Perfis no Facebook lembram os mortos

01/11/2011 19:37 - Internet
Por Redação

Centenas de páginas do Facebook têm fotografias, poemas e recados da família e dos amigos que são atualizados com frequência. Mas elas são diferentes das demais por um motivo: os donos dos perfis já morreram. A rede social tem sido usada por pessoas enlutadas como um memorial para homenagear seus mortos.

A aposentada Valquíria Marques Azevedo dos Santos, de 64 anos, criou há dois meses uma página para o filho Wagner, que morreu em 1996, aos 15 anos. Ela posta recados quase todos os dias.

Além das fotos, Valquíria colocou a música preferida do filho e dados do time de coração, o Palmeiras. “Acho que o Facebook cutuca um pouco a dor, mas me faz bem ficar olhando a página. É como conversar com ele.”

Ela teve a ideia de criar o perfil quando viu o de outras pessoas mortas. Valquíria conta que toma cuidado para enviar solicitações de amizade. “Só faço isso com algumas pessoas. Sei que nem todo mundo quer receber o convite de uma pessoa que já se foi.”

A página Ju Amor Eterno é dedicada a Wanderley Pintão Bellinati Júnior, que morreu no dia 7 de agosto, aos 22 anos, em um acidente de carro. O perfil foi criado pela tia de Júnior e um grupo de amigos poucos dias após a morte. O pai, Wanderley, de 44 anos, além de postar e acrescentar mais material ao perfil, também mantém ativa a página que o rapaz tinha. Nas duas, são centenas de recados e fotos.

“Sinceramente, não sei se isso me faz bem ou mal porque toda vez que acesso, choro muito. Mas gosto de ver os recados carinhosos dos amigos dele. Isso me conforta”, afirma Wanderley. Ao contrário dele, a mulher prefere não acessar as páginas. Ele ainda não sabe se irá mantê-las. “Estou deixando o tempo correr para decidir o que vou fazer”, diz o pai.

No Facebook da dona de casa Alessandra Tavares Ramos Bandeira, de 36 anos, há uma remissão para um site criado para a irmã Priscila Tavares Ramos e a mãe Maria do Carmo Tavares Santos. Ambas morreram em 2009, com três meses de diferença.

O site, feito por profissionais, reconstrói toda a vida de Priscila. É tão detalhado que tem até o nome do perfume preferido da jovem. Ela foi assassinada pelo namorado. “Quem deu todas as informações para construir o site foi a minha mãe”, diz Alessandra. “Quando ela (a mãe) morreu, pouco depois, resolvi dar continuidade, homenageando as duas. Até hoje as pessoas deixam recados.”

A psicanalista Luciana Saddi, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, diz que a criação desses perfis reflete o que está acontecendo na sociedade. “Hoje, para você existir, tem de estar no Facebook e para a morte se realizar é preciso estar lá. Também é um jeito de elaborar o luto oficializando a morte na rede social.”

Monica Resende, coordenadora do curso de pós-graduação em redes sociais da Uninove, diz que essas manifestações são muito fortes e “reflexo de um mundo onde todo mundo fala com todo mundo”. Segundo ela, ainda não é possível saber se a prática é um modismo ou uma tendência que irá se estabelecer.

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