Os professores estaduais, em greve há mais de um mês, realizaram caminhada nas ruas da Cidade Baixa, em Salvador, durante a manhã desta sexta-feira (18). Eles se reuniram no Largo dos Mares e, com faixas e jarros de água de cheiro, puxadas por uma ala das alas das baianas, seguiram pelas avenidas da Cidade Baixa em direção à Igreja do Senhor do Bonfim.

"Nós queremos apoio dos orixás, queremos apoio dos protestantes, da igreja adventista de todos que queiram lutar por educação pública de qualidade e que se preocupem com as crianças que estão sem aula", afirma o coordenador-geral Rui Oliveira, do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), que mobiliza o movimento. No fim da manhã, o cortejo chegou ao templo mais famoso de Salvador, onde cantaram o hino do Senhor do Bonfim. A chuva acompanhou o cortejo durante todo o percurso.

A categoria está em greve há 38 dias. Os profissionais da educação da Bahia pedem reajuste de 22,22% para todos os níveis da categoria. O governo, no entanto, afirma que irá seguir o projeto que enviou e foi aprovado pela Assembleia Legislativa: reajuste de 6,5% para todos os professores (assim como para os servidores estaduais) e 22% apenas para aqueles que dão aulas no ensino médio. A greve já foi considerada ilegal pela Justiça, quando o ponto dos grevistas foi cortado.

Na quinta-feira (17), a Secretaria de Educação da Bahia comunicou que o Governo pagaria os salários cortados aos professores em greve caso os professores se comprometam a retornar imediatamente às atividades. Rui Oliveira, por outro lado, diz que a categoria não irá aceitar acordo que não contemple a negociação dos 22,22% de reajuste salarial. "A greve continua. Nós não iniciamos para devolver salário. É uma forma de intimidação. O governo confiscou o salário indevidamente", afirma Rui Oliveira.

O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil Dom Murilo Krieger se reuniu pela primeira vez com representantes dos professores da rede estadual de ensino na tentativa de mediar as negociações com o governo. "Ele recebeu uma comissão nossa, disse que falou com o governador, que estava intransigente, mas que insistiria e segunda-feira nos daria um retorno", diz Rui Oliveira sobre o encontro com Krieger. O arcebispo também se reuniu no mesmo dia com o secretário da Educação do Estado da Bahia, Osvaldo Barreto, que afirmou que o governo sempre esteve aberto ao diálogo com os professores.

Qualidade
Os professoes da rede estadual entendem que há como repor as aulas suspensas pela greve da categoria, mas dizem que o importante a se discutir é a qualidade da educação no estado. "Se não tiver qualidade, a gente não chega em lugar nenhum", pontua a professora Silvana Santos.

A professora Graciene Nunes é uma das que também compartilham dessa opinião. "Os 200 dias letivos hoje existem, mas eu sou de uma época em que tinham 180 dias letivos. Nós sabemos muito bem que, quando nós retornarmos, se tivermos o tempo hábil necessário faremos um novo planejamento de todos os programas e conteúdo e isso [prejuízo] pode ser vencido", avalia.

A colega Zenaide Barbosa acredita que, além do conteúdo disciplinar, é importante ampliar o entendimento sobre o contexto social repassado ao alunado. "Eles têm de ter visão geral de cidadania, política e isso nós podemos repor. Eu trabalho em uma escola que tem educação profissional e nós não temos nada. Vamos formar meninos agora sem estágio, biblioteca, não tem a mínima condição. Então nós lutamos pelo reajuste salarial, mas também pela qualidade da educação. Essa educação conteudística é do século passado", opina.

Prejuízos
Os alunos da rede pública da Bahia, por outro lado, acreditam que sofrerão prejuízos diretos com a suspensão das aulas."Fico em casa sem fazer nada, na internet, indo para a rua, pensando besteira. Por exemplo, quando eu estava estudando ficava menos tempo na internet", afirma Nathália Raíssa, da 7ª série. Danielle de Santana, aluna da 8ª série, acredita que o conteúdo não será repassado com a mesma rotina quando ocorrer o retorno das aulas. "Os professores vão acelerar demais, pular muitas coisas", afirma.

Lorena Guimarães, aluna do 3° ano do ensino médio, quer prestar vestibular para biomedicina e estima prejuízo principalmente na disciplina que considera mais importante no processo seletivo, matemática. "Sem o estímulo dos professores fica meio difícil aprender tudo o que eu preciso. No Enem, tem ainda redação, português, fica difícil para a gente aprender sem eles, sem os professores. Não tem como recuperar, mesmo com o calendário de reposição, porque no fim de semana, em casa, estudando, fica difícil, a gente fica disperso", avalia.