Você sabia que os manguezais são um dos ecossistemas mais importantes do planeta e, ao mesmo tempo, um dos mais ameaçados? O Brasil possui mais de 12 mil km2 de áreas contínuas de manguezais, sendo, nesse aspecto, o principal do mundo. Milhares de espécies dependem desse ecossistema, que é a base de todos os outros ecossistemas do planeta, uma vez que é um berçário de espécies marinhas.
Essas e muitas outras informações fazem parte do documentário No rumo do Uçá, produzido pela Assessoria de Comunicação do Ministério Público Federal e Núcleo de Biodiversidade do Ibama, em Alagoas. Em exibição na grade de programação da TV Assembleia, o documentário tem previsão de lançamento em DVD em Abril, em comemoração ao Dia do Planeta Terra.
Durante um ano, o jornalista Wladymir Lima e o engenheiro Florestal Nazir Salman, percorreram todo litoral alagoano, a procura de exemplos de degradação, mas também de personagens que ilustrassem os efeitos da devastação sobre o ser humano: principalmente as famílias de pescadores tradicionais e catadores de caranguejo.
De acordo com o diretor do vídeo, que também é analista de comunicação do Ministério Público Federal, o trabalho só foi possível porque tivemos o total aval da procuradora da República Niedja Kaspary, autora de uma ação contra uma devastação em área de manguezal, que resultou num acordo (TAC – Termo de Ajustamento de Conduta), obrigando a empresa infratora promover a compensação ambiental.
Segundo Wladymir, do mesmo acordo, surgiram outros produtos, todos com viés educativo-informativo. Foram eles a Cartilha-jogo ABC do Mangue, vencedora do Prêmio Nacional de Comunicação 2011. e o livro Recuperação dos Manguezais em Alagoas, de autoria do engenheiro agrônomo Paulo Auto, também servidor público do Ibama em Alagoas.
“Como ainda havia a obrigação da prensagem de DVDs de cunho educativo relacionado ao mangue, o MPF, numa excelente iniciativa da procuradora Niedja Kaspary”, pontua o jornalista Wladymir Lima, “ Achamos por bem sugerir que a produção do conteúdo fosse feita por nós mesmos, uma vez que dispomos de recursos técnicos e humanos para isso”. Entendendo a importância da atuação do órgão não só na fiscalização mas na prevenção, procuradora deu todo o aval para a realização do vídeo.
A produção executiva e consultoria técnica ficou a cargo do engenheiro florestal do Ibama, Nazir Salman. Além do auxílio indispensável dos engenheiros Paulo Auto e Waldemar Vergara. Para Nazir, muitas vezes o Ibama e o próprio MPF são vistos pela sociedade como os xerifes da questão ambiental, e até com certa antipatia. O que a população precisa entender é que nossos quadros são compostos de técnicos altamente gabaritados e com liberdade de atuação sem vinculação política. A nossa política é a preservação do meio ambiente.
Nazir cita o caso do polêmico estaleiro Eisa, que pretende ser construído na na maior área contínua de manguezal do Estado. “Ninguém, em sã consciência poderia ser contra a vinda de uma obra dessa magnitude, que tantos benefícios traria para o Estado, para a economia, fixando mão de obra, colocando Alagoas no cenário nacional do desenvolvimento e da tecnologia de ponta. Mas, porque construir justamente numa área de imensa importância, primeiro para a sobrevivência e milhares de famílias que dependem do mangue e, em segundo lugar, praticamente erradicando a principal atividade econômica hoje em Alagoas, que é o turismo. Isso não parece sensato. E há alternativas, sem dúvida.
O jornalista Wladymir Lima, que também acompanha o caso do estaleiro desde o início, tem opinião similar ao do engenheiro agrônomo. “ Querer torcer contra a vinda de uma grande obra para o Estado é sem sentido e nem merece mais comentários.
