Os remendos no asfalto, o atendimento nos hospitais públicos, o transporte coletivo, as escolas... Tudo parece irritar o jornalista Celso Ubirajara Russomanno (PRB), 55. "Fico
o tempo todo pedindo para atender paciente. Consigo atendimento porque tenho influência. Isso é um absurdo."

Filho de procurador e enfermeira -ambos servidores públicos-, o morador do Morumbi, na zona oeste, vai concorrer pela primeira vez à prefeitura paulistana --em 2000, ele perdeu a disputa em Santo André (SP).

Segundo Russomanno, ele teria se candidatado ao cargo em eleições anteriores se não tivesse sido barrado por PPB e PP, seus ex-partidos. Com receio de ser preterido de novo, migrou para o PRB no ano passado, rompendo aliança com o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP). "Nem vou tecer comentários, já briguei tanto com ele..."

Sobre o seu novo partido ser ligado a evangélicos, ele, que diz ter sido batizado católico, afirma: "Não é um partido da igreja [Universal]. Alguns são protestantes, outros são evangélicos e católicos".

Como foi sua infância na capital?
Cresci na Vila Mariana, zona sul. Minhas lembranças são da rua Cubatão quando não tinha a [avenida] 23 de Maio. A casa da minha avó dava para o Ibirapuera e, atrás, havia uma plantação imensa que chegava até o parque. Eu brincava ali.

O que mais o agrada na cidade?
Me identifico com o parque Ibirapuera. Me sinto em casa, gosto de ir pedalar. Não tenho tido muito tempo, mas adoro.

E o que mais o incomoda?
A saúde. As pessoas reclamam de ficar quatro meses para conseguir uma consulta, depois oito meses para o exame. Marca de novo o médico, mais três meses, volta e já se passaram sete, oito, dez meses, às vezes um ano. Isso não existe!

Incomoda como homem público ou como cidadão?
Como morador também. Comecei a vida política devido à morte da minha mulher por falta de atendimento [em um hospital particular, em 1990]. No Instituto Nacional de Defesa do Consumidor [que preside], as reclamações são muitas. Fico o tempo todo pedindo para atender paciente. Consigo atendimento porque tenho influência. Isso é um absurdo.

Como se locomove na cidade?
De carro, né?

Há alternativas para o trânsito?
Sou paciente, não adianta querer passar por cima. Mas poderíamos ter um trânsito melhor. Há ações importantes, como a não circulação de caminhões em horários de pico. Mas, se não melhorar o transporte coletivo, não tem saída. Por que você vai deixar o carro em casa se vai passar o pão que o diabo amassou?

Se ganhar, vai recorrer ao helicóptero para escapar do trânsito?
Sou piloto. Quer ver a carteira? Adoro voar, mas não para resolver o problema de São Paulo. Quero andar na rua, ver buraco. Me irritam as companhias que abrem buraco e fecham com desnível. Faço uma aposta: se andarmos três metros aqui atrás [da av. Indianópolis] sem desnível, retiro minha candidatura.

Utiliza algum serviço público?
Dá para usar algum? Escola pública é de boa qualidade? Se eu for prefeito, vou três dias da semana para a rua, sem avisar. A gente cobra do serviço privado eficiência, e o serviço público não precisa dar nada. Já viu serviço público de São Paulo ser autuado pelo Procon?

Há algum projeto de outra cidade que pode ser adotado aqui?
Tem muita coisa legal. Quer fazer o trânsito fluir? Faz como Nova York: o táxi é barato. Para o táxi custar barato, o poder público tem de agir. Se eu puder tomar táxi, atravessar a cidade e pagar um preço decente, vou deixar o carro em casa.

Derrubaria o Minhocão?
Não, porque você vai só criar mais um problema de trânsito. O estrago que o Minhocão tinha de fazer já foi feito na década de 1960. O cara que vai derrubá-lo é um insano! Quanto isso vai custar? Então, tira mais uma vez da saúde, da educação, da segurança pública.

A cracolândia tem solução?
Fizeram a operação da maneira errada. Tem a polícia de um lado da rua e do outro lado gente usando droga. A população pensa: "O cara pode consumir em frente à polícia que ninguém faz nada".

Mas a solução é a polícia?
Não, calma, não é só isso. Por que eles estão em grupo? Porque podem entrar e sair do grupo quantas vezes quiserem levando droga. Se a polícia fizer de meia em meia hora uma revista, com abstinência todo mundo vai procurar ajuda.

Quem foi o melhor prefeito de SP?
Faria Lima [1965-69]. Foi um prefeito ativo. O Jânio Quadros [1953-55 e 1986-89] foi um bom prefeito também, ia para a rua ver o que estava acontecendo. Via coisas erradas e botava pra quebrar.

E o pior?
O Kassab abandonou a cidade... Não sei se foi o pior prefeito, mas ia bem na primeira gestão e, na segunda, abandonou a cidade para fazer um partido.

Tem medo de São Paulo passar vergonha na Copa de 2014?
Tenho. Não adianta só construir o Itaquerão. Precisa fazer chegar ao Itaquerão. E o sistema viário para a zona leste? Já saiu de manhã cedo da zona leste?

Se for eleito, qual será sua marca?
Serviço público de qualidade. A burocracia vai acabar. Sabe quanto tempo demora para se aprovar a planta de um prédio que deveria levar até 60 dias? Três anos. As pessoas fogem de São Paulo.

O que não vai faltar no gabinete?
Gente trabalhando.