A ascensão feminina na política, impulsionada pela Reforma Eleitoral, está refletida no Poder Legislativo Alagoano, principalmente em âmbito municipal. Na Câmara de Vereadores de Maceió agora elas são cinco, após a eleição de Rosinha da Adefal para a Câmara Federal e de Thaíse Guedes para o Legislativo Estadual, que também conta com a participação de Flávia Cavalcante.

A vereadora Tereza Nelma lembrou que a lei que garante às mulheres maior participação nos partidos políticos precisa ser cumprida efetivamente e não apenas às vésperas das eleições, já que segundo ela, muitas não têm condições de se partidarizar, embora tenham o desejo de se tornarem candidatas.

“As leis precisam avançar. Os partidos não devem se ater apenas aos 30% de vagas previstas para a filiação das mulheres. Estou no meu segundo mandato e a primeira atitude que tomei para participar das decisões políticas foi me filiar, trabalhando pelo social. Precisamos mostrar nossas bandeiras de luta para a sociedade”, ressaltou.

Segunda ela, a relação com as demais vereadoras na Câmara ainda é complexa, devido às diferenças de interesses das bancadas das quais elas fazem parte. Mas, Tereza Nelma acredita ser necessária a superação das divergências, em prol dos interesses femininos. “Tem que haver uma superação partidária. Precisamos ser mais unidas e ter mais autonomia”, afirmou.

A vereadora lembrou os desafios que teve que superar em 2011, como os problemas de saúde que a afastaram do cargo, mas que em nenhum momento a fizeram desistir de implementar seus projetos no legislativo municipal, como o dia de combate ao câncer de mama, comemorado no dia 17 de novembro.

“Vivi momentos de dificuldade e mesmo em tratamento, tentei ficar na Câmara, onde os homens são maioria. Ás vezes falta clareza para aprovação dos projetos, como o que garante a nossa participação na Mesa Diretora, por meio de uma mudança na Lei Orgânica. Duas mulheres deveriam compor a mesa, mas isso não aconteceu e fui contra a atual formação”, disse.

Há nove anos no Legislativo Municipal de Maceió, a médica e vereadora Fátima Santiago também lembrou a militância política em prol da mulher. Para ela, existem muitos desafios a serem vencidos pelas mulheres na conquista dos espaços de poder, destacando que Alagoas foi proporcionalmente o estado com mais vereadoras eleitas.

“As mulheres conquistaram o direito ao voto e vivem avanços significativos. Mesmo assim, a quantidade de mulheres na política está distante do ideal. 30% das vagas nos partidos não é o bastante. A Heloísa e a Tereza têm muitos projetos que beneficiam as mulheres, mas poucos têm êxito”, ressaltou.

Entre os projetos importantes que beneficiam as mulheres maceioenses, ela destacou o aumento da licença maternidade para as servidoras municipais. “Esse projeto passou dois anos para ser aprovado. Tem também a questão das creches, importantes para a mulher trabalhadora que tem filhos”, informou.

No entanto, Fátima Santiago lamentou que projetos importantes voltados para a saúde da mulher, como o que prevê a vacina contra o HPV, sejam barrados. “É preciso um número de vereadoras proporcional ao de homens. O HPV é um vilão no combate ao câncer de útero. Ás vezes conseguimos sensibilizar os colegas no início, mas nas primeiras votações os projetos são barrados”, afirmou.

Município e Judiciário

Em Alagoas, dos 102 municípios, 14 são administrados por mulheres, do Sertão ao Litoral do Estado. Para a prefeita de Flexeiras, Silvania Cavalcante (PP), a atuação das mulheres na política alagoana se concretiza no número de candidatas que disputarão as eleições este ano.

“O trabalho está sendo valorizado e o que nos deixa mais satisfeitas é o reconhecimento sendo visto e admirado por outras mulheres, que buscam o caminho da política para desempenhar seus trabalhos”, disse Silvania.

A gestora destacou os desafios encontrados no trabalho de administração em alguns municípios, devido o preconceito ainda enfrentado por algumas prefeitas no interior do Estado. “Aqui temos um histórico de mulheres à frente da Prefeitura, mas em algumas cidades isso não ocorre e já soube muito dos preconceitos enfrentados por outras prefeitas, o que acaba dificultando a administração ainda mais”, colocou.

Porém, o preconceito visto pela prefeita não foi obstáculo para a magistrada da 17ª Vara Criminal da Capital, Ana Raquel Gama. Ela foi a primeira mulher escolhida para integrar o colegiado de juízes especializado, composto por homens, que visa combater o crime organizado no Estado.

Em uma análise pessoal, segundo Ana Raquel, no Poder Judiciário a mulher tende a trabalhar com mais rigidez e determinação para não deixar vim à tona o preconceito que vem de outras gerações. “O trabalho é mais rígido para não transpor aquele preconceito secular: olha, só porque é mulher”, opinou a juíza.