O que acredito que a população tenha que levar em conta é outra coisa mais profunda, que vai além dos discursos políticos de ocasião. Sabemos que o Estado padece de um mal que aportou aqui com as caravelas de Cabral, que é a miséria humana, num solo tão fértil para a monocultura da cana-de-açúcar, hoje a base da economia alagoana, mas que produz 95% para a exportação. E o que fica para o trabalhador? Trabalho similar às condições de escravo, como vemos todos os dias. Isso é distribuição de riqueza? Precisamos sempre questionar isso.
E embora o documentário não se aprofunde nessas questões - pelo contrário, tenta ser leve, como forma de seduzir o público leigo sobre o assunto para buscar mais informações sobre o ecossistema que é vital para todos nós – ele aponta alternativas econômicas muito mais humanizantes do que o notório degradante trabalho do corte da cana, por exemplo.
O documentário
O resultado é um documentário de 23 minutos, em forma de manifesto a favor da manutenção da biodiversidade do manguezal, explorando também as potenciais riquezas que a floresta proporciona, como por exemplo a própolis vermelha dos manguezais de Alagoas, produto único do mundo, que vem chamando a atenção de cientistas do mundo inteiro e que já tem um valor comercial elevadíssimo.
De acordo com um especialista do assunto, que dá depoimentos ao documentário, o engenheiro agrônomo Mário Calheiros, enquanto em Alagoas a própolis é vendida em média por 15 reais, no Japão, esse preço pode chegar à 115 dólares. “É como se a gente estivesse dormindo em cima de uma mina, passando fome por ignorância, por falta de capacitação”, desabafa.
Estimativas apontam que o custo inicial de um apiário nos manguezais de Alagoas não excede seis mil reais. Para um pequeno catador de caranguejo, o pescador. Com uma caixa apenas, e um investimento de mil reais, é possível já começar a produzir vários produtos. Como o mel, a cera, o pólen, a geleia real e a própolis vermelha doa manguezais de Alagoas.
Habitat
Considerado habitat para várias espécies, marinhas terrestres,a além de aves e plantas, os manguezais sofrem diversos tipos de ameaça, a principal delas, a construção civil. “Uma vez aterrado um manguezal, temos uma área degradada definitivamente”, afirma a arquiteta urbanista Regina Coeli Marques, que também participa do documentário.
A mensagem do documentário vai além de questões pontuais, como afirma o diretor, que também montou, roteirizou e filmou boa parte das imagens do vídeo. “Por se tratar de trabalhamos na perspectiva de fazer um projeto que reverberasse além de um caso específico, é um vídeo, ou um filme, se assim preferirem, que aborda mais do que uma questão factual, mas um contexto. Uma situação geral, que infelizmente vai se acirrar ainda mais, com as construções que estamos vendo por todo o litoral norte, por exemplo”, afirma. "O que precisamos questionar é o tipo de desenvolvimento que estamos buscando", finaliza.
O engenheiro Paulo Auto reforça a tese, também defendida pela arquiteta Regina Coeli, de que enquanto a nossa opção de desenvolvimento for privilegiar o asfalto e o concreto simplesmente, sem abrir os olhos para que o desenvolvimento se dê com preferência à vida humana, cada hectare de manguezal destruído vai representar efeitos nocivos para toda a sociedade.
Um desses efeitos, citados pelos especialistas já é bem visível, com o avanço do mar em toda a costa brasileira. É sabido que as raízes aéreas dos manguezais possuem uma função muito importante como amortecedores do impacto das ondas, deixando fluir para suas áreas alagadas só o suficiente para que haja a mistura da água salgada do mar com a dos rios, proporcionando um verdadeiro caldo para o surgimento da vida.
Num dos últimos depoimentos do vídeo, do maricultor Josafá Batista de Moura, que há 14 anos passou a cultivar ostras nos manguezais, reduzindo enormemente o impacto sobre o ecossistema, temos bem uma noção do que as comunidades ribeirinhas pensam a respeito do habitat do qual fazem parte: “Não destrua o manguezal, conserve bem o manguezal, porque o manguezal é uma maravilha! É uma coisa que Deus criou então mantenha essa maravilha no mundo!.
No link a a seguir você pode assistir ao trailer do documentário: http://www.youtube.com/watch?v=RNHuifHUksI