Imagens gravadas pela corregedoria do Detran mostram a ação de uma quadrilha suspeita de vender carteiras de habilitação no Rio. Uma operação da Polícia Civil prendeu, nesta sexta-feira (21), 30 suspeitos de envolvimento no esquema, entre eles despachantes, zangões (despachantes não oficiais), prestadores de serviço e funcionários do Detran.

Além operação “Contramão II” teve o apoio, ainda, do Ministério Público do Rio (MP-RJ).

Os criminosos conseguiram driblar a identificação digital em autoescolas e postos do Detran. Em dois anos, de acordo com a polícia, a quadrilha vendeu quase 5 mil documentos. As imagens divulgadas nesta sexta-feira mostram uma despachante e um instrutor de autoescola vendendo a habilitação para um motociclista.

O candidato sai da fila da prova prática e passa o dinheiro para a despachante. Pouco depois, o motociclista vai embora, sem prestar exame. Um documento comprova que o candidato foi aprovado, sem nenhum erro na prova prática.

Promotor pediu prisão de 52 suspeitos
O promotor de Justiça que coordenou o inquérito, Homero Freitas Filho, pediu a prisão temporária de mais de 40 pessoas. A despachante e o instrutor que aparecem nas imagens da corregedoria do Detran estão entre os presos. Também foi presa uma policial militar que trabalhava como examinadora do Detran.

A polícia ainda não divulgou o teor dos depoimentos. Sobre a prisão da policial militar, a PM informou que a aguarda um comunidado da Polícia Civil para tomar as providências cabíveis.

Segundo a polícia, os agentes apreenderam documentos, computadores e R$ 158 mil. Quase R$ 120 mil estavam na casa do chefe do posto do Detran de Rio Bonito, na Região das Baixadas Litorâneas, que está foragido.

Alguns suspeitos foram presos dentro dos postos do Detran, segundo a Polícia Civil. De acordo com a polícia, as fraudes foram identificadas em todas as fases de obtenção do documento, até mesmo na captação da impressão digital, quando os suspeitos utilizavam moldes de silicone para se passar pelo candidato.

Os presos serão indiciados por crimes como formação de quadrilha, corrupção e falsidade ideológica. Segundo a polícia, quem comprou a carteira de habilitação também vai responder criminalmente: “No âmbito administrativo, identificadas todas essas carteiras, essas carteiras serão cassadas, por que? porque elas foram obtidas de forma ilícita”, disse a corregedor David Anthony.

Suspeitos usavam moldes de silicone
A fraude era em todo o processo para a retirada da carteira de habilitação. Quanto maior o número de etapas que o candidato desejava pular, maior o valor cobrado, que variava de R$ 800 a R$ 4 mil. Quem pagava, era representado pelos criminosos em aulas e exames. Eles marcavam presença usando pedaços de silicone com as digitais dos candidatos.

“As digitais eram colocadas em silicones, que eles fraudavam a permanência na autoescola. A presença do candidato era confirmada sem a presença dele. Isso possibilitou uma série de aprovações sem a presença da pessoa”, disse o delegado titular da Delegacia de Defraudações, Gabriel Ferrando, ressaltando que mais de 50 cápsulas de silicone foram apreendidas em diversas autoescolas do Rio.
A primeira operação foi realizada em fevereiro de 2009. O corregedor Anthony Alves disse que participação popular através do Disque-Denúncia foi fundamental. Segundo o Ministério Público do Rio (MP-RJ), o documento era feito com material de alta qualidade e, assim, difícil de ser detectado.

O delegado Gabriel Ferrando afirmou que 90% dos principais suspeitos foram capturados. “Investigação não apontou liderança, mas sim diversas cabeças. A maioria, capturada”, declarou.

O subchefe da Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, ressaltou que a operação vai prosseguir e os números de apreensões e presos devem aumentar. De acordo com ele, a operação é realizada em 11 municípios e 27 bairros do Rio. São mais de 40 mandados de prisão e 64 de busca e apreensão.

Veloso também informou que a estimativa é de que o faturamento mensal das quadrilhas era de R$ 16 mil a R$ 700 mil. “Pessoas que não queriam ir ao posto pagavam R$ 400. Pessoas que não tinham sequer condições de fazer um exame pagavam até R$ 4 mil”, explicou ele.

O delegado lembrou ainda que, através desse tipo de fraude, criminosos com pendência de mandado de prisão podiam obter uma CNH legítima com dado falso. “Dai a importância de se desmantelar essa quadrilha”, disse.