No início de 2011, começava uma novela no mundo da tecnologia envolvendo dois grandes protagonistas do mundo virtual. De um lado, os hackers. De outro, a divisão de games da Sony. Tudo se iniciou quando o hacker George "GeoHot" Hotz, 21 anos, conseguiu destravar e expor o sistema do PlayStation 3. Em represália, a Sony processou o garoto, que criou um blog chamado "GeoHot foi processado" antes de entrar em um acordo confidencial com a companhia. Este era, no entanto, o pontapé de uma guerra muito maior.
Nos dias que se seguiram, o grupo de hacker Anonymous comprou a briga de GeoHot e prometeu contra-atacar a Sony. Apesar do acordo, o garoto entrou na briga novamente, postando no blog dele a seguinte mensagem: "A partir de 11/4/11, estou me juntando ao boicote à Sony. Nunca comprarei outro produto da Sony. Eu encorajo todos a fazerem o mesmo. E se você comprou algo da Sony recentemente, devolva-o. Porque você não boicotaria uma empresa que faz isso com você? Há muito mais por vir nesse blog.".
O episódio ficou conhecido como "Operação Sony". Durante o mês de abril, a Playstation Network e outros serviços da companhia foram constantemente atacados. A onda de ataques expôs os dados de mais de 70 milhões de usuários e enfureceu a Sony, que precisou tirar todo o sistema do ar sob a alegação de que o serviço estava passando por uma atualização corriqueira, negando veementemente a ação hacker contra o sistema da empresa.
O grupo Anonymous, fomoso por operações como a "Avenge Assange", que visava "vingar Julian Assange", líder do Wikileaks e a "Payback", que derrubou os servidores dos sites da RIAA e MPAA, entidades representativas das indústrias de música e cinema dos EUA, muniu-se contra a gigante dos games. "Vocês (Sony) abusaram do sistema judicial para tentar censurar as informações sobre como os seus produtos funcionam. VocÊs vitimaram seus próprios usuários ao ter posse e compartilhar as informações. Ao fazerem isso, vocês violaram a privacidade de milhares de pessoas inocentes", afirmaram em um comunicado divulgado pelo site AnonNews.
O comunicado, em tom ameaçador, deu sequência ao afirmar que a Sony praticava um "negócio corrupto", que transparecia a filosofia corporativa que nega aos clientes o uso total e o controle sobre os produtos que eles compram e, por direito, têm a posse. "Talvez você devesse alertar os seus clientes de que, na verdade, eles estão alugando os seus produtos?", indagava o comunicado.
O sistema do Playstation 3 ficou fora do ar por várias semanas. A Sony assumiu publicamente, em meados de abril, que o sistema realmente havia sido atacado. O sistema da companhia foi completamente restabelecido em junho de 2011, sob a pena de ter os dados de milhões de usuários expostos em todo o planeta. O caso não teve um fechamento "oficial", mas mostrou a força dos hackers na web, exemplificou a necessidade de reflexão sobre os direitos autorias e sobre a segurança online e deixou, como saldo negativo, a confiança dos usuários atingidos abalados.