atrás para artefatos de diversas cavernas próximas a Ulm, na Alemanha, e às nascentes do rio Danúbio – nas mesmas cavernas em que haviam sido descobertas flautas e estatuetas em marfim de mulheres voluptuosas. A flauta de osso mais bem preservada, contendo cinco furos, foi recolhida na caverna Hohle Fels. A nova análise foi baseada em materiais de uma caverna vizinha, Geissenklosterle.

Alguns acadêmicos demoraram a reconhecer os primeiros relatos da flauta de 35 mil anos como determinante do período e cenário de modificações culturais que surgiram com a chegada do Homo sapiens, o qual tomaria o lugar do homem de Neandertal há 30 mil anos. Idades de radiocarbono superiores a 30 mil anos podem não ser confiáveis.

As novas descobertas foram publicadas no periódico The Journal of Human Evolution e "são consistentes com um grande número de descobertas provenientes do alto Danúbio", afirmou por e-mail Nicholas J. Conard, arqueólogo da Universidade de Tubingen, na Alemanha.

Um dos autores do estudo, Conard escavou os artefatos de diversas dessas cavernas.

Conard afirmou que após várias descobertas de fragmentos de flautas, exemplares de arte figurativa e ornamentos pessoais diversos, as novas datas apoiam a hipótese de que o Danúbio foi "um importante corredor para a movimentação de seres humanos e inovações tecnológicas na Europa Central entre 40 e 45 mil anos atrás".

Na pesquisa de Higham, os ossos de animais datados estavam depositados nas mesmas camadas de terreno das flautas da caverna Geissenklosterle. Eles receberam tratamento de descontaminação por meio de ultrafiltração avançada. Os resultados, afirmam os pesquisadores, "indicam fortemente que as datas antes obtidas foram afetadas por uma descontaminação deficiente do colágeno dos ossos antes da datação".

Os cientistas afirmam que, se as novas datas estiverem corretas, os humanos modernos se deslocaram produzindo música através região do alto Danúbio antes da fase de frio intenso da era do gelo, há 39 mil anos. Em uma cronologia baseada em datas mais recentes para as flautas, acreditava-se que os humanos modernos haviam esperado pela melhora do clima antes de partir rumo ao Danúbio.