Vilmário Rodrigues dos Santos, de 18 anos, preso após cometer furto e tentar se refugiar no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Maceió,perdeu a visão depois de ser atingido por uma bala de borracha no dia 06 de setembro deste ano, na Casa de Custódia, conhecida como Cadeião.
Ele foi ouvido na tarde desta terça-feira (06), no Forum Desembargador Jairon Maia Fernandes, no Barro Duro, e não se encontra mais no sistema prisional. O juiz da Vara de Execuções Penais, José Braga Neto, garante apuração para esse e demais casos de lesões dentro dos presídios.
A cena foi chocante. Na 6ª Vara Criminal, três audiências marcadas. Ninguém conseguia entender a presença de um jovem que chegou ao Fórum tendo a mãe como guia e aguardava no corredor para ser ouvido.
Até que veio a surpresa, inclusive, para os policiais arrolados como testemunhas, no caso, os que fizeram a prisão. Vilmário era o réu. A equipe do Cadaminuto se dirigiu até os familiares para ver se não havia equívoco quanto à informação recebida, mas os familiares confirmaram.
Incontrolada diante da situação do filho, dona Maria Lenice sequer conseguia falar. Mas, Vilmário aproveitou a oportunidade para lamentar a sua realidade e falar da perda da visão ocorrida no local onde o Estado tem a obrigação de oferecer segurança ao público carcerário.
“Eu já estava pagando pelo que fiz e não merecia isso. Agora estou aqui com dezoito anos e a vida praticamente perdida. Nasci com visão e agora não posso ver mais nada. E não vou falar que foi acidente, porque não foi. O meu sofrimento não tem preço. Minha vida acabou”, disse chorando. A família disse que tem medo de morrer.
O juiz José Braga Neto afirmou conhecer o caso e assegurou já ter solicitado ao responsável pela Direção das Unidades Prisionais (DUP) um relatório sobre o caso.
“Conheço o caso e será apurado até o fim. Além desse, todos os outros que lesionaram reeducandos. Não se admite que além de já ser punido pela lei perdendo a liberdade, os presos sejam vítimas de violência dentro do sistema prisional. Temos de mudar a forma de ação e se houver confirmação de que foi intencional, tomaremos todas as providências. Isso garanto. Não vou admitir violência dentro do sistema prisional”, ressalta o juiz Braga Neto.
A versão do ex-reeducando
Vilmário havia sido selecionado para distribuir a alimentação dos presos e teria se aproximado da grade para perguntar se já havia chegado. Um agente teria dito que ia olhar.
“De repente chegou outro e perguntou o que eu estava olhando, respondi, mas ele não gostou e ficou me xingando. Quando olhei já estava apontando a arma para mim. Ficou uns cinquenta segundos mirando, até que apertou o gatilho e atingiu meus olhos. Eu não posso mentir, foi assim que perdi a visão", afirma o jovem.
Relembre o caso
Vilmário foi preso após uma tentativa de furto a um estabelecimento no centro de Maceió, numa madrugada de sábado para domingo. Ele foi avistado pela vigilância que conseguiu interceptá-lo antes de empreender fuga com um ventilador e moedas.
Os vigilantes algemaram Vilmário e saíram à procura de um amigo dele que estaria envolvido na ação criminosa. No entanto, enquanto se deslocaram do estabelecimento ele conseguiu se soltar das algemas e fugir. Com o objetivo de não ser alcançado, ele entrou no Quartel do Comando Geral, onde foi preso e levado para a Central de Polícia. Depois foi remanejado para o sistema prisional, onde passou pela Casa de Custódia e, após ficar cego, pelo Cirydião Durval e também pelo Baldomero Cavalcanti.
Bala de borracha
Conforme pesquisas, da mesma forma que uma bala normal, ela tem uma cápsula com pólvora para impulsioná-la e uma ponta - a parte que atinge o alvo. A diferença é que a ponta não é de metal como nas balas comuns, mas de borracha. A vantagem desse material é que ele não perfura a pele. Mas a bala de borracha pode causar ferimentos graves se atingir o rosto, o que aconteceu com Vilmário Rodrigues, ou até mesmo ser fatal em pontos como a garganta. Por isso os tiros só devem ser dados na direção das pernas.
A arma, que passou de não letal para de baixa letalidade, é usada geralmente para conter conflitos.