Uma intensa briga judicial entre clubes das Séries C e D do Campeonato Brasileiro (veja o caso detalhado abaixo) coloca a CBF na berlinda. A entidade cumpre ordem do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e suspendeu as competições. Agora, sofre ameaças de equipes que nem mesmo estão envolvidas nos imbróglios, com o risco de indenizações milionárias. A confusão está travada na Justiça Comum e não tem data para acabar. 

Santo André-SP, Rio Branco-AC, Brasil de Pelotas-RS, Treze-PB e Araguaína-TO moveram recentes ações em diversas esferas judiciais e lutam por apenas duas vagas na Série C. Os dois primeiros clubes são considerados detentores dos direitos pela CBF. No entanto, o ganho de causa na Justiça no momento dá razão aos outros três.

As Séries C e D ainda não começaram e já tiveram a segunda rodada, agendada para o próximo final de semana, adiada. O otimismo da CBF faz com que o início das competições agora esteja programado para o dia 9, algo que os clubes duvidam que vá acontecer.

"Pedimos a paralisação, pois não havia sentido tirarem nossa vaga em uma esfera da Justiça no Sul na calada da noite. O Santo André vai até o inferno se precisar, mas não joga a Série D", destacou o diretor de futebol do clube do ABC, Sergio do Prado.

"Foi o Santo André quem pediu a paralisação da competição. O pedido do Brasil não é esse. Queremos a inclusão do time na Série C por questão de Justiça. Nosso lugar não é a Série D", rebateu o diretor jurídico do Brasil, Adriano de Leon.

A briga entre Santo André e Brasil tem no momento decisão favorável ao clube de Pelotas com uma liminar obtida no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. O mesmo ocorreu com o Treze na 1ª Vara Cível de Campina Grande. Isso deixou o Rio Branco-AC sem a vaga na Série C, a qual a CBF julga ser de direito dele.

"O direito é do Treze. Estamos indo contra um acordo imoral da CBF para manter Rio Branco na Série C. A entidade precisa cumprir a lei", esbravejou o presidente do Treze, Fábio Azevedo. "Não é em um Tribunal na Paraíba que vai sair a decisão final. A gente vai é a Brasília discutir o caso", avisou o vice-presidente do Rio Branco, Adem Araújo.

A vaga do Rio Branco na Série C também é pleiteada por outra equipe envolvida no imbróglio jurídico, o Araguaina-TO. "Entendemos que temos o direito de jogar a Série C. Só que estamos nos preparando para a D se essa for a decisão. O que precisamos é jogar", disse o presidente do clube, Ely do Carmo.

O tom do discurso de Ely dá a real noção do desespero de diversos clubes participantes das Séries C e D. Eles já se armam contra a CBF exigindo o início das competições, ou o pagamento de indenizações caso o adiamento persista.

"A S.E.R. Caxias informa que vai ingressar com mandado de segurança na Justiça Comum, em conjunto com os outros clubes da Série C, solicitando que a Confederação Brasileira de Futebol cumpra o regulamento e o estatuto do torcedor, exigindo o início do Campeonato Brasileiro da Série C. Na análise do advogado Osvaldo Sestário Filho, hoje são mais de 60 clubes com mais de 2,4 mil empregados que estão sendo prejudicados, social, esportiva e financeiramente", cita o comunicado divulgado pelo Caxias, integrante da Série C em 2012.

A CBF está pressionada por grande parte dos 60 clubes envolvidos nas competições. A alternativa de "inchar" a Série C já é trabalhada nos bastidores, apesar de a grande maioria dos dirigentes da entidade ser contra. O temor é despertar o interesse de mais clubes a moverem ações.

"Não sei responder quando isso termina. Temos várias decisões em comarcas diferentes. E é interessante que nenhum Tribunal foi contra o clube local. Não podemos permitir dois, três corpos ocupando o mesmo espaço, e suspendemos a competição. Assim que me apresentarem uma solução final, definitiva, emitimos um novo parecer", destacou o presidente do STJD, Rubens Approbato.

Utilizar a Justiça Comum é caminho que sempre revoltou a CBF. Apesar disso, a ameaça dos clubes já foi lançada. "Desde o princípio da segunda semana de maio temos em vigor uma ação que obriga a CBF a pagar multa diária de R$ 100 mil. A pena pode ser revertida assim que ela tome uma decisão. É uma tentativa de conciliação", avisou o diretor jurídico do Brasil de Pelotas, Adriano de Leon.