Os três acusados de matar Celso Daniel, que estão sendo julgados nesta quinta-feira (10), negaram participação no assassinato do prefeito de Santo André e desmentiram depoimentos anteriores nos quais haviam confessado o crime. Em julgamento no Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, Jose Edison da Silva e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira afirmaram ter confessado o envolvimento na morte sob tortura. O réu Ivan Rodrigues da Silva disse “não se lembrar” de depoimentos anteriores.
Ivan afirmou que morava no Estado do Paraná na data do crime, e que estava em casa quando o prefeito foi morto.
— Nunca marquei negócio de sequestro, não matei ninguém. Nunca fui nesse lugar [onde ocorreu o crime]. Tudo que falei anteriormente foi sob pressão. Diziam que se eu ao falasse iam prender minha família. Nego qualquer tipo de participação.
Ivan falou que não conhecia Sombra [o empresário Sérgio Gomes da Silva], acusado pelo Ministério Público de ser o mandante do crime. O réu contou que, depois de preso, prestava depoimento na sede do Deic, quando foi ameaçado pelo advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh.
— Ele chegou me ameaçando, falando que se eu não falasse lá não tinha problema, porque quando chegasse no DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] “ele resolvia”.
Silva negou ainda que tivesse o apelido de Monstro, afirmando que foi chamado assim apenas pela polícia. O acusado se negou a responder às perguntas do promotor Márcio Augusto Friggi de Carvalho.
Agressão
Rodolfo Rodrigo afirmou ter sido agredido por Greenhalgh.
— [Ele me] desferiu [tapas]. Me xingava de tudo que é nome. E queria porque queria que eu confessasse um crime que eu não tinha feito.
O acusado afirmou ter sido torturado nas sedes da Polícia Federal, do DHPP, do Deic e da delegacia antissequestro. Ele relatou uma dessas supostas sessões de tortura.
— Colocavam um cavalete de cada lado, algemado, passavam ferro, tinha uma máquina que me dava choque. Introduziam um fio no meu pênis e outro no ânus, para que eu delatasse o crime. Até hoje, tenho sequelas na testa, minha testa tem calombos.
Rodolfo afirmou que estava trabalhando – como borracheiro – na data do crime.
José Edison também negou autoria do crime, e afirmou que nas vezes em que confessou havia sido torturado. Ele afirmou que estava na Bahia quando o prefeito foi morto.
Outro lado
A reportagem do R7 entrou em contato com a assessoria de Luiz Eduardo Greenhalgh e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre as afirmações feitas pelos três acusados. Porém, até a publicação desta notícia, a reportagem não recebeu nenhuma resposta.
Jurados
Quatro homens e três mulheres irão definir o destino de Ivan, José e de Rodolfo Rodrigo dos Santos. Os jurados foram escolhidos na manhã desta quinta-feira, instantes antes do início do julgamento, que começou às 11h. Das 13 testemunhas previstas para serem ouvidas entre esta quinta e a sexta-feira (11), algumas faltaram e outras foram dispensadas. Com isso, não haverá depoimento de testemunha, apenas o interrogatório dos três réus. Segundo a assessoria do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), cinco das testemunhas eram relacionadas aos dois réus que não serão mais julgados nesta quinta, cinco faltaram e três foram dispensadas.
Abandono da tribuna
Os advogados de Itamar Messias dos Santos e Elcyd de Oliveira Brito abandonaram o plenário do Fórum de Itapecerica da Serra, nesta manhã, adiando o julgamento de seus clientes. Os defensores alegaram que não teriam tempo para fazer uma defesa técnica com apenas 30 minutos cada um. O advogado de Santos, Airton Jacó Gonçalves, chegou a pedir o desmembramento do processo para que seu cliente fosse julgado individualmente. Como o juiz Antônio Hristov recusou essa tentativa, ele tomou a decisão de abandonar a tribuna.
Os outros três réus estão sendo julgados. Seus defensores terão de 83 minutos, cada um, para fazer a defesa de seus clientes. A acusação terá duas horas e meia para tentar convencer os jurados a condená-los pelo homicídio de Celso Daniel.
Já a advogada de Brito, Ana Lúcia dos Santos, afirmou que - com a nova data e com mais tempo de exposição no júri - seu cliente poderá "ter uma defesa digna".
— Caso o julgamento ocorresse hoje, [meu cliente] ficaria completamente prejudicado.
Morte
Ex-professor universitário, deputado e prefeito da cidade do ABC pela terceira vez, Celso Daniel foi encontrado morto numa estrada de terra em Juquitiba (SP), alvejado por oito tiros, após dois dias de sequestro. Ele era o escolhido para coordenar a campanha que levaria o ex-presidente Lula ao poder.