A vitória de Junior dos Santos sobre Cain Velasquez em 12 de novembro deste ano ratificou a presença de Luiz Dórea como um dos principais treinadores de MMA da atualidade. O ex-técnico de Acelino "Popó" Freitas ingressou nas artes marciais mistas ao trabalhar com os irmãos Nogueira e Anderson Silva, além de criar a principal característica de Cigano, atual campeão mundial dos pesos pesados. Prestes a buscar novamente o cinturão dos meio-pesados no UFC 140, Lyoto Machida foi quem recorreu agora ao "guru" da nobre arte do boxe no Brasil.

Há 32 anos dentro do mundo do boxe, Luiz Dórea conversou com exclusividade com o Terra. Ele é alvo dos lutadores brasileiros que necessitam exercitar a modalidade, como ocorreu com Lyoto Machida nos últimos meses. No próximo sábado, em Toronto, no Canadá, o lutador brasileiro terá pela frente o fenômeno e atual campeão Jon Jones, em confronto que valerá a disputa do título dos meio-pesados. Diante de um adversário tão completo como o americano, o karateca recorreu ao mais reconhecido professor de boxe do País na atualidade.

Especialista em contra-ataques e muito técnico dentro do octógono, Machida recuperou-se com estilo dos questionamentos sobre o seu jogo ao nocautear a lenda Randy Couture de maneira espetacular no UFC 129, em abril. O brasileiro, pressionado por duas derrotas (Maurício Shogun e Quinton "Rampage" Jackson), conseguiu aposentar o veterano e "furar a fila" para disputar o cinturão contra o fenômeno americano de 24 anos.

No entanto, não apenas Lyoto representará o boxe de Dórea neste final de semana. Dois dos principais alunos do professor que reside em Salvador, Antônio Rodrigo Minotauro e Antônio Rogério Minotouro, também entrarão no octógono, mas com objetivos distintos. O primeiro busca retornar ao grupo dos tops da categoria dos pesados; enquanto o meio-pesado precisa de uma atuação convincente (obrigatoriamente uma vitória) para evitar a terceira derrota seguida e uma possível demissão no evento.

Embalado pela vitória histórica sobre Brendan Schaub no UFC Rio, em agosto deste ano, "Big Nog", como é chamado Minotauro nos Estados Unidos, terá pela frente a tão esperada revanche contra Frank Mir, o responsável por tirar o título interino do brasileiro em 2008.

Já Minotouro, pressionado pelas derrotas para Ryan Bader e Phil Davis, encarará Tito Ortiz, outro atleta que necessita do resultado positivo para evitar a quebra de contrato com a organização comandada pelos irmãos Fertitta e Dana White.

Confira parte da conversa exclusiva do Terra com Luiz Dórea:

Terra: O boxe ensinado por você se consagrou ainda mais no MMA depois da vitória do Cigano sobre o Cain Velasquez, e o Lyoto também recorreu ao senhor. Como ocorreu esse contato?
Luiz Dórea: Conheço o Lyoto há algum tempo. Sempre conversamos, trocamos uma ideia. Aí um amigo nosso em comum facilitou as coisas. Desde a luta contra o Couture, ele se mostrou interessado em treinar comigo. Ele tem uma grande equipe, uma grande família.

Terra: Qual sua análise sobre este período de treinamento com o Lyoto? Como ele esteve nessas últimas semanas antes da disputa pelo cinturão?
Luiz Dórea: O Lyoto tem uma habilidade fantástica. A forma como ele luta é a que gosto, com inteligência e muita técnica. Como treinador viso muito isso, e agora tive a oportunidade de trabalhar com ele. É uma pessoa que admiro muito, e que sempre ajudarei quando precisar.

Terra: Além do Lyoto, você terá mais dois pupilos dentro do octógono no sábado...
Luiz Dórea: Sim sim, e estou muito confiante nos três. Todos estão bem treinados, na melhor forma possível. O Rodrigo (Minotauro) voltou a lutar como campeão, está muito bem treinado, com certeza teremos três vitórias.

