Tráfico, crime organizado, violência, polícias. O coordenador do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), promotor Luís Vasconcelos, utilizou todos esses elementos para pintar um quadro sobre a realidade de Alagoas, falar de combate, estrutura e carências. Ele ressaltou o individualismo das polícias, dizendo enxergá-lo como grande barreira no enfrentamento aos criminosos.
Vasconcelos fez um comparativo sobre a Alagoas de hoje e a do passado para que seja entendido o avanço da criminalidade, tendo as drogas como as maiores responsáveis, e suas trágicas conseqüências. Na sua concepção, o Estado hoje, obviamente, é muito mais violento do que há 20 anos, porém Maceió não pode ser vista como uma grande metrópole.
“O problema aqui é sério. Maceió não tem estrutura física, planejamento, assistência social. Muitas pessoas partem para cá pelo êxodo rural, por serem também mal assistidas no interior e assim pensam em tentar a sorte na cidade grande. E aí, a falta de oportunidade faz com que fiquem mais vulneráveis a aliciação. ”, lembra.
A droga e os crimes
Transparecendo muita preocupação, o coordenador do Gecoc fala sobre as drogas, evidenciando a proliferação do crack, para ele, também, o mal do século. Antigamente, afirma o promotor, a maconha predominava, porém não causava tanta violência. “A maconha apenas entorpecia, mas não gerava violência. A cocaína existia, mas era nos grupos de poder aquisitivo mais elevado. Depois veio o pior, o crack, a potencialização do vício, a proliferação da droga nas comunidades mais carentes”.
Ele ressalta que toda violência gerada nos dias atuais são conseqüência, quase sempre, do envolvimento das pessoas com drogas. “Antes víamos muito crime passional, por cachaçada, mas agora tudo é relacionado a conflitos de drogas”.
Nas comunidades carentes, explica Vasconcelos, quem tem maior visão se torna logo um pequeno traficante da região. Achando-se com ‘poder’, mata e morre. “Quando eles são os traficantes, dominam a área, se sentem os poderosos e aplicam as regras. Matam concorrentes, viciados por causa de dez reais. Os viciados, por sua vez, têm poucas opções, matam e roubam para manter o vício e quitarem as dívidas. Está aí toda a desgraça. Somando-se a isso, Alagoas é um estado com poucos investimentos nos últimos anos”.
O crime organizado
Logo no começo da conversa, o coordenador do Gecoc fez questão de resumir em uma frase o poder do crime organizado; “Ele ultrapassa as barreiras de qualquer criminoso”. E fala da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) como a que mais se espalhou nacionalmente, já com número considerável de seguidores em Alagoas.
“O PCC consegue mostrar para os adeptos que é melhor está integrado no contexto. É uma facção organizada e com especializações. Cada um com uma função e obrigação de cumpri-la com eficácia. Só há uma maneira de confrontar o crime organizado, é mexer no dinheiro da quadrilha, desestabilizá-la”.
Mas, para Luis Vasconcelos não há a mínima possibilidade de exterminar o tráfico sem investir numa polícia de fronteira. “Não produzimos nada, tudo vem de fora. Se não houver maior rigidez nas divisas, estaremos sempre enxugando gelo. O tráfico, que gera a criminalidade, não vai acabar. Há uma grande relação custo/benefício, tem muitos adeptos e rentabilidade”, enfatiza. Ele confirma a forte influência do PCC na capital alagoana, no sistema prisional e na periferia, bem como em algumas cidades que a facção tem como base.
As polícias
O coordenador do Gecoc é enfático ao falar sobre a atuação das polícias alagoanas e diz que há uma necessidade urgente de elas trabalharem mais integradas. “As polícias precisam acabar com o individualismo para combater o crime organizado”, ressalta Vasconcelos.
Ele garante que “quando os comandos conversam entre si, trocam mais informações, acertam”. Para ele, isso tem de ser feito “porque as organizações criminosas estão cada vez mais com seus grupos especializados e as polícias têm de ter os seus também”.
Relata Luís Vasconcelos que o problema é a divisão do Estado em regiões, de maneira diferente para cada instituição (Polícia Civil e Militar) e, por isso, elas não demonstram interesse em se aproximar. “O delegado não conversa com o coronel, o major, o comandante do batalhão porque as regiões são diferentes quando poderiam somar e mostrar grandes resultados”.
Sobre a existência de agentes da segurança pública envolvidos com a criminalidade, do tráfico a assaltos e crimes de homicídio, ele diz que só tem a lamentar. Mas, pede para a sociedade ter o cuidado de não generalizar; “No tempo da gangue fardada, por exemplo, toda a polícia foi conceituada de forma generalizada, mas isso não pode ocorrer. Quanto aos policiais de má conduta cabe a apuração e a punição necessária. Infelizmente eles existem”.
Autoavaliação
O coordenador do Gecoc afirma que a “estrutura não permite fazer tudo ao mesmo tempo”. Diz que investigações requerem tempo, mas diz que o ano de 2011 pode ser considerado “altamente positivo”.
“Estamos satisfeitos com o que foi feito. Pudemos mostrar à sociedade que agimos com seriedade, responsabilidade e respeito. Isso permite que tanto a sociedade e a imprensa continuem nos passando informações importantes que resultam em grandes operações, nos permite agir”, fala.
Ele afirma esperar muito mais de 2012. “No próximo ano pretendemos conseguir mais resultados, levar à Justiça mais pessoas envolvidas com o crime. Sobre as ações, para nós cada operação serve para vermos o que faltou, o que é preciso ser reciclado e onde é possível encontramos mais parcerias”, declara Vasconcelos.
O promotor faz questão de lembrar a 17ª Vara Criminal como uma grande parceira. “Ela é de fundamental importância no combate ao crime em nosso Estado e é com essa parceria que temos atingido os nossos objetivos”, conclui o coordenador do Gecoc.