Prisão de Carlinhos Cachoeira foi 'superdimensionada', diz advogado

01/02/2012 00:19 - Brasil/Mundo
Por Redação

O advogado do empresário Carlinhos Cachoeira, Ricardo Sayeg, disse que vai entrar ainda nesta quarta-feira (29) com um pedido de habeas corpus pedindo a libertação de seu cliente. Cachoeira foi preso nesta quarta pela Polícia Federal em uma operação para desarticular uma quadrilha de exploração de jogos com máquinas caça-níqueis.
Carlinhos Cachoeira ficou conhecido pela suspeita de pagar propina a Waldomiro Diniz, então assessor da Casa Civil no começo do governo Luiz Inácio Lula da Silva, escândalo revelado em 2004. Ele foi preso na madrugada desta quarta na casa onde mora em Goiânia. Ele foi levado para a superintendência da PF em Brasília por volta das 15h.
De acordo com Sayeg, a prisão de Cachoeira foi “superdimensionada”. “O crime estruturante, que é contravenção penal, deve ser punido com prisão simples. Me parece que o pedido de prisão preventiva é o cumprimento antecipado de pena. (...) Isso é caso para Juizado Especial de Pequenas Causas.” O advogado disse que Cachoeira não tem antecedentes criminais.

Sayeg alegou ainda que não teve acesso ao inquérito. Ele afirmou que seu cliente “está tranquilo” e que se manteve calado durante depoimento à PF porque não estava na presença de seu advogado.
O advogado disse que vai entrar com o pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal, em Brasília, e que pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o pedido seja negado.
Operação Montecarlo
A Polícia Federal começou a cumprir, nesta quarta 82 mandados judiciais, dos quais 35 são de prisões preventivas e temporárias, dentro da Operação Monte Carlo, de combate à exploração de jogos de azar com máquinas caça-níqueis.
Os mandados de prisão nesta quarta foram expedidos para serem cumpridos em cinco estados: Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo, Tocantins e Rio de Janeiro. Do total, 37 são relativos a busca e apreensões e outras dez são referentes a condução coercitiva (detidos para esclarecimentos).

Segundo a Polícia Federal, o esquema de casas de jogos com máquinas caça-níqueis funcionava havia 17 anos, sob o comando de Cachoeira. De acordo com a superintendência da PF no Distrito Federal, o grupo que explorava jogos ilegais tinha cerca de 80 pessoas, das quais 40 agentes públicos (policiais civis, militares e servidores da Justiça) e 40 civis. Segundo a PF, não havia elementos para se pedir a prisão preventiva de todos, mas somente de 35.
Durante a operação, foram apreendidas 200 máquinas caça-níqueis, além de documentos e computadores. A quantidade de dinheiro apreendido não foi informada.
A PF informou que a investigação foi iniciada há 15 meses. Nesse período foi constatada a existência de uma espécie de “franquia” do crime, por meio da qual seriam dadas autorizações para a exploração dos pontos de jogos a donos de galpões clandestinos, localizados em cidades goianas.
De acordo com a PF, o esquema opera quatro casas de jogos em Valparaíso (GO) e duas em Goiânia. Em uma delas, informou a polícia, o faturamento líquido foi de R$ 3 milhões nos últimos seis meses.

O Ministério Público Federal de Goiás afirmou que os policiais ligados à quadrilha recebiam propina para fechar casas de jogos rivais a fim de evitar a concorrência no território dominado pelo suposto esquema. O trabalho incluía ainda, segundo o MPF, “suporte” para garantir o funcionamento das casas de jogos e evitar fiscalizações.
“A sua existência [da quadrilha] por mais de uma década foi suficiente para montar e organizar uma estrutura estável e entranhada no seio do Estado, com, inclusive, a distribuição centralizada de meios de comunicação para o desenvolvimento das atividades, com o objetivo de inviabilizar a interferência das agências sérias de persecução”, afirmaram por meio de nota os procuradores responsáveis pelo caso.
Além de delegados da Polícia Federal, são suspeitos de integrar a rede criminosa membros da Polícia Civil de Goiás e Brasília, Polícia Rodoviária, Polícia Militar de Brasília e servidores da Justiça de Goiás. De acordo com o MPF, a propina era paga aos servidores de acordo com a função. Um soldado da PM, por exemplo, recebia cerca de R$ 200 para fazer a segurança das casas de jogos. Já delegados da PF receberiam R$ 4 mil por mês.
“O recrutamento do braço armado do Estado pelo crime tornou, em outras palavras, o Estado e a própria sociedade mais vulneráveis", avaliaram os procuradores.
Perguntado sobre o eventual envolvimento de autoridades, o procurador Daniel de Resende afirmou que dependederá da investigação. "Há uma possibilidade de contatos com autoridades políticas”, disse.
A Polícia Federal informou que houve várias tentativas de investigação ao longo dos últimos 17 anos que não tinham desfecho por causa do envolvimento de policiais, que vazariam informações aos criminosos a tempo de eles se protegerem.
Os presos e indiciados responderão, na medida de suas participações, pelos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, evasão de divisas e violação de sigilo profissional, além da contravenção penal de exploração de jogo de azar.
 

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