O caso dos policiais militares da Radiopatrulha, acusados de racismo e abuso de autoridade contra o folclorista José Nascimento Batista, de 51 anos, e 15 alunos, começará a ser apurado na próxima semana, pela Comissão de Defesa das Minorias Étnicas e Sociais da OAB/AL, presidida pelo advogado Alberto Jorge, o Betinho, que acompanha denúncias específicas de discriminação racial e intolerância religiosa, encaminhadas pela Comissão de Direitos Humanos da ordem.

O fato teria acontecido por volta das 19h do dia 25 de março, após um ensaio do grupo “Forró matuto”, realizado ao lado de uma escola municipal na Praça da Faculdade. Segundo relato do folclorista à comissão, três militares pilotando motos do BPRP começaram a abordar os participantes, que se dirigiam para suas casas. Uma jovem teria ficado constrangida, após um dos policiais colocar uma lanterna em seu rosto e disse que ali não havia nenhum ladrão.

Os policiais ficaram agressivos e obrigaram que todos ficassem de costas, virados para uma parede. O folclorista pediu calma e reforçou que no local não havia bandidos, quando os militares pediram para ele se identificar. Batista explicou que era professor de folclore do grupo e após isso, um dos militares questionou: “Quem é você seu negrinho?Você está muito doido cara, parece que você usou um fininho”.

O folclorista argumentou, afirmando que não usava drogas, momento em que um dos policiais agrediu um adolescente com chutes e coronhadas, dizendo: “Seus negrinhos, estão pensando que nós somos o pessoal do 1° BPM, que usa faca para furar o povo na rua, que tomam cachaça e recebem propina?Esses policiais são rafamés”. Um outro militar começou a cutucar as costas de uma jovem com uma pistola e disse: “Você sabia que eu posso revistar uma mulher?A jovem respondeu negativamente e o policial afirmou que poderias se tivesse um mandado.

A irmã da jovem abordada perguntou se o policial estava com um mandado e ele disse que poderia alegar que ela estava com drogas, justificando a revista. Um dos militares pegou um celular de um dos jovens e ficou colocando dentro do colete, afirmando: “Esse celular é muito, suas roupas são de marca”.

O jovem respondeu que era a mãe quem comprava. O mesmo policial foi em direção a um cabo da guarnição, pediu autorização e retirou do colete uma pequena sacola plástica azul, que continha crack e perguntou para o grupo: “De quem é isso?Um pré-adolescente olhou para ele, que se dirigiu até o folclorista afirmando: “Professor, a droga é daquele ali de camisa verde ou é um pouquinho do professor, ou é um pouquinho desse negrinho e daquele outro negrinho ali e passou a droga no rosto do jovem.

O militar perguntou se o grupo queria que ele chamasse uma viatura para conduzi-los à delegacia. Batista disse que o militar poderia chamar, quando sua filha de 12 anos, que assustada, chorava muito, chamou a atenção dos militares e um deles perguntou: Por que você está chorando? E pegou a pistola e começou a balançar próximo ao rosto da menina, questionando: “Está chorando por quê?Eu bati no seu pai? Eu atirei no seu pai? Eu empurrei o seu pai? Foi quando os policiais receberam um chamado do rádio para escoltar a torcida do ASA e deixaram o local.

Ao ir até a Corregedoria denunciar o fato, Batista reconheceu dois dos militares que fizeram a abordagem, o Sd. F. Gouveia e o Sd. Silva. No momento da revista, um dos integrantes do grupo reconheceu um outro policial, conhecido como Ferrugem, que fazia a segurança de um armazém no Mercado da Produção. O folclorista também registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia do 22° Distrito, que tem como titular a delegada Maria Aparecida.


Apuração


De acordo com o advogado Betinho, na próxima segunda-feira a Comissão de Defesa das Minorias Étnicas e Sociais deverá se reunir com o comando da Polícia Militar para apurar o caso. “Vamos também convocar representantes do Ministério Público, pois queremos uma resposta”, destacou.

Gilberto Irineu, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL informou que foi procurado pelo professor, que relatou já ter ido à Corregedoria da PM. “Encaminhei o caso para o Betinho, que acompanha casos específicos de discriminação. Também enviei um ofício ao comando da PM”, explicou.