'Centro revitalizado vai recuperar autoestima do paulistano', diz Chalita

06/04/2012 17:28 - Brasil/Mundo
Por Redação

Gabriel Benedito Issaac Chalita, 42, fala quase tudo o que pensa. Ele não respondeu a uma única pergunta desta entrevista: quem foi o pior prefeito de São Paulo.

Filiado ao PSDB por 20 anos, foi secretário de Geraldo Alckmin de 2001 a 2006. Dizendo-se perseguido pelo então governador José Serra, migrou para o PSB em 2009 e, no ano seguinte, apoiou a petista Dilma Rousseff contra o ex-colega tucano.

Hoje peemedebista, Chalita mantém o flerte com o PT: recebeu recentemente visita do pré-candidato Fernando Haddad em seu apartamento, em Higienópolis.

O deputado se arriscará pela primeira vez na disputa pela administração da cidade que o "adotou" --mudou-se de Cachoeira Paulista (212 km de SP), nos anos 1990, por sugestão do ex-governador Franco Montoro.

Chalita afirma querer ser prefeito para resgatar o centro e, assim, "recuperar a autoestima do povo". Ideia que inclui a possibilidade de derrubar o elevado Costa e Silva, o Minhocão, herança de Paulo Maluf.

O que mais o agrada na cidade?
São Paulo tem uma população guerreira. Fica três horas no ônibus e no metrô, faz integração, vai de um lado para o outro. Em qualquer horário tem gente trabalhando. Vim de uma cidadezinha, onde não tem prédio. São Paulo não dorme.

E o que mais o irrita?
A cidade é suja, mal cuidada, as calçadas estão feias. Fui a pé ao Pacaembu e, ao lado do estádio, está tudo destruído. Meu sonho é andar a pé em São Paulo. Uma cidade fica mais rica quando as pessoas ocupam os espaços públicos.

Como se locomove na cidade?
Mais de carro. Quando vou para a zona leste, uso o metrô. Onde moro [Higienópolis] tem metrô mais ou menos perto.

Andaria de ônibus?
Está muito ruim. Andaria, já andei, mas não é confortável, não é bom. É um desafio para qualquer governante fazer com que a classe média ande de ônibus.

Qual outro serviço público utiliza?
A biblioteca Mário de Andrade, o Centro Cultural São Paulo. O serviço de saúde não, pois tenho plano. Mas visito hospitais para ver a situação, pois é uma das áreas mais doentes de São Paulo.

Se ganhar, vai recorrer ao helicóptero para escapar do trânsito?
Claro que, dependendo do lugar e da agenda, talvez precise usar. Mas, se você se fechar numa redoma, não vê o problema. Então, tem de andar, de ver onde está o problema.

Há algum projeto de outra cidade que pode ser adotado aqui?
Curitiba melhorou muito a área do transporte, fez um trabalho fantástico com os ônibus, de ocupação de espaços públicos. O Rio está fazendo a revitalização portuária, que eles chamam de Porto Maravilha. São modelos para São Paulo.

Derrubaria o Minhocão?
Tentaria, faria um projeto da revitalização do centro de oito a dez anos. Uma das mudanças seria na parte de baixo do Minhocão. Acho viável, até por PPP [parceria público-privada]. Se os empresários acreditarem em projetos de curto, médio e longo prazos, não vão economizar dinheiro para isso.

E a Nova Luz?
Acho que você não consegue investir muito numa área pequena.

A cracolândia tem solução?
A cracolândia é uma chaga que uma cidade com o orçamento de São Paulo não poderia ter. É preciso colocar faculdade, teatros, iluminação. Em relação à internação de crianças que usam crack, tem de ser compulsória. Claro que você precisa saber para onde levá-las. Não são lixo humano. Têm de ser cuidadas.

Quem foi o melhor prefeito de SP?
Ixi... A Erundina [1989-92] fez coisas muito boas na periferia, na educação. O programa de mutirão que o [Mário] Covas [1983-85] fazia na periferia conseguiu unir a população. Acho que todos os prefeitos que passaram, uns mais, outros menos, deixaram algo positivo.

E o pior?
[Risos] Olha... Vamos pular, depois ela [aponta para a assessora] briga comigo.

Como avalia a gestão Kassab?
Houve ações boas no primeiro mandato, a Cidade Limpa foi um marco. Nesta segunda gestão, ele abandonou a cidade. Temos 140 mil crianças na fila da creche. Não vemos projetos para o trânsito, como garagens subterrâneas. Ele virou um prefeito com preocupações imobiliárias. Prefeito tem de gostar de ser prefeito.

Leis como a do Psiu podem tirar a vocação boêmia da cidade?
São Paulo tem de ser uma cidade boêmia e com vida noturna para atrair turistas, mas de modo organizado. Deve ser uma cidade viva, mas com proteção acústica para que as pessoas possam dormir.

Há algum excesso hoje?
Me preocupam bares na porta de escolas, que não poderiam vender álcool.

Tem medo de São Paulo passar vergonha na Copa?
Tenho. O aeroporto é vergonhoso. Dia desses voltei de uma viagem e a fila para estrangeiros era quilométrica. Um turista que fica três horas no aeroporto não vai voltar, vai achar a cidade um caos.

Se eleito, qual será sua marca?
Gostaria de revitalizar o centro. Isso não significa não cuidar da periferia, mas o centro tem de ser o modelo de uma cidade que conseguiu recuperar a autoestima do seu povo a partir do ponto onde a cidade nasceu.

O que não vai faltar no gabinete?
Gentileza. Vou tratar bem as pessoas.

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