Foi preciso a pior enchente em meio século encharcar a Tailândia, matando mais de 500 pessoas, para lavar o estereótipo de uma paisagem de templos, praias e prostituição e decantar nos olhos ocidentais a realidade de um país que é um órgão vital da cadeia de suprimentos da indústria de tecnologia global. As águas das monções conseguiram estacionar as máquinas de 14 mil fábricas do país, que é o segundo maior produtor de discos rígidos do mundo, afogando o já asfixiado mercado de computadores pessoais (PCs).
Um quinto da fabricação mundial de computadores será sacrificada no primeiro trimestre de 2012 por causa da escassez de HDs, previu a consultoria IDC. Desde que as inundações atingiram as linhas de produção, o preço desse componente essencial deu um salto estimado entre 20% e 40%. O Goldman Sachs advertiu que as remessas globais de PCs no próximo trimestre deverão cair 3% na comparação anual, em vez de crescer os anteriormente previstos 3,1%.
- Esse é um fenômeno da natureza do qual não podemos escapar. Nós vivemos numa época de mudanças climáticas - afirmou Surasawadi, demonstrando seu estoicismo.
A Tailândia produz entre 40% e 45% dos HDs do mundo e é a terra natal das maiores fabricantes globais. A Western Digital, a líder desse mercado, tem duas fábricas nos parques industriais de Bang Pa-in e Navanakorn , na região central do país. As duas plantas foram inundadas pelas enchentes. Segundo um porta-voz da Western, a tragédia trará um "impacto significante nas operações da empresa para atender a demanda por seus produtos no trimestre de dezembro.”
Segundo o correspondente do “The New York Times” no país, operários vestidos com coletes laranja-berrante tentavam salvar o que podiam da produção da Western nos andares superiores do complexo. Enquanto isso, “o andar térreo parecia um aquário e as baias que costumavam abastecer os caminhões se tornaram a morada de peixes”, escreveu o repórter do “Times”.
A destruição provocada pelo curso das águas ascende a escala econômica tailandesa. As inundações começaram no final de julho no norte do país, arruinando um quarto da principal safra de arroz do país. Em outubro, as enchentes desmantelaram os parques industriais e tecnológicos ao norte de Bangcoc. Agora é própria capital que está submersa, com o agravante de concentrar 12 milhões de habitantes e 41% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas e serviços produzidos pelo país) tailandês. O Banco Central do país reduziu de 4,1% para 2,6% a previsão de PIB para este ano e pode diminuir ainda mais caso as inundações, já que elas chegaram à capital.
Além da indústria de tecnologia, a produção mundial de carros também foi afetada pelas enchentes na Tailândia. O lucro da Toyota, que tem fábricas no país, caiu 18,5% no segundo trimestre fiscal, bem abaixo da expectativa dos analistas. A Honda também foi prejudicada. Por causa das águas, as duas montadoras tiveram que adiar os seus planos de acelerar a produção na Tailândia - um desejo nascido após a destruição provocada pelo terremoto seguido de tsunami no Japão. A hecatombe nipônica também havia prejudicado a produção de eletrônicos, com o colapso das fábricas de Sony e outras gigantes.
Seja qual for o desfecho das inundações na Tailândia, 2011 chegará ao fim como o ano em que as forças da natureza se impuseram à indústria hi-tech como quem quer lembrar que - não importa quanta tecnologia haja por aí - são elas que detêm o poder.
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