Com inspiração regional, joias alagoanas fazem sucesso ao redor do mundo

03/04/2012 03:58 - Turismo
Por Redação

Hoje presente em 17 países, além de estampar capas de revistas e programas televisivos, a empresa criada pelas irmãs Renata e Jeanine Fontan começou somente como um passa tempo da dupla, formada no curso de arquitetura. A ideia inicial da Caleidoscópio, agora especializada nas chamadas joias artesanais, era apenas criar peças diferenciadas, que até então não eram encontradas à venda nas lojas da capital alagoana.

Não demorou, contudo, para que os itens chamassem a atenção das amigas, que começaram a encomendar as bijuterias. Logo a mãe das duas, Mailda Fontan, também foi envolvida no negócio, que, em 2013, completa 15 anos de existência, fora o período em que funcionou de maneira informal. Atualmente, são 22 artesãs trabalhando no empreendimento – um novo grupo ainda está em treinamento para integrar a equipe.

“Queremos estar com 30 funcionárias até junho ou julho. Estamos com uma demanda grande, já que as feiras desse ano foram muito boas. Só posso aceitar pedidos a partir de julho, pois minha produção já está toda vendida. Como são peças artesanais, elas têm uma produção mais demorada e por isso precisamos de mais gente trabalhando”, diz Renata, acrescentando que uma artesã leva em média dois anos para ser formada.

O tempo de produção é variado e, em alguns casos, pode chegar a até dois dias. Apesar do crescimento da empresa, a primeira peça é sempre confeccionada pelas sócias, responsáveis ainda por todo o design das coleções, que misturam pedras, cristais e metais banhados a ouro e prata. Além disso, também são empregadas miçangas de vidro e até mesmo itens de coco.

Os preços variam de R$ 28 a R$ 1.500 e, ao todo, são cerca de 500 criações por ano. Mensalmente, são confeccionadas em torno de 1.100 peças. “Lançamos duas coleções maiores, outras intermediárias e ainda uma de festa. As maiores possuem cinco famílias e cada uma geralmente tem um colar e uma pulseira mais elaborados e, depois, os que ficam no meio termo e os mais simples. Tentamos contrabalancear bastante”, expõe ela.

Parceria internacional

Com um forte apelo étnico, as peças fazem sucesso não só no Brasil, mas também ao redor do mundo. Um dos motivos é a parceria firmada entre a empresa e a fábrica Swaroski, que, além de fornecer os cristais para as alagoanas, também vende as joias criadas por Renata, Jeanine e Mailda Fontan em suas lojas. As bijuterias são exportadas para Hong Kong e, de lá, enviadas para vários países.

“Eles também divulgam nosso nome em eventos em Nova Yorque, Paris, e nos ajudam a fortalecer a marca. O padrão de qualidade, no entanto, é muito alto. Tudo é avaliado com uma lupa e, se houver um trinco no cristal, a peça é rejeitada. Nossos itens têm que ter um acabamento perfeito, já que, se não tiverem a qualidade exigida, eles são devolvidos e nós é que arcamos com os custos”, afirma Renata.

A Swaroski também fornece material de pesquisa para que as irmãs saibam de antemão todas as tendências de moda. “Isso permite que tenhamos a informação sempre fresca. Ainda vamos a Paris duas vezes ao ano para expor e pesquisar Depois disso, adequamos tudo ao nosso cotidiano. Se está na moda algo mais indígena, não vamos buscar inspiração no índio americano, mas sim nas nossas raízes”, diz.

A aceitação das peças tem sido boa, inclusive no mercado internacional. De acordo com Renata Fontan, as exportações já representam 30% do faturamento da empresa – o restante é dividido entre as vendas de atacado e varejo. Além da fábrica de cristais austríaca, o empreendimento alagoano também possui clientes em locais como Suécia, Cingapura e Emirados Árabes, para onde os produtos são enviados diretamente.

“A Caleidoscópio cresceu muito. Não esperávamos isso, mas também tivemos a ousadia de investir. Em 2005, por exemplo, decidimos começar a fazer feiras no exterior e, desde então, tivemos um crescimento muito bom. Conseguimos pegar esse nicho do mercado. O que demorou mais, inclusive, foi achar quem era e onde estava nosso público. Depois disso, tivemos um crescimento grande tanto no Brasil quanto no exterior”, ressalta Renata.

Inspiração regional

A empresa já é famosa em várias partes do mundo, mas é de Alagoas que continua saindo a inspiração para criar as bijuterias – daqui saem ainda os botões de coco usados em muitas das peças. O conceito também é bastante influenciado pelo Estado, que empresta suas belezas e manifestações cultuais a muitas das coleções. A próxima já está até decidida: será baseada na mestra de renda de bilro Clarice Severiano, falecida no último dia 10 de março.

Renata explica a escolha. “Trabalhamos juntas na cidade de São Sebastião, onde dei consultoria. Gostava muito dela e tudo será inspirado na renda que ela fazia. Não vamos usar diretamente a renda, mas as pulseiras serão inspiradas nos formatos dos bicos, nos designers dela”, diz. “Isso será uma continuidade da nossa inspiração, que remete bastante a Alagoas, de onde pegamos emprestados nomes de folguedos, praias, comidas”, acrescenta.

A iconografia alagoana é, inclusive, um dos temas da última coleção lançada pela família Fontan, que se inspirou principalmente nas redes de pesca e nos mariscos encontrados no Estado. Além disso, o conjunto traz ainda referências a Veneza e Florença, na Itália, e a Minas Gerais – todos locais de viagens realizadas pelas irmãs e pela mãe.

Junto com os bons negócios, a inovação tem trazido também outros frutos para as empresárias. Em 2006 e 2009, a Caleidoscópio foi agraciada pelo Sebrae com o Prêmio TOP 100 de Artesanato. Outras premiações conquistadas pelo empreendimento foram o I Prêmio de Comércio Exterior Brasil – França e o 4º lugar no concurso mundial Swarovski Design Contest, conquistado duas vezes, em 2006 e 2008.

“Tudo isso é um reconhecimento do nosso trabalho, que já desenvolvemos há tanto tempo. Este ano, também fomos indicadas ao Prêmio Mulheres Empreendedoras do Sebrae. Quem ganhou foi a empresa de criação de jacarés, mas achei o resultado justo. Não conhecia esse trabalho e achei bem legal. Já estou até pensando em uma coleção com o couro do animal”, diz Renata, já pensando nos próximos passos para o negócio.

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