ONU diz que 1,5 milhão de sírios precisam de ajuda alimentar

10/03/2012 05:59 - Brasil/Mundo
Por Redação

As Nações Unidas indicaram nesta sexta-feira que mais de 1,5 milhão de pessoas precisam de ajuda alimentar na Síria, em mais um sinal de agravamento da crise política vivida no país de 22 milhões de habitantes. O anúncio da porta-voz do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários chega pouco após a visita de Valerie Amos, chefe dessa divisão da entidade, ao país. Mais cedo, ela destacou que a Síria não está recebendo ajuda internacional suficiente para atender aos afetados pela repressão do governo aos protestos.

O governo do presidente Bashar al-Assad, cuja renúncia é exigida pelos manifestantes, concordou com uma "avaliação limitada" para averiguar as necessidades mas urgentes da população. Ativistas dizem que os ataques das forças do regime durante a sexta-feira deixaram mais de 40 mortos em todo o país.

As mortes ocorrem no mesmo dia em que o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, o ex-secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, chegou a Damasco. Ele deve se reunir com Assad neste sábado, quando argumentará por um "acordo político". Na última quinta-feira, Annan disse que uma intervenção militar contra o país só tornaria a situação pior. Sua posição ecoa o que o presidente americano, Barack Obama, disse na terça-feira, ao classificar uma potencial intervenção militar dos Estados Unidos contra Damasco como "um erro".

Avaliação limitada
Em uma entrevista coletiva concedida na Turquia, Amos informou que pediu acesso ilimitado às áreas mais atingidas pelos confrontos, mas o governo sírio pediu mais tempo. "O governo concordou com um exercício de avaliação limitada que será conduzido pelas agências da ONU e autoridades sírias, o que vai nos dar algumas informações sobre o que está acontecendo no país", disse.

No entanto, ela afirmou que a organização continua pressionando para ter mais acesso. "Continuamos precisando de um compromisso mais sólido que vai nos permitir ter mais informação sobre o que está acontecendo." Amos também visitou campos de refugiados na fronteira entre a Síria e a Turquia, onde estão 11 mil sírios.

Protesto
Nesta sexta-feira, milhares de pessoas teriam voltado às ruas das principais cidades da Síria para protestar contra Assad. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, baseado na Grã-Bretanha, ocorreram grandes protestos nas cidades de Deraa, Latakia, Homs, Hama, Deir Ezzor e Aleppo. O grupo de ativistas do Comitê de Coordenação Local (CCL) informou que 46 pessoas foram mortas no país nesta sexta-feira, sendo 22 apenas em Homs e outras 11 em Idlib, perto da fronteira com a Turquia. Outras cinco foram mortas em Deraa, quatro em Hama, duas em Damasco, uma em Latakia e uma em Aleppo.

O Observatório Sírio afirmou que soldados, com o apoio de tanques, estão se reunindo em Idlib, para atacar o Exército Livre da Síria, a principal força militar rebelde do país. Alguns ativistas temem que Idlib possa ter o mesmo destino que o bairro de Baba Amr, em Homs. Os relatos não podem ser verificados, por causa da restrição à presença da imprensa internacional na Síria. No fim de fevereiro, a ONU estimou em 7,5 mil o número de mortes na repressão do regime aos protestos que pedem a renúncia de Assad, iniciados há quase um ano.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente
Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. Uma ONG ligada à oposição estima que pelo menos 8,5 mil pessoas já tenham morrido, número superior aos 7,5 mil calculados pela ONU.
 

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