Terra: E o Minotouro, ele entrará bem pressionado...
Luiz Dórea: Ele é muito experiente. A pressão existe, mas há muita segurança no que ele faz. O treinamento foi muito bem feito, ele está em ótima condição, muito bem treinado. O grande Rogério se dedicou muito, fez um trabalho duro e será recompensado com a vitória no final de semana, com toda a certeza absoluta.

Terra: O senhor é reconhecido como um dos principais professores da "nobre arte" atualmente no MMA. Quando abriu a academia e começou a ministrar aulas de boxe?
Luiz Dórea: Eu abri a academia em 1990, quando meu treinador na época morreu e não tinha um lugar para treinar. Meu primeiro aluno foi Luís Cláudio Freitas, irmão de Popó. Conseguimos crescer rapidamente, já que em um ano tínhamos um atleta na Seleção Brasileira; e em 1992 um atleta na Olimpíada, o próprio Luís Cláudio. Depois conseguimos fazer o Popó ser campeão mundial. Estou há 32 anos no boxe, consegui todos os títulos que sonhei, menos a medalha olímpica.

Terra: E o contato com o MMA, como você conheceu o esporte?
Luiz Dórea: Conheci o MMA em 2003, com o Rodrigo Minotauro, que era meu aluno desde os 15 anos; antes de ingressar no jiu-jitsu, ele lutava boxe. Depois de certo tempo, ele foi para os Estados Unidos dar aula de jiu. Nesta época, eu treinava o Popó, aí o Rodrigo me ligou para perguntar se eu poderia trazer o boxe para o MMA. Fizemos algumas adaptações e conseguimos. Depois veio o Rogério Minotouro; aí o Anderson Silva... Temos uma equipe de alto nível, atletas como Rodrigo Minotauro, Rogério Minotouro, Anderson Silva, Demian Maia... é o Brasil forte.

Terra: Você acredita que o MMA e boxe são concorrentes? Você, que já teve contato com mais alto nível promocional do boxe, acha que o "boom" do MMA, do UFC, prejudicou?
Luiz Dórea: Estão querendo fazer as coisas da maneira errada. Faltam promotores profissionais. Pô, temos um campeão mundial (Éverton Lopes). Para formar novos ídolos temos que ter patrocínio, promoção de boxe. Hoje temos mais promotores de MMA, porque talentos temos nos dois; somos campeões mundiais no masculino e no feminino no boxe. Os amadores conseguem ser bem remunerados, com bolsa atleta federal, patrocínio de uma estatal. Temos inúmeros lutadores talentosíssimos como, Robson da Conceição, Adriana Araújo, Yamaguchi Falcão, mas não temos promotores.

Terra: E qual a principal diferença na organização e no "show" promovido pelos dois esportes?
Luiz Dórea: O boxe é voltado para o lutador, voltado para o Julio César Chávez, para o Mike Tyson, para o Popó. O UFC é um grande show. Criaram uma grande marca e deu certo. No UFC tem tanta gente que há peça para repor quando um lutador se machuca, no boxe não. O que importa é o principal, o Popó, o Julio Cesar Chávez...

Terra: O senhor está consagrado por conta dos pupilos, agora tem o Lyoto também que exercerá o boxe sob a sua tutela. Já foi procurado por estrangeiros para deixar a Bahia?
Luiz Dórea: Já chegaram algumas propostas, mas a Bahia é minha casa, adoro minha terra. Já faço um trabalho reconhecido nos Estados Unidos, lutei lá e levei vários atletas, como o Popó. No MMA faço um trabalho de base muito bom, pegamos os lutadores antes de serem campeões, é bacana contribuir com o nosso trabalho e ver que deu resultado. Tive vários convites, mas minha família é a Champion e a Team Nogueira. Tenho um trabalho feito, família, não tem como fugir para outra equipe. Posso ajudar o quanto é possível os brasileiros.