Entre a doçura de um poeta e a bravura:100 anos sem Bráulio Cavalcante

10/03/2012 12:45 - Maceió
Por Redação

Há exatos cem anos, completados sábado (10), um dos mais aguerridos democratas e também um dos mais doces poetas alagoanos teve sua vida ceifada pelas forças militares que apoiavam a continuidade de Euclides Malta à frente do Governo de Alagoas, em 1912.

Filho do município sertanejo de Pão de Açúcar, a pessoa em questão é Bráulio Cavalcante, assassinado na Praça dos Martírios quatro dias antes de completar 25 anos, em meio ao seu discurso de oposição à oligarquia que governou o Estado por mais de uma década.

“Por conta da boa oratória, carisma e inteligência, Bráulio foi convidado a ser orador oficial da campanha de Clodoaldo da Fonseca, à época, oposicionista do Governo Euclides Malta”, explica Homero Cavalcante, sobrinho-neto de Bráulio, enfatizando sempre o “gene de amor pátrio” do tio, que, segundo ele, foi o que o fez aderir ao movimento oposicionista.

Apesar do fim trágico, o episódio sangrento marca, segundo texto do historiador Golbery Lessa, publicado no site Repórter Alagoas, a queda da política oligárquica no Estado, seguindo o rumo que já estava tomando toda a conjuntura nacional daquela época.
Em seus escritos de poeta, são inúmeras as marcas do patriotismo de Bráulio. Um exemplo simbólico é o soneto “Ode a Alagoas”, no qual, segundo Homero Cavalcante, ele convida o povo alagoano a lutar pela democracia. São alguns versos: “Terra que eu amo tanto, Levanta-te, por fim, do horror da oligarquia! Enxuga o imenso prato! E varre a tirania!”.

Bráulio é dono de vasta bibliografia literária dispersa em jornais e revistas antigos do Brasil e do mundo, bibliografia essa que está sendo tema de pesquisa do escritor Etevaldo Amorim, num trabalho conjunto com Homero Cavalcante, e apoiado pelo Gabinete Civil do Estado. “Ainda estamos em fase de coleta de informações, mas o intuito é reunir boa parte da obra e fazer uma publicação na Revista Graciliano Ramos, por ser um veículo da imprensa oficial do Estado”, pontua Etevaldo, ressaltando que uma das motivações da pesquisa é o fato de ser ele conterrâneo do poeta.

Homenagens ao poeta-político

Apesar da morte prematura e da obra dispersa, Bráulio Cavalcante continua admirado, sobretudo em sua terra natal. “Para nós, pão-de-açucarenses, Bráulio Cavalcante sempre se constituiu na referência maior dentre os filhos da terra, pelo muito que fez em sua curta passagem terrena”, opina o secretário-chefe do Gabinete Civil do Estado, Álvaro Machado, também conterrâneo e entusiasta admirador do poeta.

Segundo Etevaldo Amorim, o nome de Bráulio Cavalcante está imortalizado com a denominação de vários logradouros públicos. “Em Pão de Açúcar, a principal avenida da cidade, onde é localizado um busto do poeta, tem seu nome. Em Maceió, a praça onde se acha a Sede da OAB, mais conhecida como Praça do Montepio, também tem o seu nome, além de outro busto”. Esse segundo busto, ressalta Homero Cavalcante, está “em posição de tribuno, com o dedo indicador apontado, fazendo menção ao grande orador que ele era”.
Para saber mais

A obra de Bráulio até agora levantada compreende o conjunto de sonetos “Reino do Som”, que pode ser encontrado no Arquivo Público de Alagoas (APA); os dramas “A Viagem do Sonho” e “Teatral”, disponíveis em arquivo pessoal de Homero Cavalcante e em publicação do antigo jornal alagoano O Gutemberg, presente no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL); além outros poemas e romances.
Sobre a vida do autor, há ainda informações disponíveis nos livros “Terra do Sol, Espelho da Lua”, de Etevaldo Amorim; “ABC das Alagoas”, do historiador Francisco Reynaldo Amorim; e em “Monografia de Pão de Açúcar”, de Aldemar de Mendonça.

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